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afonsonunes

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14 Out, 2013

QUE GRANDE NOITADA

 

 

Rezam as notícias que estiveram todos sentados, dezassete horas, em volta de uma mesa, cada um com seu computador em frente dos olhos. Temos de convir que é muito tempo para quem não está habituado.

É verdade que não é inédito, mas também é verdade que tal só acontece quando o trabalho encrava. Ou seja, quando têm mesmo de fazer alguma coisa que se veja. Daí que precisassem de trabalhar mais todos os dias.

Depois, não há olhos que aguentem dezassete horas seguidas cravados num ecrã que, se calhar, até esteve em branco durante muitas horas. Resta saber se, no fim da noitada, já tinha algo de jeito na memória.

Preocupante é o facto de, segundo vozes vindas a público, haver entre eles, delinquentes, trapaceiros e malabaristas. Não estou a ver como é que se pode produzir trabalho em paz e sossego no meio de tal ambiente.

A menos que o trabalho desses proeminentes participantes fizesse mesmo parte da sessão, com vista a manter um ritmo diabólico a que a agenda obrigava. E, para que as espectativas exteriores não fossem defraudadas.   

Ao que consta, os delinquentes ainda não foram presentes à justiça. Provavelmente, porque as suas delinquências são de natureza benigna e haverá mesmo uma próxima recompensa para as estimular.

Quanto aos trapaceiros e malabaristas, tudo indica que devotaram o seu trabalho, durante curtos intervalos, a suavizar os olhos sobrecarregados pelos ecrãs repletos de algarismos e muitos espaços em branco.

No meio de tudo isto, há uma coisa que me intriga imenso. Se um sujeito grita na rua – vai trabalhar malandro – é logo abarbatado. Quem diz que estes artistas infiltrados no grupo, têm tais virtualidades, fica como estava.

Cá para mim, alguém está a perder qualidades. Quem tem o despudor de classificar com tanta clareza e ousadia gente que o país venera devia, de imediato, ser obrigado a emigrar para onde pudesse esfriar a cabeça.

Ao menos que tivessem um pouco de pena de quem esteve dezassete horas enclausurado. E ninguém gritou – vão trabalhar, malandros. Está cada vez mais difícil saber quem são os verdadeiros malandros.

 

 

 

12 Out, 2013

GRANDES PONTOS

 

 

Aos três pontinhos deitados na linha chamamos reticências e querem dizer que, depois deles, havia mais qualquer coisa a dizer mas que é melhor ficarmos por aí. Esta coisa da pontuação tem lá que se lhe diga…

Se fizer um desvio para a política também podemos encontrar três pontos, o que é um pouco mais que três pontinhos. São eles um maior, um primeiro e um vice. Depois deles, falta sempre de um ponto final.

Temos pois umas reticências e peras. Tudo o que lhes ouvimos tem reticências, para que não tenhamos a veleidade de interpretar de primeira as palavras que ouvimos. Ouvimos e pensamos, mas ficamos na mesma.

Quanto aos que andam à volta das reticências, não passam de vírgulas mal colocadas, embora tenham a pretensão de que merecem ser exemplares pontos de exclamação. Mas, vírgula é vírgula e sem pontos não é nada.  

Agora quem está mais na berra são mesmo os dois pontos. E que grandes pontos. Até parece que nem pertencem ao mesmo sinal de pontuação. Sempre na vertical, mas sempre a tentar colocarem-se por cima do outro.

Quando encontro um ponto e vírgula, algum dos muitos que andam pelas televisões, fico abismado com a facilidade com que eles seguem, como a vírgula manda, para logo travarem a fundo como manda o ponto final.

E o ponto de interrogação? Gosto particularmente dele. Parece que sabe tudo, mas pergunta tudo. Não afirma nada. Mas, dado o seu estatuto, também pouco interessa. Ele julga que sim. Vá lá, vá perguntando sempre.

Gostava de ver o ponto final tratado com o respeito que merece. Há muita gente que não sabe que ele existe. Não sabe que ele é o stop da escrita e da conversa. E que falta que ele faz a tantos pontos da nossa praça.

