A dentadura
A prótese dentária, também conhecida por dentadura, é hoje uma vulgaridade, sobretudo nos cidadãos de idades mais avançadas. É óbvio que dá muito jeito. Mas há para todos os gostos e para todos os preços.
Em qualquer dos casos, há pessoas que não conseguem habituar-se a elas de modo a permitirem exprimir-se corretamente. Umas, comem palavras, outras, não conseguem evitar lamentáveis e inconvenientes deturpações.
Já ouvi gente de muito bom-tom trocar entoações do tipo dentadura para ditadura. Ora não é difícil imaginar as situações caricatas que se criam. Serão situações involuntárias, certamente, mas de um alcance desastroso.
Deixar que se confunda uma dentadura portuguesa, com uma ditadura em Portugal, seja ela de que espécie for, é dar a impressão de que se não saiu do tempo longínquo do ditador. Mas saiu, embora custe a gente de bem.
Realmente, ainda há gente que lhe custa muito admitir essa realidade. Mas é por demais evidente que o país não nasceu ontem, nem vai morrer amanhã. Logo, hoje é um dia de normalidade na vida de um país normal.
Também é evidente que só alguém anormal, se assusta com as mudanças que acontecem com toda a naturalidade. E há quem se assuste só porque imagina ver ladrões em todas as equinas. E dispara em todas as direções.
Nem sei que dizer de gente que tem dentaduras de péssima qualidade, que não evita que se perceba deixarem sair daquelas vozes que se costuma dizer que não chegam ao céu. Até parecem incríveis ordinarices.
Porém, embora tenha de admitir que algumas das grosserias que se lhes ouvem são motivadas por um fanatismo doentio, quero crer que a maioria das vezes o mal está só e apenas na dentadura. Só pode ser disso mesmo.
Há casos que constituem agudas derivações de gente que, embora não pareça, são mesmo tendencialmente assim. Não fazem a mínima ideia do ridículo dos termos que empregam. Mesmo sem ser culpa da dentadura.