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afonsonunes

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30 Nov, 2015

A dentadura

 

A prótese dentária, também conhecida por dentadura, é hoje uma vulgaridade, sobretudo nos cidadãos de idades mais avançadas. É óbvio que dá muito jeito. Mas há para todos os gostos e para todos os preços.

Em qualquer dos casos, há pessoas que não conseguem habituar-se a elas de modo a permitirem exprimir-se corretamente. Umas, comem palavras, outras, não conseguem evitar lamentáveis e inconvenientes deturpações.

Já ouvi gente de muito bom-tom trocar entoações do tipo dentadura para ditadura. Ora não é difícil imaginar as situações caricatas que se criam. Serão situações involuntárias, certamente, mas de um alcance desastroso.

Deixar que se confunda uma dentadura portuguesa, com uma ditadura em Portugal, seja ela de que espécie for, é dar a impressão de que se não saiu do tempo longínquo do ditador. Mas saiu, embora custe a gente de bem.

Realmente, ainda há gente que lhe custa muito admitir essa realidade. Mas é por demais evidente que o país não nasceu ontem, nem vai morrer amanhã. Logo, hoje é um dia de normalidade na vida de um país normal.

Também é evidente que só alguém anormal, se assusta com as mudanças que acontecem com toda a naturalidade. E há quem se assuste só porque imagina ver ladrões em todas as equinas. E dispara em todas as direções.

Nem sei que dizer de gente que tem dentaduras de péssima qualidade, que não evita que se perceba deixarem sair daquelas vozes que se costuma dizer que não chegam ao céu. Até parecem incríveis ordinarices.

Porém, embora tenha de admitir que algumas das grosserias que se lhes ouvem são motivadas por um fanatismo doentio, quero crer que a maioria das vezes o mal está só e apenas na dentadura. Só pode ser disso mesmo.

Há casos que constituem agudas derivações de gente que, embora não pareça, são mesmo tendencialmente assim. Não fazem a mínima ideia do ridículo dos termos que empregam. Mesmo sem ser culpa da dentadura.

28 Nov, 2015

Cai, não cai

 

Marcelo disse há dias que chega de brincar ao cai não cai. Esta brincadeira a que ele se refere tem autores bem conhecidos. Aos quais, logicamente, se poderia chamar brincalhões. Na verdade isso está mais que esclarecido.

Como o país está farto disso, parece que está na hora de se acordar de uma longa hibernação de quatro anos em que, efetivamente, se brincou muito com quem, por nada, se associou às muitas e tristes brincadeiras.

A realidade é o que é, e não aquilo que os novos radicais pretendem. Sim, porque se fala muito de radicais para não se aceitar os factos, mas esquece-se que, assim, se cai num confronto de potenciais radicalismos.

Portugal precisa de confrontos, sim, mas de ideias, discutidas de forma ordeira e sensata, não aos berros de novos radicais de guerra sem quartel a tudo o que seja tentativa de achincalhar quem não lhes siga os passos.

E isso já subiu para níveis intoleráveis de dimensão. Mas também para níveis de poder incompreensíveis. É sabido que os bons exemplos devem vir de cima e que os maus exemplos devem ser condenados pelos de cima.

Quanto aos perigos dos radicalismos, de esquerda ou de direita, parece-me que os primeiros se atenuaram, enquanto os segundos cresceram. Ora isso leva-me a outro raciocínio que se me apresenta como muito positivo.

O sentido crítico e de denúncia, dessa esquerda tão repudiada pela direita, daquilo que tantas vezes ensombra a democracia, pode ser um travão às derivas governamentais do centrão que tem governado o país.

É sabido que PS, PSD e CDS, desde o início da democracia foram os responsáveis por tudo o que de bom e tudo o que de mau colocou o país nesta situação. Bloco e PCP denunciaram muito, mas ajudaram pouco.

Agora, neste novo ciclo, podem e devem continuar a denunciar, mas com mais sentido de construir e menos desejos de destruir. Essa pode ser a grande conquista participativa, para que haja mais equidade governativa.

É evidente que ninguém pode garantir nada à partida, como pretendem certos exigentes que nunca exigiram nada a si próprios. Isto, agora, pode correr mal. Pois pode. E, em alternativa, o que é que poderia correr bem?

Não estamos em tempos de pais tiranos. Tão pouco de filhos que vivem da tirania dos seus pais. O cai não cai, é fruto de mentes rancorosas, ameaçadoras e doentias. Os governos só são maus, depois de governar.

Este país não pode ser o Portugalex de Passos e Portas, pois isto não está mesmo nada para rir. Mas também não adianta chorar. Entretanto, veremos se o governo cai ou não cai. Até lá, os ansiosos que se aguentem.  