 

 

 

10 Out, 2013

ELITES

 

 

O Jornal de Angola disse que as elites portuguesas são corruptas e ignorantes. Não posso deixar de estar mais de acordo no que diz espeito à corrupção. Já não tenho tanta certeza no que respeita à ignorância.

Aí, já arriscaria dizer que há alguma ignorância no jornalismo angolano. Se as nossas elites são corruptas e ignorantes, não compreendo como defendem com tanto ardor quem andou e anda metido nesses meandros.

Também não compreendo tanta preocupação de a diplomacia portuguesa permitir, sem reagir, tanta alarvidade verbal, só porque temos necessidade de preservar os muitos negócios entre os dois países.  

Porque também não compreendo que se não diga que Angola não necessita de preservar os negócios que tem cada vez mais em Portugal. Parece-me que negócios são negócios e corrupção e ignorância são outra coisa.

E, por esta linha de pensamento, haverá muito que dizer de ambas as partes do problema. Que Portugal e Angola se respeitem mutuamente, mas que não deixem que os ignorantes e os corruptos se faltem ao respeito.

 

 

O grupo de Arraiolos desta vez será o grupo de Cracóvia. No entanto, o grande animador do grupo irá especialmente de Portugal para fazer uma intervenção do fundo do poço em que o país se encontra.

Até podia ser uma intervenção do fundo coração, mas para isso era preciso tê-lo. Tal como podia ser uma intervenção de fundo sobre um país que perdeu o norte, mas a verdade é que também já perdeu o sul.

Como parece que já só restam por aqui uns pobres e desiludidos masoquistas, que poderá dizer o exemplo de todos eles no grupo de Cracóvia, senão algo que os faça louvar o seu divertimento cracoviano.

Tudo leva a crer que essa intervenção do fundo do poço terá o dedo habitual dessas construções literárias de exceção. Portanto, dado o local de onde vem, é natural que tenha o húmido fedor do poço de S. Bento. 

É espectável que os portugueses, incluindo os de Arraiolos, não venham a beneficiar das decisões, ou sugestões, ou congeminações do grupo. Já os outros, verão brilhar o sol nas palavras vindas do fundo do nosso poço.

Que se animem ainda mais os que já andam bem animados. Motivos para isso não lhes faltam, pois o seu grupo, o grupo do cimo do poço, vai empurrando cada vez mais gente para o grupo do fundo do poço.

 

 

 

 

 

‘Estamos a chegar ao momento da verdade’. Foi Pedro Passos Coelho, digníssimo PM para uns, indigno para outros, quem o disse na AR no dia de hoje. Não disse que está, disse, estamos. Por mim, espero sentado.

A sua chegada ainda não tem data marcada. Para já, fica uma certeza. Verdade é aquilo que não temos tido até hoje. Vamos ver se ela aparecerá ou se ficará por lá, por onde tem andado, em todo o consulado de Passos.

Se realmente o momento da verdade está a chegar, concluo eu, temos vivido momentos de mentira. E muitos, digo eu, pois o momento, provavelmente único, ainda está para vir. Logo, até lá, a mentira continua.

 

 

 

03 Out, 2013

CARTAS-BRANCAS

 

 

O país está cheio de responsáveis idóneos que dão carta-branca aos seus subordinados, aos seus braços direitos ou, simplesmente, aos seus amigos. Carta-branca que, muitas vezes, lhes tira um peso da consciência.

Porque, assim, atiram para cima dos ombros de outros, decisões que contêm o risco de os deixarem mal colocados. Estas eleições autárquicas revelaram casos bem paradigmáticos de quem sacudiu a água do capote.

Desde logo, a mais evidente, foi a forma como foram escolhidos os candidatos à autarquia de Gaia. Passos deu carta-branca a Menezes para os selecionar. Menezes deu carta-branca a dois - Aguiar e Amorim.

Claro quem sacudiu a água do capote – Passos – veio depois voltar a sacudir a água do capote, atribuindo as culpas dos fracassos ao seu representante Menezes. Como se o delegante fosse estranho ao delegado.

