Mas é que nem o presidente
Está precisamente a começar neste momento um mais que provável encontro de pouca vergonha futebolística em que à imagem do que aconteceu ontem em Braga, se dizia que estava em causa a liderança da primeira liga.
Ontem foi o Braga e o Rio Ave que se confrontaram mas, quem acabou por decidir tudo foi um senhor de apito na boca, com a complacência de um outro senhor que, não tendo apito, também não deve ter tido pontinha de coragem para que não houvesse pouca vergonha.
Dizem que o vídeo não engana, tal como o algodão, mas o que engana são as cabecinhas e a cor dos óculos que se tem por cima do nariz, bem como a cor dos apitos que entram em campo. E foi assim mais uma vez, num jogo de futebol que devia ser resolvido pelos jogadores dentro do campo, mas não foi.
Hoje, agora mesmo, estão frente a frente, na Luz, o Benfica e o Porto, com os olhos postos no primeiro lugar, que ontem também estava, no caso do Braga. E também aqui e agora, há fortes razões para acreditar que não serão os jogadores em campo a decidir nada.
Os principais decisores serão um leiriense e um portuense. Que boas razões levam a crer que, se um disser mata-se, logo virá o outro a dizer esfola-se. Nestas coisas a tradição tem muita força. E no fim do jogo, haverá consenso. Esteve tudo bem, porque tudo acabou em bem.
Sim, porque tudo acaba em bem para uns e muito mal para outros. Mas isto nunca é visto por uma data de presidentes que gostam disto, porque vivem disto, tal como nunca é visto por uma série de responsáveis a todos os níveis do desporto, principalmente do futebol, tal como nunca é visto por governantes, porque é notório que quase todos usam óculos de lentes de várias cores. E guerras entre cores de óculos é coisa que ninguém ousa desencadear.
Aliás, mesmo aquele presidente que fala de tudo e vai a todo o lado, ainda não foi ouvido sobre o resultado de um jogo de futebol, daqueles que decidem títulos, que dão títulos a um e tiram títulos a outro, que dão para conversas obscenas nas televisões, que dão para pedir prisão de uns e fechar de olhos para outros e muito mais.
Aqui, nem o presidente intervem nem a gente descansa de tanta pouca vergonha. Como se aqui não houvesse fogos que queimam gente ou não houvesse guerras sociais que destroiem mais gente que muitas bombas.
E já não vale a pena ter esperança de que alguma coisa mude.
Não estou a ver o jogo, nem tenho qualquer meio que me permita acompanhar as suas peripécias. Mas tenho imensa vontade que desta vez tudo acabe mesmo em verdade desportiva.