Chá e bagaço
O Presidente da República eleito bebe o seu chazinho como aconselha a vida regrada e sóbria de quem vai ter tantas responsabilidades perante o país e os portugueses. Estou em crer que o cessante também bebia chá.
Acontece que o chá ou o bagaço não provoca os mesmos efeitos em todas as pessoas. Por vezes vemos reações de quem bebe chá, que até parece que despejou uma garrafa de bagaço. E o bagaço até pode ser um chá.
Marcelo bebeu hoje um chazinho com uma velhinha que o acompanhou com um bagaço forte, como ela disse que gosta, vazado de uma garrafa oferecida pelo novo presidente. Se Cavaco estivesse presente, desmaiava.
Não sei mesmo se não teria havido uma tentativa de transformar a cena numa acusação de violência sobre a velhinha e uma tentativa de mandar o presidente para as urgências. O cheiro do bagaço teria efeitos perniciosos.
Isto só prova que não há dois presidentes iguais. Com chá ou com bagaço, Marcelo nunca será Cavaco, nem nunca Cavaco se divertiu tanto como Marcelo se vai divertir na presidência. Marcelo ri muito, Cavaco só fez rir.
Não significa isto que rir seja melhor que fazer rir. Toda a gente diz que é muito difícil fazer rir. Logo, aí está um trunfo forte a favor do presidente cessante. A menos que Marcelo acabe por dar a volta aos seus hábitos.
Obviamente que tal não seria entendido como uma traição a quem o elegeu. Nada disso. Seria apenas cumprir uma tradição. E uma tradição nunca é uma traição. Tradição, é só sinónimo de mentir nas campanhas.
Cavaco foi mais de silêncios, ao que parece, quando podia e devia falar. Só falando, quando podia e devia ficar em silêncio. Conversas tontas de quem vai dizer que Marcelo já comentou tudo. Logo, agora fica calado.
Nestas questões de falar pouco ou falar muito, tomar um chá ou beber um bagaço, faz toda a diferença. Mas nada de beber chá pelo cálice e bagaço pela caneca. Marcelo deu a garrafa à velhinha. Não viu como ela a bebeu.