26 Nov, 2015

O Teimoso

 

Conheço um restaurante com este nome de, O Teimoso. O menu está preenchido com pratos, todos eles relacionados com a política e os políticos nacionais. Então, hoje, agora, lembrei-me de um novo prato.

Não sei se O Teimoso também já o terá descoberto, mas não me admiraria nada que no jantar de hoje já haja, Migas à Cavaco. E até me atreveria a adiantar ingredientes para essa maravilha culinária completamente nova.

Pão alentejano muito duro de roer, pois nem sequer é demolhado. Não aconselhável a pessoas com dentes à Cavaco. Muito vinagre, muito piripiri, para amolecer o pão. Muita pimenta e dentes de alho esmagados.

Alhos com casca, claro, para condizer com o pão duro. Nada de sal, pois isso aumenta a tensão e o alto risco de desmaio a seguir à refeição. Que já tem havido n’O Teimoso, mas hoje, por acaso, foi um jogo de ping-pong.

Como isso se joga a dois, a sobremesa foi, Docinho à Costa. Admirável a consonância. A dureza das Migas à Cavaco e a suavidade do Docinho à Costa. É por isso que o sucesso de, O Teimoso, já vai longe. Muito longe.

O Teimoso, antigamente, tinha o nome de, Zé dos Cachopos. Era uma taberna à antiga, com copos de três e carapaus fritos. Mas, então, o pão era mole e quem lá ia tinha bons dentes, comia muito e pagava pouco.

Como os tempos mudaram, agora, está tudo das avessas. Já se pagam as azeitonas, os tremoços e até o palito para os dentes. Só a conversa aldrabada continua a ser gratuita. Cada vez mais indigesta. À Cavaco.

O cliente pode pedir temperos complementares, mas isso já são extras. Já sei que há quem esteja a comentar que essas migas devem ser intragáveis. Serão, mas são exatamente com manda, O Teimoso e o nome, à Cavaco.

Outra coisa não seria de esperar de um Teimoso, igualzinho a um Cavaco. Mas, para variar, não há nada como cada um ser fiel a si próprio. N’O Teimoso, quem manda é quem dá o nome ao prato. ‘E mai nada’. Certo?

Ninguém melhor que Cavaco tem uma teimosia tão simples, tão pura e tão dura. É do pão duro. Quem não gosta come menos. Quanto a pagar, quanto menos comer, mais paga. Mas ele diz que assim é que está bem.

Hoje, na hora da merenda, não estive n’O Teimoso. Mas a TV serviu-me tudo aquilo que já esperava encontrar nela. Sinceramente, dali já não se espera nada. Velhice, teimosia, repetição. Mas, não dormi, nem desmaiei.

25 Nov, 2015

Apoiado Sr. CIP

 

Gostei de ouvir o patrão da CIP dizer que ‘o país exige que o PSD e o CDS se entendam com o PS.’ Para quem ainda há dias dizia que não se pode ir buscar dinheiro onde o não há… Mas talvez tenha razão nas duas vezes.

Quanto à teimosia dos entendimentos, matéria já sobejamente estafada, é tempo, agora, de a direita se entender com o PS, tendo por base o programa do PS, já que o programa da direita era simplesmente um zero.

Portanto, se a direita queria consensos, tem agora oportunidade de mostrar o que vale. Não para fazer favores ao PS, como queria que este lhos fizesse à viva força. Não. Agora, cada qual mostra do que é capaz.

Quanto a, onde ir buscar o dinheiro, logo se vê. Espera-se que o PS não vá aos mesmos onde a direita ia sempre. Mas é estranho que o patrão da CIP cometa o erro primário que é tão comum, de falar em nome do país.

De qualquer forma, não fala em governo ilegítimo como o fazem os seus melhores amigos. É que, ilegítimos, são precisamente esses. Obviamente, ilegítimos políticos, pois quem não pode ter filhos, não os pode mostrar.

Passos, Portas e outros, são filhos políticos ilegítimos do atual PR. Mas o PR não podia portar-se como um extremoso pai para com eles. O PR, se quiser ser pai de alguém, tem mesmo de ser pai de todos os portugueses.    

Portanto, o filho político ilegítimo Portas, não tem que cometer o abuso, ou o desplante, de chamar ilegítimo, seja a quem for, muito menos ao governo que o seu paizinho político aceitou e vai empossar amanhã.

Parece-me que um político que fala tão bem, não devia cometer ilegitimidades destas pois o seu progenitor político não deve gostar, e até se deve irritar, por se ver envolvido nessas conversas comprometedoras.

