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afonsonunes

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30 Set, 2013

O HERÓI DO PENTA

 

 

Não vão ser necessárias palavras finas e aos molhos, para descrever este fenomenal feito da nossa história democrática. Sinteticamente, o homem do dia de ontem alcançou os três, por cento, e conquistou o seu penta.

Haverá quem não valorize tais proezas. Mas quem as alcançou, não pode entrar em tamanha insensibilidade perante vitórias históricas, ou em modéstias miserabilistas de quem nunca conquistou nada.

Mesmo nos tempos difíceis que o país atravessa, o autor da proeza não pode deixar de ser devidamente recompensado, apesar de o ter sido há bem pouco tempo. Deve assumir já, o nível seguinte da sua carreira.   

O seu nome deve ser inscrito a letras douradas em cada um dos cinco locais onde ganhou tal notoriedade. Fica a comunicação social obrigada a difundir para todo o mundo, o feito que mais orgulho deu ao país.

Pede-se a outros conquistadores de pentas menores e de espécies bem menos nobres, que não entrem em jogos de interesses, com discussões estéreis sobre o valor de cada um deles. Porque não há penta como este.

 

 

 

28 Set, 2013

MAS QUE SOSSEGO

 

 

Desde que acordei na manhã do dia de hoje ainda não fiz outra coisa senão refletir. Deve-me ter ficado cá na ideia alguma coisa que ouvi dizer sobre o facto de o país todo se encontrar em reflexão.

Nessa balela é que eu não acredito, pois estou farto de saber que, quando muito, é dia de se guardar silêncio sobre a coisa que sabemos que vamos fazer amanhã. Ou sobre a coisa que muitos sabem que não vão fazer.

Portanto, pelo menos no meu caso, hoje é dia de não fazer muito barulho mas, sobretudo, é dia de desfrutar deste silêncio calmo e sereno, que não se repete em mais dia nenhum do ano. Até os matracas se retraem.

Tenho estado a refletir se o país não teria muito a ganhar, nos mais diversos aspetos, se todos os dias do ano fossem assim tão tranquilos. Até o maldito orçamento poderia ter muito menos conflitualidade.

Obviamente que estou a referir-me ao maldito do orçamento da minha casa. Convém prestar este esclarecimento, não vá algum fiscal da reflexão fazer uma interpretação abusiva da minha dissertação. Eu estou a refletir.

Para melhorar o nível refletivo, acabo de fechar os olhos, juntando assim o silêncio à escuridão. Não vejo melhor maneira de preparar o que vou fazer amanhã. Estou certo que, assim, ninguém o fará melhor que eu.

 

 

 

26 Set, 2013

HOJE E AMANHÃ

 

 

A conversa que temos vindo a ouvir nesta campanha eleitoral autárquica é em tudo semelhante à última campanha para as legislativas. Só que nestas, estava então tudo mal e ele ia por tudo bem.

Agora, pelo contrário, está quase tudo bem, e vai ficar ainda melhor, depois de domingo que vem. Isto, se não acontecer o terrível imprevisto de as forças destruidoras receberem ordem para lançarem tudo a perder.

Para os pessimistas, os que só veem desgraças, fica o recado de que os sacrifícios já feitos terão de ser redobrados, se negarem fazer o óbvio. O caminho é o que ele indica e voltar para trás é o regresso aos infernos.

A conversa está lançada e vai ainda durar hoje, quinta e amanhã sexta. Sábado é dia de recuperar a voz da rouquidão. Domingo é dia de esperar pela noite e depois, a conversa vai dar a volta como deu em tempos idos.

A partir de segunda-feira os bons sinaizinhos de sol vão esfumar-se como sonhos e vão aparecer as nuvens negras do nosso fado mentiroso. Tudo vai dar a volta, mas não aquela volta que ele nos prometeu esta semana.

Para a semana ficará muito claro que foi ele que, mais uma vez, tentou dar a volta à cabeça dos portugueses. Da outra vez, conseguiu. Desta vez, vamos ver. Na primeira quem quer cai. Na segunda só cai quem quer.

