QUE GRANDE NOITADA
Rezam as notícias que estiveram todos sentados, dezassete horas, em volta de uma mesa, cada um com seu computador em frente dos olhos. Temos de convir que é muito tempo para quem não está habituado.
É verdade que não é inédito, mas também é verdade que tal só acontece quando o trabalho encrava. Ou seja, quando têm mesmo de fazer alguma coisa que se veja. Daí que precisassem de trabalhar mais todos os dias.
Depois, não há olhos que aguentem dezassete horas seguidas cravados num ecrã que, se calhar, até esteve em branco durante muitas horas. Resta saber se, no fim da noitada, já tinha algo de jeito na memória.
Preocupante é o facto de, segundo vozes vindas a público, haver entre eles, delinquentes, trapaceiros e malabaristas. Não estou a ver como é que se pode produzir trabalho em paz e sossego no meio de tal ambiente.
A menos que o trabalho desses proeminentes participantes fizesse mesmo parte da sessão, com vista a manter um ritmo diabólico a que a agenda obrigava. E, para que as espectativas exteriores não fossem defraudadas.
Ao que consta, os delinquentes ainda não foram presentes à justiça. Provavelmente, porque as suas delinquências são de natureza benigna e haverá mesmo uma próxima recompensa para as estimular.
Quanto aos trapaceiros e malabaristas, tudo indica que devotaram o seu trabalho, durante curtos intervalos, a suavizar os olhos sobrecarregados pelos ecrãs repletos de algarismos e muitos espaços em branco.
No meio de tudo isto, há uma coisa que me intriga imenso. Se um sujeito grita na rua – vai trabalhar malandro – é logo abarbatado. Quem diz que estes artistas infiltrados no grupo, têm tais virtualidades, fica como estava.
Cá para mim, alguém está a perder qualidades. Quem tem o despudor de classificar com tanta clareza e ousadia gente que o país venera devia, de imediato, ser obrigado a emigrar para onde pudesse esfriar a cabeça.
Ao menos que tivessem um pouco de pena de quem esteve dezassete horas enclausurado. E ninguém gritou – vão trabalhar, malandros. Está cada vez mais difícil saber quem são os verdadeiros malandros.