Como se o remetente da carta-branca, não tivesse nada a ver com o destinatário dessa carta. Relação que, provavelmente, veio ter a ver com o que se passou com os candidatos ao Porto. E a culpa foi de quem?

Não é difícil adivinhar que por todo o país não faltaram cartas-brancas de quem não teve a coragem, ou a visão, de prever que certas escolhas iam dar buraco. Depois, a culpa foi dos destinatários e não dos remetentes.    

Há uma carta-branca muito especial que vai assustando cada vez mais o país. Sobretudo, porque os portugueses não percebem se o PM deu carta-branca ao PR para lhe repetir o discurso, ou se é exatamente o contrário.

Pelos ecos das notícias que nos vêm da Suécia, é difícil compreender que, por antecipação, o PR tenha dado carta-branca ao PM para dizer, quando lá esteve, o que o PR disse agora. Estranhas cartas-brancas.

Igualmente estranha, mas já antecipadamente conhecida, foi a carta-branca que o governo endereçou à troika para que fizesse de nós, portugueses, o que bem lhes apetecesse. Mostrou-a hoje com música.

 

 

 

 

 

Ao que vi refletido na comunicação social de hoje, o PSD esteve ontem reunido na comissão política e no conselho nacional até de madrugada e foram bem sintomáticos os resultados dessas saudáveis discussões.

Aliás, nem era preciso terem gasto o seu tempo e as suas energias. Os seus acalorados apoiantes, desde domingo à noite, não têm feito outra coisa senão relevarem as suas vitórias e esmagarem os derrotados.

Portanto, nem era de esperar outra coisa que não fosse um aplauso total dos conselheiros a Passos e seus muchachos, pelo elevado desempenho. Tal como o voto unânime de que tudo deve continuar na mesma.

Passos saiu reforçado na liderança do governo, embora menos eufórico que o seu vice. Mas, evidentemente que é apenas uma questão de ambição. Passos é um modestíssimo PM. Portas é só um ambicioso vice.

Já na Câmara Municipal de Lisboa, Costa foi ‘só’ cilindrado por Seara, pois Costa está ali a mais e Seara é que vai ser o que fica. Logo, Seara arrasou Costa e deu ao PSD o intenso sabor da vitória complementar de Passos.

Obviamente que nesta coisa de eleições só perde quem quer, pois ganha sempre quem se põe em bicos dos pés e grita vitória aos quatro ventos. Daí se conclui que esta treta dos votos é só para a saloiada ver.

A grande vitalidade da nossa democracia assenta precisamente nos ‘não estúpidos’, que ganham sempre. Nem sei por que carga de água se gastam tantos milhões numa eleição que não serve para nada. Tal como os votos.  

No entanto, ao que parece, a democracia ainda vai fazendo a separação, por vezes com muito custo, da esperteza saloia que julga que ganha sempre, da estupidez que lá vai ganhando de vez em quando.

 

 

 

 

 

Os portugueses têm uma verdadeira paixão pela sueca. Alguns portugueses adoram, ou adorariam, ter uma boa partida com aquelas suecas que veem nas capas das revistas ou em alguns filmes que já viram.

São coisas completamente diferentes. Até porque a sueca das cartas é uma paixão de seniores, enquanto as suecas de carne e osso, ou as suas imagens, encantam sobretudo os jovens que ainda não jogam à sueca.

Segundo as notícias do dia de hoje, o nosso presidente encontra-se na Suécia. Não acredito que tenha ido lá fazer um joguinho de sueca. Se fosse isso, teria perdido uma boa ocasião para o fazer cá, no banco do jardim.

Teria tido oportunidade de observar como os nossos seniores estão batidos naqueles truques de comunicar com os parceiros para combinar boas jogadas. Aposto que na Suécia nem sabem bater as cartas na mesa.

Também não acredito que tenha ido à Suécia para ver as vamps lá do sítio. Sim, porque para ver boas suecas não é preciso sair de Portugal, nem da comunidade europeia. Depois, também não acredito em batotas na sueca.

 

 

 

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