 

 

  

 

 

Passos já não sabe onde cortar mais do que já cortou. Já meteu a tesoura em tudo o que podia render acréscimo para as insaciáveis necessidades deste estado consumidor de todos os suores laborais dos cidadãos.

Entrou agora na fase de cortar todas as leis que lhe não satisfazem os instintos de poder ilimitado. Há que revogar, anular e legislar, segundo essa nova ordem de cortes para encurtar tudo o que ainda esteja à justa.

Contou agora com a preciosa ajuda de um homem que não entende, tal como Passos, esta sociedade que se queixa demais, que só se sente bem neste mar de lamúrias, neste pessimismo causador te todos os males.

E vai daí que sugira a toda a gente, políticos da oposição, cidadãos influentes do país, televisões, rádios, jornais, que falem mais (só?) de casos de sucesso, porque é assim que o país prospera e se torna feliz.

Depreendo eu, obviamente homem limitado, que o relato de tudo o que de mau temos no país deve ser deitado para trás das costas. O que é mau é para ser esquecido. Quem está mal que vá chorar na porta do cemitério.

É preciso que todos os cidadãos conscientes se mostrem felizes e contentes, mesmo que atolados na miséria. Nunca as televisões devem mostrar gente desesperada que chora. Ou mostrar crianças famintas.

Em lugar dos bairros onde faz dó entrar, devem ser mostrados os palacetes onde vivem os que se amanharam com o que não lhes pertencia. Ou as mansões dos que nunca serão atingidos pelos cortes.

Em suma, como já pouco mais há para satisfazer a gula de cortes infindáveis, está na hora de se começar, ou de continuar com mais afã, a sede de cortes na língua de todos aqueles que têm por missão informar.

 

 

 

24 Set, 2013

VOU PARA A ILHA

 

 

Efetivamente este é o pior local para se viver e para se estar neste período de loucura que o país atravessa. Em parte pela propaganda eleitoral que não nos deixa sossegar os ouvidos e a cabeça com o chinfrim generalizado.

Mas também pela doença que levou o país à triste situação de dependência dos excessos de uns tantos incuráveis da ‘bolite aguda’. Eles ralham, batem, enchem os jornais e as televisões com as suas diatribes.

Por mim estou desejoso de fugir de tudo isto quanto mais depressa melhor. Para isso, tenho de descobrir uma ilha sem política e sem bola. Está difícil mas tenho de a encontrar. Senão, fico mais ‘choné’ que estes.

Por aqui já anda tudo ao contrário. Aqueles que mais nos falam de seriedade são os que mais vemos fazer falcatruas por todos os lados. Os que mais recriminam os outros, são os que mais incriminados deviam ser.

No meu modesto entender, o senhor da ilha da Madeira tem toda a razão. Metia o país na ordem numa semana. Desde que lhe não dessem um tiro. É por isso que eu quero ir para a ilha, mas não para aquela.

E tenho mesmo de me despachar, pois não tarda que comecem para aí aos tiros. Na confraria da bola, o tiroteio vai começar de norte para sul. Na irmandade da política vai começar de sul para norte. Para mal do centro.

Finalmente, já encontrei a tão desejada ilha. Vou já fazer a mala. A Selvagem Pequena é o meu destino. No meio dos escuros rochedos, só espero encontrar aquela cagarra que já esteve em boas mãos.

É evidente que não espero que ela tenha ficado com algum vestígio de civilização agarrado às patinhas ou às penas. Há sempre o perigo de contágio, mas a força da natureza tudo limpa. Adeus, cá vou eu. 

 

 

       

22 Set, 2013

PASSOS DESADEQUADO

 

 

Para além de Passos e Portas os restantes portugueses já vão pensando que vivemos num país em que tudo o que nos rodeia está desadequado. Haverá ainda uns tantos no governo e seus amigos que ainda têm dúvidas.

Passos está desadequado ao cantar de sereia do seu vice Portas, visto que não consegue ver o que ele anda a apregoar na campanha que o faz vibrar como nos tempos idos. E que já vê como foi o CDS que operou o milagre.

Portas está desadequado ao estado de espírito dos reformados e dos agricultores, a quem tira tudo e a quem não dá nada, bem como da euforia das feiras e dos mercados, que já não dão para beijos e abraços.

