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afonsonunes

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A frase é conhecida e o seu autor também. E, na verdade, tirando-a do contexto em que foi proferida, ela ajusta-se na perfeição a uma hipotética briga institucional entre dois supostos amigos de muitos anos.

Não sei se essa amizade se mantem nos termos 'de dantes', embora as promessas de ambos pareçam garantir que nada mudará entre o otimismo irritante e o otimismo realista. Os termos irritante e realista são do mesmo autor, apesar do primeiro ter sido usado agora pelo sorridente otimista irritante.

Agora, nos meus prognósticos que não irritam ninguém, nada ficará como dantes no curto prazo, entre os dois amigos inseparáveis.

Simplesmente porque, para já, ambos precisam de igual modo um do outro. Não estou a ver como ficaria o país depois de uma briga a sério. Portanto, que não se entusiasmem muito os que dali espreitam uma oportunidade para voltar mesmo 'ao dantes'.

Porém, o que muda, é a atitude de um para o outro em tudo o que disserem. Tudo será mais pensado e mais comedido para que a amizade não descambe em divergências que fiquem arquivadas na memória de ambos e, quem sabe, para memória futura.

O que foi dito por um, e o que o outro não fez para que não houvesse grossa contestação ao que foi dito, vai manter discussões abertas com algum vigor durante muito tempo. Desde logo, porque está em causa o que cada um pode e não pode fazer nas suas altíssimas funções.

Já se fala em questões de regime e isso não é um pormenor de somenos em democracia. Tal como não o é o facto de se ser mais ou menos sensível a questões de liberdades de opinião individuais e responsabilidades coletivas.

Fala-se de censura ou falta dela, mas também se fala de entrada por campos que mexem com a dignidade de outros e de aproveitamento da contenção alheia.

Por tudo isto, se é que não há mais, há quem se agite e quem se manifeste como se o país já estivesse de pernas para o ar. Não, não está e não o estará, muito provavelmente, nos tempos mais próximos.

19 Out, 2017

Falar por falar


Um país não se governa com beijinhos e abraços e muito menos a passar os dias à procura deles nos momentos de tragédia.

Depois destes momentos e depois de enterrados os mortos, há que tratar dos vivos e não passar tempos infindos a estimular dores, em vez de olhar para a frente e enfrentar a vida.

Difícil? Sim, muito difícil, mas não há melhor remédio que enfrentar a realidade. Quem apoia Cristas e Hugo Soares nos seus desvarios, só pode estar tão raivoso como ela e ele.

Quanto a Marcelo, bom, ele lá sabe, mas se quer governar o país, como querem os inconsoláveis, intratáveis e incansáveis teimosos, e se quer ter Costa como seu secretário em S. Bento, no que não acredito, é capaz de não se sair tão bem como alguns julgam.

Começar muito bem, nem sempre é sinónimo de terminar em beleza. Aníbal Cavaco Silva que o diga. E foi com PS que se meteu a fundo. Para ir até ao fundo.

18 Out, 2017

Vergonha


Quando as conversas servem apenas para criar emoções com choradinhos, beijos e abraços como pano de fundo para criar empatias, bem se pode dizer que de conversas estamos nós fartos.

E estamos habituados a que os políticos sérios, que ainda os há, sejam constantemente vilipendiados só porque são coerentes com a realidade e não alinham na hipocrisia reinante.

Mas há quem aprecie muito a violência verbal, o insulto gratuito e a falta de vergonha na sua própria cara e não apontar para a cara dos outros.

Não precisamos de arruaceiros na AR, só porque não têm argumentos políticos sérios para derimir na política.

Era bom que esse circo político não fosse alimentado, sobretudo por quem tem a obrigação de o combater com verdade e com sentido de justiça.

