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afonsonunes

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Felizes são todos aqueles que estão imunes a estes dois vendavais que atingem uma grande fatia dos cidadãos deste pequeno e ao mesmo tempo tão grande país. Não faço ideia de quantos serão esses felizes, ainda que mais ou menos, nem quantos serão os que se perdem de amores pela política e pelo futebol.

Quem se perde de amores por uma causa lá terá as suas razões para que tal tivesse acontecido. Ele há tantas causas para perdições, que é motivo para se pensar no que leva tanta gente a apaixonar-se por política e, ou, por futebol. Não falo dos profissionais da política, nem dos do futebol. Esses fizeram escolhas e a vida é feita de escolhas.

Refiro-me a todos aqueles que se perdem de amores pela discussão desses dois terramotos que abalaram as cabecinhas de inúmeros doentinhos, que sabem tudo sobre os profissionais desses grandes grupos da sociedade, embora uns não passem de treinadores de bancada, outros de animadores de conversas de café.

É evidente que a bancada ou o café são na realidade o espaço público de todo o país. E esse espaço estende-se por edifícios onde quem os ocupa devia ser o maior exemplo de bom senso e isenção, de seriedade e respeito pelo povo que, em última instância, é quem lhes paga os vencimentos, em muitos casos, balúrdios que afrontam a sociedade.

A AR contem um saco de víboras que discutem e fazem perguntas que revelam bem quantas vezes por ali campeia a ignorância e a petulância com que mimam quem ali é interpelado e quem os ouve pela TV, especialmente naqueles anacrónicos inquéritos que, normalmente, ou não dão em nada, ou contêm resoluções risíveis de partidarite.

As sedes de muitos dos clubes de futebol, os órgãos federativos respetivos, programas de TV com nomes engraçados, onde os intervenientes se caluniam uns aos outros de forma tão imprópria que fazem corar de vergonha, além de órgãos de soberania que ignoram o que os compromete e diz bem da ineficácia da justiça do deixa andar.

É por tudo isto que não raras vezes quando alguém nos pergunta qualquer coisa sobre política, apetece responder: viva o Benfica! Se nos perguntam o que pensamos sobre o inquérito à CGD diríamos: viva o Sporting! E se ouvimos falar de arbitragens, obviamente, pensamos: viva o Porto! E, já agora: vivam todos os outros clubes de que ninguém fala.

E muito mais que por tudo isso, só há um motivo de esperança para que tudo sofra o abanão contido naqueles apelos para que haja as desejadas mudanças. E esse motivo, não vem do Belenenses: mas vem de Belém. Afetos, muitos afetos, para todos quantos insistem em falar de ódios, de frustrações, de vinganças, de invejas e de desejos de fim do mundo.

14 Jun, 2019

Assaltos

Há partidos e cidadãos que estão muito preocupados com as diligências que as autoridades levam a cabo para que os direitos e deveres de todos os contribuintes sejam efetivamente garantidos, para que não haja favorecimentos a uns e castigos a outros.

Sobretudo o fisco tem estado debaixo de fogo por tentar que toda a carga fiscal não recaia apenas sobre aqueles que são cumpridores. Porém, os incumpridores queixam-se dos meios usados para o assalto. Diz o povo que onde todos pagam tudo sai mais barato.

E assim, logo vêm aqueles que entendem que o estado, o fisco, está apenas preocupado em assaltar os bolsos dos contribuintes. Muitos deles são exatamente aqueles que consideram que pagar impostos é uma injustiça, mas ainda uma prepotência de quem tem essa obrigação.

Assaltos maiores aos contribuintes são os erros da justiça que obrigam o estado a pagar indemnizações de milhões aos condenados indevidamente, após recursos para a justiça europeia. E quem provoca esses erros nem sequer é moralmente repreendido.

Assalto aos contribuintes são os privilégios concedidos a cidadãos, classes, corporações, sem olhar à justiça relativa entre todos, prejudicando sempre os mais desfavorecidos. O estado social não devia permitir que se distribuam compensações sem olhar às diferenças.

Assalto aos contribuintes são todos os salários e prémios superiores aos do Presidente da República, designadamente os que saem da Segurança Social, onde a grande maioria não vai além de umas centenas de euros. E até dentro destes, há critérios que chocam pelas suas desigualdades.

Ninguém pode compreender que no Estado, haja cargos que são escandalosamente remunerados, com o argumento de que se trata de técnicos altamente especializados. Mas que, mesmo quando falham e provocam grandes prejuízos, ainda recebam prémios escandalosos.

O país precisa urgentemente de ser moralizado. Sem contestar simplesmente a existência de ricos e pobres. Mas o estado social existe para proteger os pobres. E não para dar aos que não precisam, o mesmo que dá aos pobres. E nunca para dar mais a quem, podendo, nada faz.

As imoralidades não aparecem apenas nos políticos, nem estes são todos iguais. Daí que tudo e todos estejam sujeitos, cada vez mais, a apertadas ações de fiscalização, doa a quem doer. A corrupção não é apenas um vício. Tal como a vigarice. São fatalidades que têm de ser combatidas.

