E se fosse?
Já o referi aqui por várias ocasiões, que Portugal é um país de burlões e isso tem influência decisiva no facto de quase ninguém acreditar que vamos sair da cepa torta, deste fado que nos faz dizer, ou pensar, que os políticos são todos iguais.
Logo, não teríamos hipótese de aspirar a ser um país limpo, um país onde se possa esperar justiça digna e níveis de vida decentes para toda a gente, pois é convicção generalizada de que a trafulhice e a vigarice dominam uma sociedade totalmente entregue a quem só trata de si, ou obedece apenas a quem deixa cair umas migalhas para sustentar os seus servos.
O veto presidencial conhecido hoje, embora já esperado, é um daqueles sinais que nos levam a crer que nem toda gente quer acabar com a corrupção. A vozearia dos arautos do direito à privacidade, mesmo daquela que favorece a mais alta e sofisticada fuga de capitais, a mais complexa fuga ao fisco, mostra bem quem, se não a pratica, dela deve beneficiar de algum modo.
Já li que o fisco, sem esta lei agora vetada, vai continuar de mãos atadas. E é isso que muita gente deseja. Gente que detesta o fisco, que pensa que isso não lhe diz respeito. Portugal sem devedores ao fisco, teria as suas contas equilibradas. Mas são os devedores conhecidos e os que fogem e se escondem do cumprimento das suas obrigações fiscais, que mais se insurgem contra as medidas que o governo e o fisco consideram imprescindíveis para repor uma legalidade que está longe de ser aceite por todos os portugueses.
Marcelo e Costa têm dado mostras de pretenderem inverter esta situação, pois só ela pode ressuscitar o país. Quero crer que ambos pensam o mesmo, mas cada um deles tem as suas esferas políticas bem definidas. A quem não convém, a nenhum deles, voltar as costas abruptamente.
O veto de Marcelo pode bem ser destinado a apaziguar os inconformados. Costa está muito pressionado pelos apoiantes do seu governo. Poderá, por isso, mostrar que não o deixaram fazer mais. Mas, quem sabe, se deste conflito de interesses, não sairá uma segunda via da lei, que dilua as mossas de uma aparente divergência, que até pode ter sido bem estudada.