TRANSFERÊNCIAS
Estamos em fim de época, logo, é natural que as transferências dominem as atenções e criem até algumas irritações nos adeptos mais apegados aos seus ideais. E, neste fim de época, tanto se refere à bola como à política.
Nada me surpreenderia se um destes dias Mário Soares fosse transferido de sua casa para a Carregueira, pois está a irritar muita gente, mesmo que essa mesma gente não ficasse nada mal, se fosse ela própria a ser transferida.
Aliás, Mário Soares já sabe muito bem como são essas transferências, pois passou uma parte da vida a ser transferido, sem que recebesse a verba do passe. Aliás, em alguns dos clubes onde jogou, recebeu pela medida grossa.
O seu camarada Manuel Alegre corre o mesmo risco. Também já devia saber que, com a democracia suspensa, as transferências ficam muito mais fáceis. E os destinos nem sempre são aqueles que o transferido prefere.
Agora, não percebo o que leva um ilustre reitor universitário, a arriscar a sua primeira transferência na vida, sujeitando-se a ter de deixar a sua universidade nova, por uma outra qualquer com vistas aos quadradinhos e podre de velha.
Há muitos outros ilustres discordantes na mesma situação, certamente bem cientes de que a situação é grave, sobretudo para eles, pois são pessoas que sabem e estão habituadas a pensar no que dizem, antes de o dizer.
Em contrapartida, todos os que não sabem o que dizem, os que não acertam uma, os que não pensam no que fazem, esses, estão atarefados a planear as transferências dos outros. E só saberemos delas, um dia de manhã, ao acordar.
Bom, mudando de campo. Já que Jesus não vai para o Porto, é quase certo que será Cardozo a transferir-se para o FCP, refúgio de todos os recalcitrantes de Lisboa. Terá, como outros tiveram, um futuro brilhante. Mas de bico calado.
Aliás, o bico calado, é agora condição para tudo. Para quem ainda não souber como é, que se prepare. Os empresários já estão a elaborar as listas de transferências. Portanto, quem não quiser ser transferido, que se porte bem.