Coelho bravo
Não sei bem se hei-de dizer que o coelho anda bravo, ou se ele é realmente bravo. Pode até acontecer que o coelho seja manso mas, agora, ande ocasionalmente a fazer o papel de coelho bravo.
Durante um longo período em que até era bastante acossado, nunca se lhe viu tanta bravura. Antes nos aparecia como um coelho manso, com ares de uma candura extrema, até para quem o queria caçar.
Agora, de cada vez que sai da toca, na verdade com menos frequência, parece mesmo um coelho selvagem, agitando muito as orelhas e utilizando sempre as quatro patinhas para reforçar a sua linguagem agressiva.
Por norma, os coelhos jogam à defesa, principalmente quando pressentem caçadores que disparam contra tudo o que mexe. Este coelho não é assim. Tem mesmo um procedimento algo anormal.
Perante a ameaça do caçador e da sua espingarda, desata a insultá-lo com a sua sua voz alterada e ameaçadora, julgando que assim, desvia o perigo de ser atingido. Sem êxito, claro.
Porque acaba por chamar a atenção de muitos outros caçadores distraídos que lhe começam a atirar sem dó nem piedade. Qualquer coelho normal, com bom senso normal, devia ter o cuidado de não enfrentar armas que ele próprio não tem.
Obviamente que um coelho não devia preocupar-se apenas com as coisas que diariamente diz do caçador. Devia sim, dizer todos os dias, que é coelho para sair da toca e mostrar que tem mais astúcia que qualquer caçador.
Que é como quem diz, que o caçador morreria à fome se esperasse, sem êxito, ver o coelho esfolado e prestes a entrar no tacho da sua cozinha. Um coelho inteligente, pensa em si, na sua defesa e não apenas em fazer guerra, desarmado, a quem tem a espingarda na mão.
Com a agravante de que o caçador já mostrou que tem pontaria, enquanto o coelho ainda não percebeu que nem jeito tem para se desviar do chumbo do inimigo. Assim, o coelho nem devia sair da toca. E ser tão manso quanto já o fora na sua coutada.