Dia 10 de Junho, dia de discursos, cheios de palavras, muitas palavras, muito bonitas para muitos, que gostam muito de ouvir aquilo que vai ao encontro do que lhes vai na alma.

Discursos comentados nas caixas de comentários nos tons mais inflamados escritos certamente por muitos daqueles que normalmente não vão votar.

Mas que gostam de ouvir quem diz que tudo está mal, que tudo vai de mal a pior, que escrevem coisas como ‘popolistas’, elogiando quem lhes satisfaz a mente ignorante ou empobrecida.

Que não sabem que quem aparece numa oportunidade de terem um palco único na vida, até é capaz de dizer o contrário daquilo que sempre mostrou na sua vida profissional de uma pobreza intelectual penosa.  

É fácil falar para gente que nada faz para modificar aquilo que apregoa e pensa. Acena-se-lhes com o xarope de vidas fáceis e milagrosas iguaizinhas aos corruptos que são todos os que vivem melhor que eles.

Mas também é fácil a quem tem responsabilidades atuais, lançar para o ar bálsamos palavrosos de uma indefinição que ilude, deixando que os menos atentos e menos conhecedores pensem em quem não devem.

Discursos para dar ilusões de riqueza a quem nunca quis fazer nada para que saísse da miséria, é deitar poeira para os olhos de quem vai ficando cada vez menos disponível para exercer o seu direito de voto.

Motivar e consciencializar não é coisa que se faça com bota abaixo, com raivas contra tudo e contra todos, porque sempre houve pessoas sérias e pessoas que atropelam quem os tolhe de serem o que querem.

Motivar e consciencializar é falar seriamente dos problemas reais e das possibilidades reais de os resolver, apontando caminhos que todos os cidadãos possam percorrer, sem a demagogia das soluções igualitárias.

O 10 de Junho não pode ser a ostentação de um luxo de milhões para iludir e motivar quem vive com muitas dificuldades para ter e manter uma família com as condições consideradas para vidas normais.

O 10 de Junho não devia servir para mostrar populistas exacerbados a excitar ódios e rancores contra quem, se não fez o que devia, que se lhes aponte o dedo, para que não pague o justo pelo pecador.

‘É talvez a ventania’ que amainou o panorama político nacional depois de ‘mas há pouco, há poucochinho’ os portugueses terem dado uma nega monumental na ida às urnas. E tanto se falou desse célebre poucochinho. Principalmente, todos aqueles que, à falta de melhor linguagem diária, não digerem geringonças nem poucochinhos.

Dessa triste manifestação de desinteresse pelos destinos das suas vidas, que tantos reclamam de violência de ventanias injustas, em contraste com a suave ‘balada de neve’, surgiu o milagre de uma mudança profunda e inesperada. O grande poeta Augusto Gil, terá previsto estas situações tão longínquas do seu tempo.

Foi uma balada sem neve, mas de uma suavidade altamente compensadora para quem não gosta de ventanias ruidosas, a roçar a violência verbal utilizada por quem não conhece as preferências dos detentores do poder que o voto tem.

E assim chegamos à balada do silêncio em que ‘nem uma agulha bulia’, como agora, com os barulhentos muito mais calminhos e calminhas, certos de que, excitados como estiveram, não chegariam a lado nenhum. E lá se iriam as ilusões de provocarem cambalhotas alheias.

Entretanto, ‘na quieta melancolia’ que se seguiu à ventania, surgiu a voz do providencial apaziguador saído das cinzas ‘dos pinheiros do caminho’. Marcelo de seu nome. Depois do cansaço dos beijos e dos abraços atirou-se a quem estava do seu lado direito e assustou os que estavam à sua esquerda.

Para quem é providencial apaziguador, surgiu nesta acalmia como um autêntico e imprevisto agitador. Mas não causou pânico, nem alarme, apesar do ditado que diz que quem não se sente não é filho de boa gente. O Rio turvou mas não inundou. Cristas de galináceos amareleceram mas não desmaiaram.

E foi assim que a esquerda se viu entre dois dilemas. Aguentar as incontinências de quem já não pode pensar rapidamente no que diz e no que faz, ou correr o risco de ver a sua comodidade democrática ameaçada.

Há coisas que se pensam mas não se dizem. Rio corre o risco de se afogar no meio das águas turbulentas da sua pertinência. Cristas, murchou as ditas e recuou estrategicamente na sua capoeira. Costa, não ouviu nada, como faz tantas vezes em situações semelhantes. Catarina e Jerónimo talvez tenham dito qualquer coisa sobre o assunto, mas não recordo nada de especial.

Quanto à comunicação social, de um modo geral, indignou-se levemente, pois, apesar de sentir o ‘desastre’ das consequências para os seus gostos, preferiram não levar muito a sério o ‘velho’ comentador, agora apenas com um sentimento de equilíbrio numa arbitragem desequilibrada.