MAIO OU DESMAIO
Não tenho dúvidas de que há pelo menos um português completamente realizado ao saber que eles vão ficar mais um mês. Só mais um? Pergunta esse português desolado. Ele preferia tê-los por cá a vida inteira.
Até porque, enquanto eles cá estiverem, está tudo a correr muito bem. Embora, para que venha o pacote respetivo, tenha que se fazer aquilo que ainda não foi feito. E isso estará prontinho quando eles regressarem.
Aliás, prontinho já está agora. Falta apenas dizê-lo de caras, por causa da especulação dos fala-baratos das televisões, dos jornais, dos blogues, das ruas, das residências, com exceção da casa do único português que sabe.
Essa história do fica não fica mais um mês, é tudo conversa fiada. Há outro português que garante que é mesmo maio, e não junho, o fim do nosso martírio. Se ficarem para junho, é só por causa da boa sardinha assada.
Além disso, o que eles dizem é sempre revogável. O que diz o único português sensato, sabedor e sério é, seguramente, irrevogável. Asseguro que, ao dizer seguramente, isso não tem nada a ver com Seguro.
No entanto, o único português que se sente como peixe na água com eles, nem precisa de seguro contra todos os riscos, tal a confiança ilimitada nos seus ídolos, nos seus benfeitores, no garante da sua vidinha boa e fácil.
Mas, além dos dois já citados, o irrevogável irreverente e o ignorante reverente, há outros que tentam convencer-nos de que tudo o que fazem é para nos livrar do inferno. Mas eles sabem no inferno em que vivem.
Para quem maio é esperança e motivo de regozijo, ainda tem dois meses e tal de ilusões. Para os que ainda têm uma réstia de esperança no mês de junho, vivem no purgatório. Mas, todos nós, vamos ter um longo desmaio.