Até à morte
Estamos a entrar naquela fase em que tudo na vida tem de ser subordinado à disponibilidade de lutar até à morte por qualquer coisa considerada imprescindível para a própria sobrevivência.
Ainda que essa coisa seja também imprescindível para quem está do outro lado da barricada. Cria-se assim a necessidade de uma das partes ter de sujeitar-se à condição de imolado por justa causa.
Se não se puder vencer, morre-se. Este é o lema que cada vez mais se ouve em quem perdeu a noção de diálogo, de direitos e deveres recíprocos, da dignidade nas lutas e competições da vida.
Há dias, um jogador de futebol disse estar disposto a lutar até à morte pela sua equipa. Esta disponibilidade inclui certamente o uso da violência como um dos meios ao seu alcance para vencer.
Lutar até à morte significa que se despreza o princípio de que a vida é um bem supremo que deve deve ser preservado em quaisquer circunstâncias. A de quem vence e a de quem é vencido.
No desporto, costuma dizer-se, glória aos vencedores e honra aos vencidos. Ora, quem está disposto a lutar até à morte, só admite a sua vitória, esquecendo que o adversário pode ter mais valor.
Estas anormalidades são tanto mais graves por haver quem as estimule e quem as elogie. Normalmente, elas são fruto de frustrações passadas, de receios de que elas se mantenham.
Assiste-se assim a guerras surdas próprias de quem não sabe perder e quando essa desgraça lhes acontece repetidamente, pensam que há que lhes por fim, só porque não pode durar mais.
Vem aí mais uma época. O sinal está dado. A comunicação social já delira. Os clubes prometem ganhar tudo, por entre queixinhas e acusações aos adversários. E a coisa ainda não começou.