Quanto ao senhor CIP que também é da mesma família política, suponho que seja irmão do ilegítimo Portas e primo do outro ilegítimo, o Passos. Claro que estes laços familiares não se quebram. Perduram no tempo.

E eu cá estou para os continuar a ouvir falar das suas ilegitimidades e das suas amarguras. Amarguras despropositadas, pois a vida deles não se altera, para lá da falta que faz o poder. Que voltará, não se assustem…

24 Nov, 2015

Oh António

 

Tenho ouvido dizer tanta coisa de si que resolvi pô-lo à prova como pessoa de bem e preocupado com os grandes problemas de outras pessoas que, tenho bem presente, sei o quanto sofrem neste momento tão doloroso.

Sei quanto deve estar satisfeito por, finalmente, poder mostrar ao país que não é o nabo estrangeiro que umas cabeças de alho chocho têm proclamado. E sei também, pelo que li, que já escolheu os seus ministros.

Verifico que não tem lá ninguém que se iguale aos que vai substituir. Com muita pena minha, bem podia evitar que um ou outro ministro fosse despachado. Assim, talvez comandasse uma situação de mais recursos.

Porém, o seu espírito compreensivo e a sua vontade de ganhar a confiança de todos os portugueses, e tendo em conta o estado depressivo de alguns dos que vão cessar funções, pode reforçar o moral dos vencidos.

Como não os pôde fazer ministros, resta ainda a possibilidade de ter alguns como secretários de estado. Os seus ministros exultariam em tê-los como reforços nas suas equipas ministeriais. O que é bom é para se ver.

Em primeiro lugar, como sempre, as senhoras. Ora digam-me lá se o país não perde muito em prescindir de Maria Luís e Assunção Cristas. É que os olhos também contam. Elas eram o olhar enlevado de muito boa gente.    

Depois, há homens como Passos e Portas, que vão fazer muita falta a muitas portuguesas. Simpáticos como são, não se importariam nada de baixar para secretários de estado pois, assim, já não perderiam tudo.

Já no que toca à assembleia, Montenegro e Magalhães, certamente, não se importariam nada de trocar a palavrosa tarefa guerreira, por duas secretárias calmas, a elaborar estudos e pareceres de alta complexidade.

Isto sim, seria um governo a sério. E o primeiro-ministro António, teria um elenco, não para quatro, mas para quarenta anos. Com o sorriso de orelha a orelha de Cavaco, que já podia deixar de se preocupar com a reforma.

É evidente que também haveria aqueles portugueses, poucos e maus, que diriam que isso não era democracia. Democracia não é dar a mão. É dar com o pé. Sobretudo, democracia, é querer eleições já a 25 de Abril.

23 Nov, 2015

O testamento

 

Bem vistas as coisas o presidente não tem nada de útil para deixar em testamento ao seu herdeiro que será conhecido no próximo mês de janeiro. Mas tem, por uma questão de boa vontade, seis conselhos inúteis.

Todos os putativos candidatos à sucessão já se manifestaram abertamente contra o desenrolar do processo seguido até agora. Atendendo a declarações públicas deles, têm sido mais conselheiros que aconselhados.

Parece até evidente que nenhum deles se lhe quer colar em nenhum aspeto do seu desempenho. Quando de Belém não vem bom vento, não há casamento que se deseje. Aliás, até os convidados já fogem da boda.

Parece também que os mais fervorosos amigos do presidente e inimigos de Costa, estão já resignados ao que julgam ser agora uma inevitabilidade. Alguns estão até na onda do tanto se lhes faz. Pois, eles são todos iguais.

Pois, mas eu não vou nessa conversa de pré-indigitação, nem da iminência dessa mesma indigitação. O PS parece que ainda vai responder hoje ao questionário. Mas o presidente não vai dar a sua música por terminada.

É verdade que ele já tem o testamento feito há muitos meses e agora leva tempo a alterá-lo. Além disso, o seu notário também tem muita falta de tempo para serviços de fazer quanto mais tarde melhor. Ou nunca mais.

Mas, há ainda uma outra diligência que está reservada para o último dos ‘finalmentes'. A audição do sumo dos economistas, acompanhado da sua sábia orientadora: Medina Carreira e Judite de Sousa. A decisão está aí.

Claro que Cavaco não ouviu muitos dos adivinhadores de pacotilha. Nem tão pouco deu ouvidos a muitos dos seus excitados seguidores à distância. Tenho a certeza de que nem ao Marques Mendes mandou mensagem.

O seu único e fiel homem de confiança neste difícil transe, é o seu testamenteiro. Sabe-se que Cavaco não é homem de recuos, nem de amuos. Nunca treme nem se assusta. Nem responde a quem barafusta.

