GRAÇA QUE T'ACHO
Há um político muito conhecido que passa a vida a rir. Ri muito do que dizem dele, os outros políticos, mas ri sobretudo daquilo que ele próprio diz. Não, não se trata de publicidade a nenhum produto bucal. É do feitio.
Estou convencido de que ele não ri porque ache que tem muita graça. Aliás, se fosse esse o caso, quando ele ri, também deviam rir as pessoas que lhe escutam as risadas. É o riso de saber que não tem graça nenhuma.
Há pessoas que nunca riem porque não têm motivos para rir. Mas o nosso sempre a rir, de braço no ar, é um fenómeno a encontrar motivos risíveis, sempre pronto a mostrar a brancura e a brandura de quem ri sem motivo.
Diz-se que rir é o melhor remédio. É também a minha opinião, desde que o riso não incomode ninguém. De preferência, se o riso for natural e contagiante. Já não gosto de risadas cínicas, despropositadas e estúpidas.
Sobretudo, quando se devia levar muito a sério os assuntos que causam essas risadas, esses risos e até esses sorrisos. Como isso custa a suportar a quem não tem dúvida de que é o alvo da hipocrisia desse falso cómico.
Contudo, há um motivo que até se lhe perdoaria que o exibisse com aquele ar feliz e sincero. É a satisfação resultante de como lhe corre a vida. Claro que não lhe podia correr melhor. Se não ligar à consciência.
Mas há um outro tipo. Aquele que nos faz rir, sem que ele próprio se ria. Mostrando sempre aquele ar brutalmente sério, paternalista, asneirento, incorrigível. Rimos, pois esse não tem emenda, nem vergonha do que diz.
Não entendo lá muito bem o motivo por que pessoas tão diferentes, no riso, ou na crispação, no gozo ou no recado, se entendem tão bem. Talvez até nem se entendam. Mas, como é evidente, convivem perfeitamente.
Quem sabe até, se não vão encontrar-se na final do Jamor, ao final desta tarde quentinha. É uma boa oportunidade para cada um deles mostrar os seus dotes. Muita gente não deixará de pensar: menos graça que t’ acho.