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afonsonunes

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26 Out, 2016

Atração fatal

 

Aquele velhinho com dificuldades motoras, que conhece bem Portugal e que Portugal o conhece a ele de ginjeira, não desiste de querer restaurar o governo anterior do nosso país, como se disso dependesse a sua felicidade. Há quem, de velhinho, arranje umas paixões esquisitas.

Estou convencido de que a sua paixão não é Passos Coelho e muito menos Paulo Portas. Mas ele não desiste de querer meter o bedelho nas decisões que o governo de António Costa vai tomando. Que, por sinal, não lhe agradam nada. Continua a falar de novo resgate como se não mostrasse de imediato o seu amor senil.

Estou a lembrar-me, ainda tenho boa memória, da familiaridade do velhinho com a nossa Maria que não vai com as outras. Para eles, o tempo tem de voltar para trás. E só há uma possibilidade. Para eles, o governo que se finou, era uma maravilha e por isso tem de voltar a governar o país. Que, segundo o velhinho, e segundo o pensamento da ‘de Albuquerque’, o país conheceu com ela, um período de enorme progresso, pois com o governo atual tudo piorou.

É claro que vozes de… apaixonados extemporâneos, não chegam aos céus. E ainda eles não se lembraram, como alguns… da nossa praça, de falar graciosamente na geringonça. Mas lá chegarão. É que eles estão plenamente convencidos de que a sua geringonça a dois, foi um exemplo de sucesso que ficou para a história. Logo, ainda não querem comparações com a geringonça a três, mas não tarda que queiram orgulhar-se de ser iguais.

Que mais não seja porque uma geringonça com três rodas redondas, será sempre melhor que uma geringonça com apenas duas rodas. E assim se viu no passado, com uma geringonça com duas rodas, por sinal, duas rodas quadradas.

Como tenho boa memória, ainda me lembro da decisão irrevogável da segunda roda da geringonça anterior. Que só não se escangalhou porque a outra roda, deu à segunda, uma espécie de privilégio de presidente da CGD. Mais uns ‘miles’, mais poder, mais poleiro. Não tem nada a ver? Tem sim. Tem tudo. É fácil falar dos outros. Mas, 25, 26 ou 30, vai tudo dar ao mesmo. O que está mal agora, já o esteve durante muitos anos. Com todos muito caladinhos.

Se calhar é porque o amor, quando se torna uma atração fatal, tem coisas incompreensíveis. E, com a idade, acaba mesmo em doença irreversível.

25 Out, 2016

'Politicoices'

 

Tenho andado tão distraído com os exteriores das estações de televisão que até me tenho esquecido de que há uma atualidade política muito excitante. Diria mesmo que ela está mesmo, mesmo, delirantemente excitante. Mas nunca poderia estar mais excitante que os exteriores das televisões.

Há lá coisa mais salutar que ver como aqueles heróis de máquinas de filmar às costas e carregadores de microfones, vinte e quatro horas por dia, se aguentam a observar os outros heróis de armas em punho a ver se caçam qualquer coisita no meio dos matagais. E, ai deles, se não aguentassem.

Sim, caçar é procurar caça. E caçar é também trazer a arma carregada com cartuxos de chumbo ou com balas, pronta a disparar, logo que se aviste uma presa. Uma presa que é, sem dúvida, caça grossa. No caso dizem que se trata de caça ao homem. Mas o homem, qual fera que se sente como se tivesse a cabeça a prémio, também quer ser herói.

 Quanto aos outros caçadores, os caçadores de imagens, excitam todos aqueles que, como eu, se deleitam, dia e noite, sempre com a mesma informação: não há nada de novo. Claro que nem podia haver. Com toda aquela cumplicidade festiva de quem sente que, no final, os louros cinegéticos vão ser repartidos mano a mano.

Até parece que os manos não podem trabalhar um sem o outro. Não é fácil chegar à conclusão de qual deles beneficia mais com essa cumplicidade laboral. Ou qual deles poderia fazer um esforço maior no sentido de se afirmar pelo trabalho individual.

No entanto, há quem não esteja satisfeito com o facto de não cheirar a pólvora nesta, como em outras caçadas. E então sugerem-se as mais variadas hipóteses de abreviar as caçadas. Por exemplo, aquela em que fossem banidas todas as armas de fogo deste apelidado de ‘reality show’. 

