EFABULAÇÕES
O país dos fabulosos sempre vibrou delirantemente com as suas fábulas de conveniência, notoriamente, com mais relevância, sempre que se avizinham decisões que podem tocar-lhes na sua boa vidinha.
Vivem agora a fábula do Segurinho e do Costão. O coitadinho e o mauzão. É curioso que os não fabulosos vivem outras fábulas. A fábula do coelhinho assaltante, do Paulinho irritante e de um outro.
Como é que a gente mede estas coisas. Os fabulosos e os seus agentes, que dominam os jornais, escrevem longas crónicas com as suas fábulas de sentido obrigatório. E é se querem lá continuar.
Por sua vez, os seus leitores, nos espaços reservados aos seus comentários, contrapõem outras fábulas bem diferentes e, não raras vezes, com boas ou más maneiras, lá lhes deixam os seus rancores.
As fábulas, normalmente, baseiam-se em dúvidas por eles criadas. As certezas, que não são fábulas, são cuidadosamente ignoradas, apesar de estarem desde há muito na ordem do dia da atualidade falada.
Quando aparece um dos do rebanho a propalar umas fábulas mais sonantes, duvidosas ou mentirosas, logo essas coisas são repetidas até à exaustão por tudo quanto é sítio, como notícias fabulosas.
Ao contrário, não comentam todas aquelas novidades bem amargas, que provêm das bocas não amansadas, embora de gente que pasta no seu rebanho, mesmo as das origens das suas constantes fábulas.
Nunca o poder conseguiu assaltar com tanta eficácia, tudo o que é tacho neste país. Em tempos não muito longínquos, essa tachada era negociada e distribuída pelos do poder e da oposição. E agora?
O que era mau, tornou-se péssimo. O que era só para os amigos, agora é só para os que sabem a arte de bem assaltar os escolhidos. No entanto, sempre sob a proteção dos que podiam e deviam falar.
A verdade não se esconde, embora seja disfarçada. As fábulas de ontem não abafam, nem invalidam, a triste realidade que o país vive atualmente. Os sérios assaltantes de ontem, são os mesmos de hoje.