Não sei se será correto dizer que o povo só contesta aqueles que não têm testa. É que a testa é o sítio onde as pessoas guardam a capacidade de criar coisas boas, ou onde armazenam ódios que tudo destroem.
Há pessoas com testa acima da média, em dimensão. Muitas delas, devido à falta de cabelo acima dela. Outras pessoas aparecem quase sem testa, porque escolheram tapar uma parte dela com mais ou menos madeixas.
Depois, ainda há os testas de ferro que não aguentam minimamente que alguém os conteste. Com testas dessas, nem os mais protegidos por boas armações conseguem fugir às cabeçadas nas portas do inferno.
A verdade é que a testa determina o comportamento das pessoas. Por exemplo, vejamos os assaltantes. Ao chegar ao local, há os que entram à bruta e há o, ou os, que ficam à porta, à espera do que der e vier.
Se as coisas correrem mal lá dentro, quem ficou à porta, dá o fora sem olhar sequer para trás. É evidente que isso só acontece com os assaltantes de casas públicas ou privadas. Sejam elas das famílias ou do estado.
Mas, para introito já chega. Agora vamos ao resto. Portas nunca acompanha ninguém para além da porta de entrada. Não sei se fica à espera de fugir, se fica para receber o produto do peditório dos parceiros.
Terminada a tarefa no interior, Portas vai para um lado, os parceiros vão para outro. Ele diz sempre que não fala do que se passou lá dentro. Os parceiros dizem que tudo correu como manda a sapatilha.
Ainda agora, naquele retiro de sábado no Mosteiro de Alcobaça, isso foi bem evidente. Ele não seguiu o caminho dos seus parceiros. Deixou-os afastar-se. Saiu sozinho, desviou-se do carreiro e seguiu pela vereda.
Portas só se compromete com avaliações sobre os peditórios já feitos e a fazer, quando todo o universo das casas tiver sido visitado. Até lá, deixa que todos se queixem e lamentem. Sobre isso não fala. Não é com ele.
Para quem entende destas coisas de parceiros e parcerias a explicação é simples. Quem não sabe pedir fica sempre à porta. Porque a consciência o impede de entrar e sujar a casa com a poeira dos seus sapatos.
Porém, o produto do peditório feito pelos parceiros é sempre bem-vindo. É para isso que há as parcerias. Diz o povo que tão pedinte é o que vai à vinha como o que fica à entrada. Portas diz que não. Pedir não é com ele.
Diz-se que Portas tem muito mais testa que todos os seus parceiros juntos. É verdade. Ele testa a capacidade de pedinchice desses parceiros e chega à conclusão de que o povo só contesta quem não tem testa.