Ficariam assim, no terreno, apenas os caçadores de imagens. Como têm uma grande tradição de objetividade e rapidez nas investigações, o estado ficaria muito grato, porque via as contas orçamentais muito melhoradas, os armados descansavam, os contribuintes agradeciam e os telespetadores, como eu, viam o seu suplício, o seu esforço e a sua angústia e ansiedade reduzidas a zero.

É caso para dizer, por vezes, o que parece uma parvoíce e uma inutilidade, acaba por ser uma alternativa a outras que ouvimos ou vemos a toda a hora. Como diria um dos idiotas que se lembrou destas coisas: aprendam que eu não duro sempre. Duro ou mole, o que é preciso, é não estar quieto nem calado.

16 Out, 2016

Ninguém arrisca

 

Ouvem-se milhentos comentadores de todas as cores políticas nas televisões, todos os jornalistas e equiparados, muitos dos insaciáveis frequentadores apaixonados dos espaços de comentários dos jornais e muitos dos frequentadores de mentideiros de rua que se juntam nos bancos de jardim, todos pronunciando-se sobre os riscos que este governo, ou esta geringonça, como gostam de lhe chamar, representa para o futuro deste país.

É inegável que tudo o que se faz tem riscos. Muito maiores, quando se trata de decisões sobre o que se vai fazer.

Mas é aconselhável que se tenha em conta, antes de decidir, o que aconteceu anteriormente, para que aquilo que saiu bem seja mantido e o que se fez mal seja substituído ou corrigido.

Esta geringonça (o termo começa a ter muita graça) está a ser muito contestada pelos artistas anteriores e seus admiradores, por apresentar um orçamento de insustentabilidade. Isto, tem ainda muito mais graça, pois ao quinto ano, o país vai dispensar os dois retificativos por ano dos últimos quatro.

Pois bem, já não se fala de riscos, mas de certezas de desastre. Portanto, eles, os do anterior, foram vendo os inúmeros riscos apontados, a cair por terra a cada dia que foi passando.

Como estão a precisar de uma reabilitação das suas negras previsões, negras no que fizeram, negríssimas no que preveem agora, sugeria-lhes um exercício que eles, pessoas inteligentíssimas e bem preparadas, não devem ter a menor dificuldade em resolver.

É muito simples. Deitem mãos à obra e digam lá aos portugueses como é que, nesta altura, estaria o país se o desgoverno deles tivesse continuado em funções. Principalmente, que orçamento estariam a apresentar agora.

Claro que seria muito diferente do da geringonça. Mas também muito longe de estarmos perante uma geringonça. Muito pior que isso. Seria uma qualquer albardice que nem resistiria a um bater de asas de mosca varejeira. E com esse ruir, lá se ia o seu orçamento antes mesmo de ter dado origem ao seu retificativo.

Mas, por favor, façam um esforço sério e digam aos portugueses, tim-tim por tim-tim, o que escreveriam em substituição deste orçamento agora apresentado. Como têm repetidamente afirmado, seria uma cópia dos vossos últimos quatro anos.

O mesmo se pede a todos os que não calam a sua indignação, onde quer que a manifestem. Prevejam lá, como é que o país ficaria melhor, agora e no futuro, com os artistas anteriores e com as sábias ajudas dos seus encorajadores e espetadores entusiasmados.

É, pois, uma pena que gente tão competente e laboriosa, não seja capaz de arriscar uma previsão muito mais fácil, que aquela que só lhes tem trazido desilusões e deceções. Vá lá, peço eu encarecidamente, substituam ente inferno que vos devora, por um céu que vos faça felizes para sempre.

11 Out, 2016

A marcha parada

 

Já sabíamos que a marcha dos taxistas na manifestação de ontem ia ser lenta. O que eu não esperava é que fosse uma marcha parada, pouco depois do seu início.

Talvez por isso, aquilo deixou de ser uma manifestação de gente que pretendia mostrar a razão do seu protesto, para se transformar numa manifestação de uns tantos amantes de selvajarias.

Os dirigentes das associações desses profissionais, apenas manifestaram uma sede enorme de mostrar que quem devia fazer as leis para o seu sector, eram eles próprios. À sua medida, à medida do seu egoísmo estúpido.

Sobretudo, pela convicção de que o governo tinha de lhes suportar toda a sobranceria e agressividade. Pela convicção de que aquilo ia ser uma questão de tempo para que o governo lhes dissesse o que eles queriam ouvir.