É homem para abrir o seu grande coração na Madeira. Ali, não há lá Costa, nem Catarina, nem Jerónimo a moer-lhe o juízo. Mas, só agora, pois já não tem lá a voz grossa do Jardim a mandar o senhor Silva para outro lado.

Enfim, que vai ser dos portugueses quando não tiverem um senhor Silva. Poderão vir a ter um Marcelo, um Nóvoa ou uma Maria. Mas não é, nem nunca será, a mesma coisa. Aposte já em quem herdará o seu testamento.

22 Nov, 2015

Inadiável

 

Apesar de tudo, o mundo continua a girar, com os seus atritos, com as suas areias a tentar empenar a engrenagem, mas também com artigos de limpeza cada vez mais sofisticados. E assim, as engrenagens sobrevivem.

Por mais que se destrua, ou se tente destruir, lá virá sempre alguém que tenta olear a máquina. Por vezes com muito atraso, depois de muitos prejuízos, porque os destruidores nem sempre estão bem a descoberto.

Camuflados, protegidos, com roupagens de milagreiros, podem resistir por muito tempo e podem até enganar um país inteiro, mas a verdade acaba sempre por apagar a sua triste imagem. A imagem da mentira.

Assim sendo, o país acorda e tenta mais uma vez. Como já tentou tantas, quase sempre sem os resultados desejados pelas bases desse país. E isso acontece sempre porque as bases são enganadas pelas cúpulas traidoras.

Neste momento, estamos mais uma vez na encruzilhada decisiva. Quem está de saída tem boas razões para sentir o alívio da carga que vai tirar de cima do lombo. Armados em valentões, apesar de vergados de vergonha.

Quem vai entrar, carrega a esperança de mudar o rumo. Não vai ser fácil, sobretudo ao percorrer caminhos armadilhados. Carrega também o veneno de quem prefere continuar a depender de quem apenas destruiu.

Tudo porque quem tem de decidir, está mais interessado em confiar, apoiar, tentando mesmo impor soluções que não têm qualquer viabilidade, em prejuízo de soluções que não têm qualquer alternativa.

Com mais areia ou menos areia na engrenagem, o país está a mudar. E quem tem o culto pela areia, pode estar a criar situações muito perigosas para o país em geral e para eles próprios em particular. É só ver o mundo.

Quem tanto pediu estabilidade, afinal, já só pensa agora em instabilidade. Quem tanto pediu ajuda, já só pensa no dia em que lhe peçam ajuda para se vingar. Quem tanto clamou pela paz, está já em plena guerra declarada.

Está pois na hora de deixar que a democracia siga o seu caminho. Sem perturbadores, sem armadilhas, sem truques subterrâneos. A democracia deve estar acima de caprichos e devaneios. Agora e no futuro. É inadiável.

20 Nov, 2015

Mas o que é isto?

 

Começo por dizer que não é nada. Já foi mas está a passar. À primeira dói muito. E custou muito, mesmo muito, mas quando assim é, estranha-se e depois entranha-se. Agora até as vozes dos mais valentões vão baixando.

Os discursos inflamados e até alguns mal-amanhados, vão perdendo decibéis e já se nota a predominância de uma certa calma. Afinal, já não há fraudes, nem golpes, nem oportunistas. Já só há falta de razão política.

Mas quase toda a gente diz que a política é uma porca. Não concordo com isso, mas lá que há muitos porcos na política, isso nem se discute. Pela lógica, não poderia haver porcos, sem haver, no mínimo, uma porca.

Suponho que também já não haverá um grande levantamento popular para repor a tal situação que a gente sabe. Talvez se possa garantir que a mesma assembleia que demitiu o governo não vai demitir mais ninguém.

Mas há uma coisa que me está a parecer muito estranha. Como é que, quem tinha tanta razão, de repente ficou assim, como que molinho, conformado, resignado, desistindo da luta que era para levar até ao fim.

Com isto não estou a dar já como certa a vitória de ninguém. Só que a luta não continua, como foi prometido. E sem luta, as vitórias não têm história. O que temos agora é a cura, ou melhor, a recuperação de um trauma.

Que será tanto mais demorada, quanto o for a rápida convicção de que não há mais nada para tentar em termos de luta, de resistência à aceitação do inevitável e de reposição da normal confiança nos outros.

Esta espécie de choques, que só são violentos por abuso de excesso de autoconfiança, na maior parte dos casos cura-se com o tempo. Aliás, poucos dias depois, já se notam melhoras. Quanto aos outros, tratem-se.