17 Out, 2017

Aqui há gato


O regresso de Marcelo à TVI, agora como presidente, faz-me lembrar aquele dito popular que se emprega quando há qualquer coisa escondida que nem toda a gente compreende lá muito bem.
Até me parece que o gato escondido tem o rabo de fora, como que a dizer-nos que não podemos deixar de acreditar que o gato está ali mesmo, sem qualquer dúvida, e querem mesmo que o vejamos.
Marcelo, o bem recordado comentador da TVI, não se coibiu de voltar ao lugar que o guindou à posição que hoje ocupa. Não sei se vai ser criticado ou elogiado pela sua viagem a esses tempos.
Viagem que é tanto mais de estranhar pela forma como se assumiu ali, desempenhando o papel de pessoa comum com os seus sentimentos a voar em forma de quadros quase poéticos.
Parece-me que uma pessoa comum, não se encaixa bem no desempenho da alta missão que pressupõe ter um cargo tão elevado, sem dúvida o mais elevado do país. Logo, não comum.
Parece-me que o presidente não é o dono disto tudo, embora possa dispor dos destinos de muitos que se julgam donos de qualquer coisa pública. Mas até isso tem regras muito claras.
Na TVI, talvez se sinta mais solto para dizer coisas que não diz em Belém, embora, obviamente, só as não dirá se não quizer. E algumas coisas que disse na TVI, não serão simples afetos.
Marcelo até pode acabar com a legislatura do governo quando lhe apetecer. Até pode trocar a oferta dos seus afetos. Retirá-los a uns para os oferecer a outros. Mas isso merecia ser feito às claras.
Às claras, penso eu, que devia ser feito a partir de Belém como presidente e não da TVI como comentador. É que as televisões estão cheias de comentadores da treta. E Marcelo não o é.
Parece-me que a sua análise de hoje na TVI tendeu muito à distribuição de afetos de forma pouco coerente, dadas as vantagens dadas a uns, deixando omissões que prejudicam outros.
Tal diferenciação deixa um coro de interpretações dos tais comentadores do frente a frente, que só contribuem para lançar a guerra de intereses que nada mais dão ao país que não seja ódio.
Marcelo teve o condão de dar ao país uma estabilidade que andava arredia há muitos anos. Espero bem que se esteja a acabar com o ciclo bom e caminhemos para mais um ciclo mau.
(

03 Out, 2017

Os novos heróis


Por motivos antagónicos as eleições autárquicas ditaram dois novos heróis para a galeria dos seus notáveis. Para ser mais concreto, trata-se de uma heroína, fenomenal, e de um herói por lhe cair em cima tanta desgraça ao mesmo tempo.

Cristas, a heroína a quem saíu a taluda, ou o euro-milhões, ou a sorte de ter sabido correr com o trauma que liquidou o herói Passos, herdou deste os votos que ele deitou pela janela fora. O milagre do sucesso dela foi a desgraça que fez dele o incrível herói.

No fim de contas trata-se de uma heroína incrível e de um herói igualmente incrível. Dois heróis incríveis pelas circunstâncias em que atingiram essa notável distinção. E pela simples razão de que, nestas eleições foi como se não existisse PSD.

A direita teve de cair sobre Cristas, para não aturar mais Passos. Daí que ela fosse levada aos céus pelo esforço de aproveitar o que sobrou de Passos. Este saíu dos infernos porque teve a coragem de anunciar o esforço a que foi obrigado para sair de cena.

Mas há aqui qualquer coisa que está escapar a muitos inteligentes observadores. Passos prometeu não se recandidatar. Mas quantas vezes prometeu ele tantas coisas que nunca cumpriu? Cristas prometeu chegar a líder da oposição a nível do país. Mas quem lhe disse que o PSD vai estar sempre assim?

Costa tem bons motivos para ter tempo de se dedicar quase exclusivamente à gestão da geringonça, agora, uma geringonça recheada de carinhos depois de passada a fase de gozos azedos e de ódios disfarçados com sorrisos maliciosos.

À falta de melhores motivos para chamar o diabo, voltam-se agora para os insucessos do PC e do Bloco para fazer perigar a governação. Esquecem que o governo depende de todos os apoiantes e os apoiantes dependem igualmente do sucesso do governo.

Alguém estará a ver a situção do PC e do Bloco depois de uma crise que derrubasse o governo do PS? Essa não seria melhor que a situação do PS. Exceto para a heroína Cristas, que veria aí a tão desejada ascensão, não a líder da oposição nacional, mas a líder do governo do país. Quem não sonha não vive, mesmo no meio do reino da ilusão.

Obviamente que todas as pessoas e todas as situações têm um fim. Por vezes, até infinitamente mais depressa do que parece. Mas, tanto quanto se pode prever no momento, ainda vamos ter geringonça por mais uns tempos. Com muita pena dos passistas e seus mais diletos candidatos a sucessores.