Lá vai um
Para já, lá vai um pombinho a voar. Pelo que me toca, ainda não o vi levantar voo, nem tão pouco o vi a esvoaçar nos ares que a minha vista alcança. Mas há quem o veja em altos voos, talvez acima das nuvens, onde só os anjos voam.
Julgo que os anjos não descem à terra, nem tão pouco se arriscam a submergir nas profundas águas do mar, para não correrem o risco de serem abalroados por submarinos reais ou virtuais. Anjos que depois já não poderiam emergir.
Porém, o pombinho que não é anjo e que dizem que já lá vai, só lá para abril poderá deixar de ser visto por perto do seu pombal. Entretanto, ainda estará ali no dia um de abril. Como nada é irrevogável, esse dia um, pode mudar tudo.
Entretanto, dizem que o país lhe fica a dever. E ele aconselha a que não tenham medo, pois o pombal vai ser capaz. Dizem que o pombo capataz, é um animal político. Mas, como pombinho, talvez fosse mais adequado, ser uma ave rara.
Mas, pois que seja um animal político. Feroz para com os seus adversários. Ou para com os seus inimigos. No entanto, também não se livrou de, em algumas ocasiões, se tornar um trunfo para as investidas de que também não se livrou.
Do meu ponto de vista, esta do animal político tem que se lhe diga. Ser animal, lembra um ar selvagem, quando ser político devia remeter-nos para o lado pacífico. É por isso que o pombinho que lá vai, leva-nos a um saudoso carinho.
Também há quem lhe atribua o epíteto de máquina trituradora de políticos. E ele foi um político que se fartou de triturar, mas parece que, além de algumas entaladelas, acaba agora por ser triturado, quando se imaginava em pleno voo.
Vendo-o por dentro do seu pombal, mais se parece com uma máquina de secar, ou um eucalipto no seu jardim. É pois de recear que a sua pesada herança, além de subaquática, deixe antever um deserto de capacidades para lhe suceder.
Obviamente que esta é apenas uma historinha de pombinhos que até pode vir a ter pombinhas. Uma mais encostada às Portas, outra mais virada para as Janelas. Uma mais urbana, outra mais rural. Nada de cantar antes do tempo.
Pois, um pombinho já se foi. Já se antevê que não tardará que possa dizer-se, lá vai um, lá vão dois… e depois a cantiga, lá vai um, lá vão dois, três pombinhos a voar. Um é meu, outro é teu, outro de quem o apanhar. Eu não quero nenhum.