Uma toalha no chão
Alguém se esqueceu da toalha caída no chão, ainda húmida do banho de solidão que vai acompanhando muita gente que andava animadíssima a sonhar com ruas cheias de lírios e música triunfal até doerem os ouvidos.
Mas, sonhar é fácil. O pior é quando se acorda tendo diante dos olhos a realidade que sempre nos iludiu. Depois, ou atiramos a toalha ao chão, vergados ao peso da derrota, ou deixamo-la cair simplesmente no chão.
Pode parecer a mesma coisa mas não é. Quando se atira a toalha ao chão, há um sentimento de revolta, manifestado com ódio a alguma coisa ou a alguém. Quando se deixa cair a toalha há apenas conformismo na derrota.
Por mais que se tenha gritado aos quatro ventos, vitórias que nunca mais acabam, a derrota era esperada e a festa era apenas e só, um fogacho exterior para afogar o verdadeiro desespero interior. A alegria dos tristes.
Faltam mais dois longos dias para que as festas continuem nos espíritos dos cansados fabricantes de discursos incendiados de tanto se repetirem por este país, também ele, já demasiado cansado para ir em entusiasmos.
Talvez até demasiado cansado para se deslocar ao local onde pode decidir-se o seu futuro. A esperança já morreu em muita gente. Porque a desilusão invadiu muitas almas que já não creem no céu, nem no inferno.
Há sinais cada vez mais evidentes de que já se vislumbra uma toalha no chão. Não estendida ao sol, a enxugar. Mas, enrolada, amarfanhada, molhada, de tanto suor absorvido de rostos tristes. São só mais dois dias.
Mais dois dias penosos para quem já anda rouco de tanto forçarem as gargantas. E de forçarem a imaginação para que não faltem as palavras novas para dizerem sempre as mesmas coisas velhas, a saber a mofo.
Atirar a toalha ao chão era o que deviam fazer quase todos eles. Embora muitos deles saibam desde o princípio que nem valia a pena ter começado. São uns valentões, pois lutam com a derrota já assegurada.