Portas e Passos estão desadequados ao velho princípio de que quem governa não pode mentir. Como isso é o que eles fazem em todos os santos dias, já provaram que quem não mente, não pode governar.

O Marco Costa está desadequado ao estilo do ministro Moreira que o mandou calar. Mas também ao querer meter a troika no Rato, depois de lhes chamar coisas feias. Como se estes ratinhos prescindissem da troika.

O PM Passos está cada vez mais desadequado à governação de um país que o obriga a cumprir a Constituição. E mais desadequado ainda quando quer obrigar os juízes a cumprir os seus desejos sob ameaças veladas.

E ainda completamente desadequado quando continua a jurar a pés juntos que está a governar o país sem alternativas. Totalmente desadequado em relação à desadequação da austeridade que nos impõe.

 

 

 

21 Set, 2013

É SÓ UMA IDEIA

 

 

Acabo de rever no Expresso aquela fotografia de Cavaco com uma cagarra nas mãos em frente da boca, ostentando o sorriso mais aberto que alguma vez lhe vi. Até a cagarra parece feliz ao ver tanta felicidade.

O tamanho do sorriso, talvez mesmo do riso presidencial, mostra uma boca saudável, com dentes impecáveis, que me dão a certeza de que por ali passam palavras repletas de pureza e trincadelas perfeitas e vigorosas.

A fotografia é da célebre visita à Selvagem Pequena e também ela, a fotografia, tem muito de selvagem. Um homem politicamente selvagem, aprisionando, ainda que momentaneamente, uma cagarra selvagem.

Mas, hipocritamente, selvagem é também a ideia de retomar o falhado compromisso do pacto. É notório que o PSD é anti compromisso, seja ele qual for, e anti pacto qualquer, desde que meta o PS pelo meio.

É bom nunca esquecer que o PS foi isolado, quando do chumbo do PEC IV. Que o presidente apadrinhou, sem pedir então um compromisso ou um pacto anti FMI. Atitude que, afinal, deu os resultados que estão à vista.

Agora, quase todos os comentadores televisivos afetos ao PSD, vêm criticando asperamente o seu governo e o seu rumo. Mas, criticam o PS por não se juntar ao PSD e ao CDS, no interesse do país, dizem eles.

Muito curioso. Dizem que o rumo é um desastre e é ruinoso para o país. Mas querem lá o PS de mãos dadas com os destruidores do país. Por terem assinado um memorando que já nada tem a ver com este rumo.

Devem pedir ajuda a quem os ajudou. Os partidos à esquerda do PS. Pois foram esses quatro partidos que isolaram o PS. Agora, mesmo aflitos, que se desenrasquem e mostrem-nos o país que então idealizaram sem o PS.

O presidente quer um compromisso, agora? Vá lá uma ideia. Eleições agora, na condição de que se faça o compromisso com todos os partidos com assento parlamentar. Que façam então esse pacto tão desejado.

Presidente, PSD, CDS, PC e BE, sempre identificaram o PS, e continuam a identificar, como o seu inimigo de estimação, o alvo da descarga dos seus maus humores. Logo, é fácil fazerem um pacto duradouro entre eles.

É uma ideia estúpida não é? E difícil!... Mas é minha, e entendo que não sou só eu a ter ideias estúpidas. Mormente, quando se trata de pactos e compromissos, é preciso ter muito cuidado para não se cair no ridículo.

 

 

 

20 Set, 2013

Sim, comandante!

 

 

O comandante deu a boa nova à tripulação, depois de longa permanência no fundo do mar profundo, onde até os mantimentos começam a faltar, sem que se possa pescar uma alforreca, ao menos para encher a vista.

A tripulação sabia que estavam todos naquele aperto, rodeados de água escura por todos os lados, menos um, o do fundo, porque o comandante, teimoso que nem portas, insistiu em seguir uma rota desastrosa.

O nosso comandante anunciou agora pomposamente a saída do fundo. A tripulação, naquela luz mortiça interior, olhou à sua volta e não viu nada de novo. Nem sequer sentiu um abanãozinho da mudança de posição.

