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afonsonunes

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25 Abr, 2019

Cravos e loisas

 

Começo por referir a minha estranheza pelo facto de Marcelo nunca se ter lembrado no seu discurso de hoje, de pronunciar umas palavrinhas sobre a situação da justiça, tal como o não fez na entrevista que deu à RTP1, no programa ‘O outro lado’. Que me lembre, tem sido assunto oculto nas suas intervenções públicas. Ora, há quem diga que a justiça é o maior problema de que enferma o país.

O único dirigente partidário que me tem surpreendido sobre a abordagem do tema justiça, é o presidente do PSD, Rui Rio. Penso mesmo que tem sido o único tema em que tem mostrado coerência, coragem e insistência em lembrar que o problema existe mesmo. Quanto a outros assuntos, tem-se mostrado completamente condicionado pelos desvarios dos seus deputados na AR.

Voltando ao programa ‘O outro lado’, foi surpreendente a atuação do azulado entrevistador. Azulado, pelo simples facto de tudo nele ser azul. Desde logo as gravatinhas e os fatinhos de todos os momentos e de todos os dias, a condizer exemplarmente com a cor predominante de tudo o que é a televisão pública. Aliás, há outros protagonistas que manifestam gostos iguais e tendências facilmente identificáveis, como se tivessem a obrigação de andarem sempre com a mesma ‘farda’.

Por outro lado, é surpreendente que as mulheres da RTP não sigam essa moda. Mas havia de ser interessante que a Sónia Araújo e o Jorge Gabriel se cobrissem diariamente com o azul da praxe. Mas esses, vá lá, ainda se compreendia. Mais ainda os governantes nortenhos, os deputados do norte e todos os pintainhos, dragonetes e macacos. Lá virá o tempo em que as relações familiares serão institucionalizadas e legalizadas se originadas e relacionadas com partidos, clubes ou corporações. Mesmo que sejam simples compadres uns dos outros.

Voltemos ao programa ‘O outro lado’. O azulado e altivo apresentador mostrou um desprezo absoluto pelas regras de cortesia a que o PR tem direito. Tratá-lo apenas por presidente, interrompê-lo frequentemente, ou insistir em atirar-lhe perguntas provocatórias, revelam uma notória impreparação para missões que requerem gente com formação para algo mais exigente que esboços de adepto de bancada que sabe mais que os técnicos da matéria.

Por outro lado, noutro canal, Ana Lourenço, Mário Centeno, Eduardo Marçal Grilo e Luís Nobre Guedes protagonizaram um debate onde tudo decorreu ao contrário da estupidez azulada. Gente com outros modos, gente que se respeita mesmo quando discordam, gente que fala e deixa falar, enfim, gente que sabe do que fala e, sobretudo, sabe como falar. Nem uma única provocação ao ministro, nem uma única interrupção nas suas intervenções. Que pena que a televisão pública tenha por lá tanto arruaceiro, certamente pagos a peso de ouro, quando há tanta gente com talento que não tem lá entrada.

A televisão pública prima por arranjar sempre desequilíbrios na discussão de temas que deviam ter representantes de todas as partes, privilegiando a controvérsia, os ataques a quem não foi convidado, permitindo a mentira, a chicana, as falsidades, sem qualquer tentativa de evitar tudo isso, no mínimo, chamando a atenção para comportamentos que afrontam o decoro e a seriedade.

E volto ao Presidente Marcelo para declarar que admiro a maneira como ele consegue estar em todo o lado, parecendo que os seus dias de atividade duram mesmo vinte e quatro horas todos os dias. Porém, penso que o cargo não devia dar lugar a que se criem dúvidas sobre determinadas abordagens dos poderes presidenciais, que não são ilimitados, obviamente, principalmente, no que respeita a considerações sobre assuntos da responsabilidade exclusiva do governo. Popular, o presidente é com certeza. Mas já há quem diga que é populista.

Mas também há quem diga que não e que, isso sim, é ser igual a si próprio. Se fosse populista, não deixaria de ser igual si próprio. Julgo que Marcelo tem necessidade de se mover, de falar, de mostrar a sua atividade, de aconselhar tudo e todos e, claro, dar muitos beijos e abraços. Mas, no fundo, não é dele que vem mal ao mundo, nem ao país. Podia, sim, no meu entender, entrar mais diretamente, mais concretamente, nos atropelos visíveis em certas instituições e corporações que, perniciosamente, estão a entravar um desenvolvimento mais rápido do país.

