Ministério sem Ordem
Não me parece mal que comece por referir a desordem que encontramos por todo o lado, sem que quem de direito consiga retirar-lhe as três primeiras letras, restituindo ao país o direito a levar uma vida tranquila, dentro das limitações que não podemos atirar para o lado, nem escolher quem as mande para o lixo, deixando assim de nos lixar.
Temos um ministério que nos devia garantir justiça e temos uma ordem de uns senhores que deviam livrar-nos de todas as injustiças. Esse ministério chama-se da justiça e a ordem congrega os advogados que são pagos pelos infractores, pelos injustiçados e também pelo estado, quando estes o não possam fazer.
Mas, parece que anda tudo ao contrário. No ministério, até parece que o guião que lá tem pendurado na parede para cumprir à risca é, exactamente, para não fazer nada de novo, excepto no paleio. Na ordem, o paleio da moralidade parece contradizer o hábito da defesa habitual das causas perdidas ou encaminhadas para a prescrição.
Assim, temos uma ordem a defender advogados que até parece que se defendem demais, copiando métodos que parecem tirados dos réus que eles querem inocentar nos tribunais. E temos um ministério que ainda parece em campanha eleitoral, seguindo a táctica habitual do diz que faz, aquilo que não é capaz.
Resulta que não é desta cumplicidade contributiva que nasce um estado justo na defesa de todos os cidadãos. O Ministério da Justiça devia cumprir a obrigação de ter do seu lado, uma Ordem dos Advogados sempre disponível para colaborar nessa missão e, ao mesmo tempo, com a obrigação de não deixar que ninguém pudesse lixar ninguém.
Falar e agir com verdade, seriedade e isenção, devia ser uma obrigação indiscutível de toda a gente, tanto no ministério como na ordem. Isto, abstraindo do facto de qualquer cidadão, ter as mesmas obrigações mas, como é notório, quando quem devia dar o exemplo nos mostra o que se tem visto, nada se pode esperar dali.
Porém, quando falta a ordem e se instala a confusão, quando em lugar de serenidade se promovem autênticas ‘peixeiradas’ na comunicação social, onde se juntam os maiorais dos vários sectores que andam à volta do tema, alguém lá de cima devia concluir que assim não se vai a lado nenhum, porque em lugar de medidas, temos a sensação de ver bebidas.
Quando ninguém se entende, dá a sensação de que está tudo grosso, porque há tanto tempo que isto não funciona, que não tardará que a própria sociedade fique embriagada com tanta etilização a contaminar o ar que respira. Se ninguém lá de cima tem nada a ver com isto, então temos de nos voltar para o divino.
Já se fizeram procissões com sacerdotes, juntamente com os seus fiéis, a implorar ao reino dos altos céus, que deixem cair dos seus altos domínios, uns bons pingos de chuva. Pois eu, para maior possibilidade de êxito, sugiro que as superiores instâncias das igrejas, inclusive o papa, nos ajude pela oração, para que o ministério e a ordem imitem a justiça divina.
Verdade seja dita que também esta nos dá muitas vezes a sensação de frustração, que atribuímos a castigo pela nossa falta de fé. Pois eu já me recriminei repetidas vezes pela minha falta de fé em quem podia e devia pôr cobro a esta maldição, pensando que, também eu, estou a merecer e a sofrer o castigo de não acreditar em quem devia.
E o meu pensamento já subiu às alturas, já nem anda pela ordem, nem pelos advogados, nem pelo ministério, nem pelos investigadores, nem pelos criminologistas, nem pelos procuradores, nem pelos juízes, nem tão pouco por todos aqueles que estão confortavelmente instalados neste podre e mal cheiroso, mesmo nauseabundo, sistema.
O meu pensamento não pára de rodar à volta de quem pode e deve controlar o sistema, quando ele avaria. E, desde há muito tempo, que a avaria o paralisou irremediavelmente. Só não compreendo porque se mantém o mistério da falta de ordem de reparação. Logo, no lugar do ministério, há mistério e no lugar da ordem reina a contra ordem.