O OVO DO CUCO
O cuco é uma ave muito singular. Tem um esvoaçar muito ziguezagueante, semelhante ao andar de certos homens quando se metem na pinga. Mas, mais singular é o seu modo de vida e comodidade na sua reprodução.
O cuco não faz o seu ninho como as outras aves para ali depositar os ovos que põe, chocando-os depois e cuidando do crescimento das suas crias. Isso dá muito trabalho. Desde logo, a demorada feitura do próprio ninho.
E então o preguiçoso cuco, procura um ninho já feito por outras aves e toca de pôr lá o seu ovinho, misturado com os de quem o fez e dele cuida. Digo ovinho mas, na realidade, é um ovão em relação aos outros.
Imaginemos que o cuco vai depositar o seu ovão junto dos ovinhos de um ninho de pintassilgo. Os pintassilgos chocam-nos todos e, quando partem a casca e aparecem, lá está um gigante no meio de uns tantos anõezinhos.
Para o cuco, foi tudo muito fácil e económico. Para os pintassilgos, uma solidariedade que custou muito esforço suplementar. Quando o ninho é pequeno, não é fácil ceder quase todo o espaço a um estranho mandrião.
Também não é estranho de todo que haja pessoas como o cuco. Parece que não têm gosto em ter a sua própria casa para desenvolver as suas atividades. Parece gostarem mais de andar de casa em casa que ter a sua.
Ainda que, nesse caso, não falte espaço para todos. Sim, porque casas não são ninhos. E as pessoas, normalmente, são tão hospitaleiras e solidárias como as aves que chocam ovos de cucos e criam todos esses órfãos.
Portanto, em casa a gente fecha e porta e julga estar o problema resolvido. Mas os cucos até podem entrar pela janela e deixar lá o seu ovo. É verdade que podemos deitar o ovo fora. Mas, os pintassilgos, não.