 

Ontem, quarta-feira, 17/04/19, pelas 20H00, aconteceu um feito histórico lá para os lados do grande Dragão. Obviamente porque matematicamente os -2 devem ter sido abalroados pelos +5 de ontem, deixando as coisas no resultado final da eliminatória de +3 para os azuis celeste.

Também obviamente ficam batidos vários recordes, o mais importante dos quais é a primeira vitória sobre os ingleses e logo por +5, e a seguir, à recuperação de -2 para +5, transformando em record memorável este feito apenas digno de uma reviravolta à Porto.

O que não admira mesmo nada, se considerarmos que toda esta época tem sido mesmo épica, sob o signo de sensacionais exibições e milagrosos resultados verdadeiramente à Porto. Daqui resulta que, principalmente, de há uns tempos para cá, há uma equipa maravilha que se distingue pela sua subida à liderança da liga em quase todos os fins de semana, durante algumas horas.

Claro que no jogo de ontem não correu o risco de liderar nada à condição, até porque não havia hipótese de ser um jogo de vai ou racha, mas sim e somente, um confronto de já vai para casa o rachado adversário.

Devo esclarecer que esse fenomenal encontro de ontem me passou ao lado. Não o vi, não ouvi falar dele, nem estou interessado em saber nada do que se passou no Grande Dragão. O que sei, e toda a gente sabe, é que eram, e devem ter sido, favas contadas. Quando uma equipa é tão badalada na sua coesão, na sua férrea e indómita vontade e na certeza de vencer tudo e todos, constituída por uma constelação de estrelas inigualável, está tudo dito.

E essa constelação de estrelas começa no topo da sua reluzente gestão e vai descendo pelo corpo técnico, jogadores, pessoal do estádio, sem esquecer os competentíssimos elementos da comunicação social, profissionais do clube e também todos aqueles que diariamente enchem as rádios, televisões e jornais da verdadeira grandeza dessa fantástica organização.

Chamem-lhes o que quiserem, pois os elogios ou os assobios não passam de pios de quem voa rasteiro, procurando atingir quem voa nas alturas, mesmo para lá das nuvens, onde o céu é sempre azul, mesmo enquanto cá em baixo, tudo não passa de enxurradas de lama e esterco.

06 Abr, 2019

Primos e primas

 

Não se tem falado e escrito de outra coisa. Aquilo que vinha acontecendo há um ror de anos rebentou de repente e provocou outra coisa espantosa. Nem mais nem menos que uma algazarra inaudita e incontrolada nas televisões e jornais com a questão das relações familiares no seio do governo que, imediatamente se prolongou para toda a administração pública.

Os primos estavam, e legalmente estão ainda, fora dessa proibição, pois o próprio primeiro-ministro disse agora que o assunto devia ser esclarecido para se agir em conformidade no presente e no futuro. Entretanto o primo e o tio decidiram demitir-se. Suponho que ninguém era obrigado a demiti-los. Porque no passado não eram só os primos. Eram mães e irmãos e daí para baixo. Haja decoro e memória.

O Presidente da República optou por ver o problema sob outro aspeto, dizendo que a opinião pública estava agora mais exigente que no passado. É caso para perguntar se quis referir-se à opinião pública ou à opinião publicada, pois não é líquido que a opinião da generalidade dos portugueses coincida com os dislates que temos aturado nos últimos dias. Mesmo sem querer entrar em pormenores de juízo da questão.

Marcelo não é igual a Cavaco. Diz-se que Marcelo não é populista, no que diz e no que faz, porque é igual a si próprio. Ora isto é o mesmo que dizer que todos podemos desprezar as leis e os costumes só porque somos iguais a nós próprios. Porque há quem seja igual a si próprio nas virtudes ou nos defeitos. No respeito e no desprezo da legalidade. Ora Cavaco também é igual a si próprio, quando diz que nos seus governos não havia nada disso. Assim, Cavaco não é populista, mas falta despudoradamente à verdade.

Quanto aos partidos, bastaria dizer que estamos em período de pré-campanha eleitoral. Logo, vale tudo menos tirar olhos… por enquanto. De mentir descaradamente até às ofensas de carácter ou aos ataques pessoais, tudo vai acontecendo normalmente, como se tudo isso fosse mais importante que discutir os programas eleitorais de cada força política. Nesse aspeto até parece que todos eles são primos e primas uns dos outros, tal a confiança de linguagem que utilizam.