O ÚLTIMO DIA
Hoje é o último dia do mês de Maio. Talvez seja também o último dia do sonho de Seguro vir a ser primeiro-ministro. Depois de tanto tempo a dizer enfaticamente, ‘quando eu for primeiro-ministro’.
É assim a vida dos políticos. Provavelmente, Passos estará a pensar exatamente o contrário: ‘Quando eu deixar de ser primeiro-ministro’. Seguro esperava pela queda de Passos, mas vê morrer o seu sonho.
Seguro abdica de ser PM para se manter como SG do PS. Não é a mesma coisa, mas já qualquer coisa serve. Passos abdica de ser o salvador do país para ser o coveiro da democracia. O país que se lixe.
Para Seguro, pode ser o último dia em cheio da sua carreira política. Para Passos, pode ser o primeiro dia da sua queda em câmara lenta. Lentamente, ou não, quando o movimento se inicia é difícil pará-lo.
Seguro e Passos bem podem começar a ver as suas carreiras políticas ao retardador. A ambos se recomenda que fixem bem os momentos em que não souberam conter a sede de poder. Beber demais, cega.
A história vai ignorar Seguro porque não soube comprar lugar cativo nela, em devido tempo. Passos vai ficar na história como o anti Pedro, que não soube rezar a oração da fé que conduziria à salvação.
Há sempre um último dia para tudo. Mesmo depois de se terem feito festas de arromba. Mesmo depois de se ter andado ao colo de muita gente que delira trazer ídolos de barro aos ombros ou no coração.
E o último dia pode não ser já. Mas pode ser amanhã. Ou depois. Mas os sinais começam a ser visíveis com alguma antecedência. A luta pela sobrevivência torna-se feroz. Mesmo por um lugarzinho ao sol.
Como último recurso, Seguro quer pôr laranjas podres a votar na sua continuidade. Não estranhará que, mais tarde ou mais cedo, Passos queira pôr rosas murchas a votar nele. Tudo em diretas, claro.