E não se esqueçam dos quatro anos em que muita gente sofreu a bom sofrer, quantas vezes com toda a resignação, vendo a vossa altivez, o vosso desprezo até por muitos daqueles que vos haviam dado o seu voto.

É por isso que eu pergunto: mas o que é isto? Talvez seja o reconhecimento de que têm razão os que respiram agora de alívio por vos ver partir. A vida é assim. Haverá sempre os que partem e os que chegam.

 

Já li por aí que o presidente não é um notário. Pois não, mas ele regista tudo como numa escritura e de vez em quando lembra-nos desses registos e das respetivas datas. Só há uma palavra que ele nunca registou nem leu.

Essa palavra é rancor. Que quer dizer que um rancoroso nunca esquece nem perdoa. O que vai dar num ódio profundo. Ora, se bem me lembro, isto não encaixa no espírito leal, aberto e isento de um bom presidente.

O que se diz do rancor, pode dizer-se do preconceito. Ou seja, o conceito formado antecipadamente, ou planeado sem fundamento sério ou razoável que, haja o que houver, não muda com evoluções no tempo.

Por outro lado, num presidente, sem qualquer exceção, palavra dada é palavra cumprida. Sobretudo, em declarações solenes. É saber distinguir sempre o que é mais fiável do menos fiável. Sem rancor nem preconceito.

Depois, um bom presidente deve saber, sem hesitações, objetivamente, quem são os conflituosos incuráveis que só pretendem dificultar o bom funcionamento da democracia, ao exigir para si, uma Constituição móvel.

Um bom presidente deve estar fora do sistema. Sempre que o sistema é retrógrado, disfuncional e tendencioso. Nunca permitir aquela máxima justiceira: se não foste tu, foi o teu pai! O coração não deve ter raivinhas.

Vivemos uma época em que toda a gente tem a pretensão de ser um modelo de verdade. Um presidente não pode ser mais um, entre essa gente. Um bom presidente tem de saber sempre condenar toda a mentira.

Porque, mentira, também é falar de uma estabilidade e de uma confiança só possível com o apoio de quem, verdadeiramente a pode dar. E quem a pode dar, só a dá a quem quer e não a quem lha exige à força e de má-fé.

O país não pode continuar a permitir todo este estado de boas e más verdades. O país tem um presidente que pode separar o trigo do joio. Hoje há uma maneira de resolver esse trágico problema: todos ao polígrafo, já! 

18 Nov, 2015

Porque sim

 

Estando o presidente a ouvir personalidades com vista à formação de um novo governo, chego à conclusão que vai demorar anos a concretizar essa difícil e complicada tarefa. Porque todos os votantes são personalidades.

Não me parece justo nem razoável que assim não seja. Não há personalidades de primeira e de segunda ou terceira. Se são as personalidades que vão ser decisivas para formar governo, quero ter voz.

E, como eu, os milhões de portugueses no seu perfeito juízo. Só os coitadinhos podem aceitar esta treta de ser apenas uma dúzia ou duas a aconselhar o presidente. Isto, na hipótese de ele se deixar aconselhar.

Portanto, vamos ser chamados a Belém. Não se pode prever quando. Mas talvez seja por ordem alfabética. É a única maneira de não haver prioridades escondidas, nem favores às personalidades mais gradas.

Prevejo que a solução escolhida será um governo de iniciativa presidencial. Só com um pequeno problema. É que a demora nas audições conduzirá à anulação das presidenciais, continuando o atual em gestão.

Assim, o presidente em gestão nomeará um governo de sua exclusiva responsabilidade. A dirigi-lo, Paulo Portas, tendo como vice Passos Coelho. Esta solução visa calar a oposição, pois assim não será o chumbado na AR.

Quanto aos restantes ministros podem continuar todos. Mas, atenção, nunca nas mesmas pastas. Assunção Cristas assume as Finanças e Maria Luís passa para a Agricultura. Mota Soares troca com Marques Guedes.

E por aí adiante. As grandes novidades passam para os secretários de estado. Entre eles estarão, Marco Costa, Carlos Amorim, Luís Montenegro, Nuno Magalhães, Nuno Melo, Telmo Correia e tantos outros que tais.

Esta segunda vaga de brilhantes oradores têm como nobre missão o ataque constante e ultra ruidoso à esquerda, para que não lhes seja sequer permitido discutir as brilhantes decisões da legislatura anterior.

Espero que ninguém me pergunte, porque será isto que vai acontecer. É que a resposta é tão simples que até tenho vergonha de a dizer. Mas aí vai. Isto vai ser assim, porque tem de ser. Isso vai ser assim, porque sim.

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