No entanto, alguém perguntou ao comandante onde estavam agora. A resposta não se fez esperar. Estamos quase, quase, no fundo. Mas um dia, se Deus quiser, havemos de chegar lá acima e respirar ar novo.

Já não temos quase nada, meu comandante, insistiu o interpelante, como é que chegamos lá acima e quando? O comandante pôs-se na posição de sentido e, engrossando a voz, disse, já saímos do fundo.   

Sim, meu comandante, disse o interpelante, também em sentido. Era sempre assim. O comandante fala e a tripulação come e cala. Só que a despensa estava vazia. Não havia nada para comer. Mas havia que calar.

As perspetivas eram realmente muito sombrias. O submarino tinha uma boa tripulação mas o comandante era teimoso como portas. Estava no fundo, com alucinações profundas, num submarino amarelo.

É um daqueles submarinos que a gente não sabe como chegaram cá, nem como foram pagos, nem tão pouco como é que este comandante se meteu nele. Agora, do fundo até à tona de água vai um mundo de ilusões.

 

 

 

 

 

Nem mais tempo nem mais dinheiro, diziam eles, tal como diziam que esta austeridade não tinha alternativas. Tal como ainda ontem diziam que estavam no rumo certo, no único caminho que levará o país à salvação.

Hoje, já deixaram de falar, com aquele ar de vitória sobre os pessimistas e sobre os profetas da desgraça, nos evidentes sinais de regresso ao crescimento e à vitoriosa luta contra o desemprego. Vinha aí tudo de bom.

Mas, pelos vistos, já não vem. Eles e o FMI erraram, mas agora, também eles, já chamam nomes ao FMI. Nomes feios aos seus professores, patrões e protetores. Eles, bons alunos, já deixaram de acreditar e confiar neles.  

Mas que raio de alunos são estes que tendo bajulado tanto os seus professores, chegando a suplantar as suas lições, chamam-lhes agora o que até aqui só chamavam a quem os contestava. Que raio de governo.

Que raio de presidente, que já pediu bom senso a quem sabe que o não ouve e não é capaz de exigir o mesmo bom senso, em primeiro lugar a si próprio, por não ter a coragem de mandar ao menos um recadito ao PM.

Que raio de gente é esta que, independentemente das suas opções políticas, não consegue acertar com um discurso sério e coerente, com medidas justas e convincentes, com verdades que não os envergonhem.

Mas, sobretudo, que não envergonhem o país. Por muito que os desavergonhados lá de fora se desfaçam em elogios que, na prática, são autênticos abraços de hipocrisia, com o punhal escondido na manga.

Estamos em período eleitoral, propício ao disparate. Quanto mais asneiras melhor, pensam todos eles. É confrangedor ver como o maior partido do governo diz tudo o que não faz. Mas que raio de partido e de governo.

 

 

 

 

 

Cavaco sempre teve uma forte tendência para mandar recados, uns, mais coisa e tal, outros coisa e tal a menos. Já todos conhecemos os recados que fizeram dores de cabeça a bons governantes ou a maus governos.

Também já saíram de Belém sensatos recados para as mais diversas instâncias internacionais. Agora, de lá saiu mais um com destino à troica que acaba de chegar ao nosso país. Um recado de curta distância.

Ao que li algures, o recado aconselhava bom senso aos avaliadores do estado do país. Desta vez não percebi lá muito bem o objetivo do recado. Então quem precisa de bom senso não são os nossos negociadores?

E, vá lá, também quem controla os nossos negociadores, obrigando-os a travar a fundo ao negociar a queda no precipício. Essa coisa do bom senso não deve pedir-se, quando quem o pede notoriamente não o tem.

Quando Cavaco envia recados sabemos o seu conteúdo, porque ele é divulgado. Mas, não me recordo de alguma vez ter tido conhecimento de respostas a esses recados. Mas elas devem ter existido, certamente.

No caso presente, em que Cavaco aconselha bom senso à troica, gostava especialmente de saber o recado de resposta. Não creio que o consiga. Mas, penso que a troica terá retribuído a cortesia dos votos de bom senso.

 

 

 

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