Os farnéis iam preparados para que Lisboa ficasse nas suas mãos, sobretudo, a sua parte mais sensível. O aeroporto. Pensavam eles que não bastariam umas horas de transtornos de gravíssimas consequências para muita gente. Era preciso achincalhar, abusar, pisar, ofender.

Os dirigentes usaram de uma arrogância nas suas afirmações, ou ameaças, ou chantagens que, só por si, eram mais que suficientes para os definir. Eles conduziram os seus associados através da incentivação, para situações muito perigosas. Alguns deles, enveredaram mesmo pelo crime.

E têm agora a cobertura desses dirigentes, dando-lhes assistência jurídica. Se é que não lhes darão mais que isso. Mas não pagam os prejuízos que causaram a quem só queria tratar da sua vida. E ninguém vai pedir responsabilidades a ninguém.

Toda aquela movimentação policial e meios que foi necessário mobilizar, como de costume, são suportados por nós, contribuintes, sem que nos perguntem se queremos pagar isso. E temos de pagar, em lugar de sermos ressarcidos dos prejuízos que nos causaram.

E já ficou o aviso: para a semana há mais. Espero eu, e talvez mais alguém, que tudo seja diferente, se for preciso. Que ninguém, alheio a esses atropelos aos mais elementares direitos dos cidadãos, seja impedido de se movimentar livremente.

Por causa da poluição, e não só, que se manifestem caminhando a pé. Que os táxis fiquem bem longe, pois a marcha faz bem à saúde. Que fique bem claro: andar de táxi não é marchar. E se houver marchas, que não sejam marchas paradas.  

 

Suponho que já só falta a madona Angela Merkel telefonar ao engenheiro António Guterres e felicitá-lo pela derrota que ele próprio lhe infringiu, ao derrotar a sua querida Kristalina, de princípios tão pouco cristalinos.

É evidente que a CE, que a madona domina como uma quinta de propriedade exclusivamente sua, se rege exatamente pelos mesmos princípios demonstrados por ela e pelo presidente e vice-presidente da mesma organização que engloba os estados europeus.

Aliás, o presidente Juncker, tal com o seu antecessor Barroso e a gordinha Kristalina, foram e são verbos de encher da avantajada chanceler. O atual presidente e a atual vice-presidente da EU, já demonstraram reconhecimento suficiente do mau desempenho que tiveram no decurso da fase final da escolha do futuro novo Secretário Geral da ONU. Mas a patroa dos restantes ainda não abriu a boca, para não mostrar uma língua pouco limpa.

Por cá, os muitos súbditos merkelinos estão, nesta fase, do lado oposto à patroa. Desfazem-se em elogios, como se nunca tivessem dito nada. Mas, muitos deles, disseram. Quem não se lembra do homem do pântano. Que é hoje, reconhecidamente, um homem que desde sempre foi um criador de soluções baseadas em diálogos permanentes.

É bom lembrar que Guterres deixou o governo por não conseguir ver aprovadas na AR as medidas que considerava indispensáveis para tirar o país, não só do pantanal, mas do badanal que herdara do cavaquismo. E sabe-se quem o obrigou a tomar essa difícil decisão. Muitos daqueles que hoje lhe reconhecem a capacidade de resolver grandes e difíceis problemas.

Vai agora tentar fazer valer no mundo, os seus ´gozados diálogos’ de outrora aqui, dentro do seu país. Vai agora tentar melhorar o mundo, depois de o não deixarem melhorar o nosso país. É preciso afrontar muita gente e muita coisa. Mas o mundo confia nele. Ele pode reduzir a profundidade do pântano, depois de não o deixarem combater os pantaneiros nacionais. E são muitos desses inconstantes, que agora não lhe regateiam elogios e virtudes, que rejeitaram as suas qualidades, quando o país mais precisava dele.

Com a sua saída do governo, por coerência com a leitura que fez do futuro, o país terá perdido uma das melhores oportunidades de mudar de vida. Mas houve, e ainda há, forças bem visíveis e poderosas que não querem, e tudo fazem para não deixar que se saia deste círculo vicioso. Onde o dinheiro, a intriga e a mentira são reis e senhores.

Este processo onde Guterres esteve envolvido, é a prova provada de como se pode ser grande e ser sóbrio, sério e honesto, entre os muitos políticos corruptos que os portugueses sustentam, apesar de nada de bom poderem esperar deles.