Salutares
Nunca a palavra, salutares, foi tão ignominiosamente omitida. Não me parece que tal se tenha devido apenas a simples descuidos ou atalhos de linguagem. É que têm sido muitos os inteligentes a cair no mesmo erro.
Obviamente que me refiro às ‘prometidas salutares bofetadas’ a dois colaboradores do Público. Sim, promessas e não ameaças, muito menos concretizações. E em troca de mimos bem mais expressivos que os dados.
Claro que João Soares podia muito bem ignorar aquilo, vindo de quem vinha. Pois um ministro tem de ser bem-educado e aceitar bofetadas na sua dignidade. Jornalistas ou comentadores não têm de ser nada disso.
O ministro não pode ser mau ministro, mas toda a gente pode ser muito mau naquilo que faz, que não é defeito nenhum. O ministro fez muito mal aos indignados, mas estes anjinhos não fizeram mal nenhum ao ministro.
De qualquer forma, o ministro não pode empregar a palavra, salutares, porque os puros anjinhos da escrita não sabem o que ela significa. Daí que eu tenha ido ao dicionário para me certificar de que o ministro é culto.
‘Salutar’: próprio para conservar a saúde; fig. moralizador; edificante (latim, salutare). Também vi o que era ‘bofetada’: pancada dada na cara com a mão aberta; fig. insulto; enxovalho. Sem mão, ofensa disfarçada.
Deduzo eu, que João Soares quis fazer um insulto moralizador, ou um enxovalho edificante. Os dois indignados e seus defensores, quiseram dar bofetadas na cara de João Soares, mas com a mão fechada. Isso é murro.
João Soares, que tem muitos defeitos, sabe distinguir o que deu e em troca de quê. Daí que se tenha demitido. Acho que fez bem. Não tem estômago para ser ministro. Porque quem não se sente não é boa gente.
Marcelo disse há dias que há falhas na democracia. Não concordo. Há falhas, e muitas, em todos aqueles que não compreendem a democracia. Que exigem muito dos outros, mas não toleram que lhes digam nada.
Para quem quer uma democracia do vale tudo, seria bom que se habituassem a receber, na justa medida do que dão. Se querem respeito, respeitem. Ah! Talvez fosse bom escreverem e falarem quando sóbrios.