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afonsonunes

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25 Jul, 2019

Reacendimentos

Amanhã, sexta-feira, haverá reacendimentos dos incêndios de Castelo Branco, Sertã, Vila de Rei e Mação. Não é uma previsão de um qualquer bruxo incompetente mas sim, a certeza de alguém que raramente se engana e nunca tem dúvidas. Esse tal alguém, sou eu, que me considero mais entendido e muito mais capacitado que quem inventou e divulgou essa máxima com grande acolhimento no meio jornalístico e suas clientelas.

Amanhã, mesmo que chova a cântaros, obviamente improvável, o Presidente Marcelo lá estará nos campos ardidos há dias, para os visitar, para falar com toda a gente que o queira ouvir e ouvir o que toda a gente lhe quiser dizer. Principalmente ouvir queixas, muitas críticas, algumas ideias para colmatar falhas do governo, estas, vindas daqueles que têm a esperança de virar o sentido de voto esperado na próxima campanha eleitoral.

O Presidente, que não quererá intervir nas sujeiras em que se transformaram as campanhas eleitorais, dirá o que já tem dito em situações semelhantes. Tudo será averiguado e apurado sobre as eventuais responsabilidades. Como a tendência e muitos interesses levarão os ouvidos a culpar o governo, obviamente que o Presidente está a aceitar implicitamente que o governo pode ter culpas pelo sucedido. Mas que culpas? Foi o governo que provocou as criminosas ignições? Foi o governo que distribuiu os meios pelos diversos fogos simultâneos? É o governo que cria as situações em que se torna impossível combater tais fogos, em tais circunstâncias?

Uma das causas que vai ganhando cada vez mais evidência neste e noutros casos que afetam os cidadãos, é o funcionamento da justiça. Já vi escrito que há uma guerra de juízes num determinado caso. Já me apercebi que há quem fale, e escreva, em divergências entre os juízes Carlos Alexandre e Ivo Rosa. Isto provoca de imediato a sensação de que a justiça está doente e precisa de urgente medicação.

Porém, os magistrados têm um estatuto tal que não há quem se meta nisso. A ponto de parecer que há medo em enfrentar esse poder absoluto, que pode perseguir quem o conteste. Só o Presidente tem poder para enfrentar esse evidente mau funcionamento dessa instituição chamada justiça. Ou não fosse o Presidente o garante do bom funcionamento das instituições democráticas como reza a Constituição.

Há um fantasma que se chama corrupção. Mas esse fantasma aparece logo na maneira como se encara o seu combate. Os magistrados exigiram ganhar mais que o primeiro-ministro e já lhes foi concedido tal privilégio. Agora já têm um motivo para ignorar o governo, até nas suas competências exclusivas. Desde Pinto Monteiro, ex-PGR, que esse cargo, está prisioneiro de sindicatos que atuam na área de órgãos de soberania como estruturas corporativistas intocáveis. Porque dominam o Conselho Superior de Magistratura, onde têm maioria. Só o Dr. Rui Rio teve a coragem de querer acabar com essa situação.

O Presidente Marcelo ouve muita coisa e muita gente. E muito bem. É o presidente dos afetos e das selfies. E muito bem. Mas também há coisas em que só fala delas genericamente, como se não se quisesse comprometer, nem comprometer ninguém. O que deixa muitas vezes pessoas e entidades em situações duvidosas e até comprometedoras perante a opinião pública que não tem o dom de entender até onde as suas palavras querem chegar. Por outro lado, gente que parece o que não é, está sempre na mó de cima, como se o país lhes devesse grandes homenagens. Mesmo as que lhes são prestadas oficialmente.

Amanhã, sexta-feira, o Presidente lá estará por terras de Castelo Branco, Sertã, Vila de Rei e Mação. Nesta última, especialmente, haverá uma estrela numa jaleca da Proteção Civil e num todo o terreno, também da Proteção Civil que mostrarão uma estrela humana falando da Proteção Civil que dirige no seu concelho. Mas talvez falando mais no governo que lhe disse umas verdades que ele considerou mentiras iguais às que tem propalado inconvenientemente. Pena que Marcelo não queira ou não possa claramente dizer quem mente e quem fala verdade, perante os factos que interessam ao país.
19 Jul, 2019

Recorrentemente

A gente percorre qualquer fonte de notícias, (ou chatícias, como já lhe chamou Ricardo Araújo Pereira num excelente artigo de opinião publicado na revista Visão) e deparamos com juízos terríveis sobre decisões de pessoas e instituições ocorridas há vários anos.

Decisões que foram tomadas em circunstâncias de excecionalidade, quer quanto a factos já de si excecionais, quer quanto à rapidez e urgência com que tiveram de ser tomadas, até pela pressão social e mediática que logo determinou essa rapidez, quase sem dar tempo a pensar para agir.

Passados vários anos, responsáveis pela divulgação das tais ‘chatícias’, levantam dúvidas e tecem acusações sobre quem teve de atuar em cima dos acontecimentos para evitar mais danos que os já provocados. E são os mesmos que se desunharam porque não se foi suficientemente rápido.

Depois entram os departamentos de justiça com o seu habitual passo de caracol, com investigações de anos, relatórios de milhentas páginas, pressupostos baseados em longas buscas à legislação aplicável, audição de testemunhas que pouco ou nada viram mas contando com muitos interesses à mistura.

Nada em favor dos ‘condenados’ é aceitável. Nada do que dizem tem validade perante a onda avassaladora. Nada do seu currículo, muitas vezes intocável, da sua dedicação às populações que os elegeram ou estimaram ao longo de vidas impolutas e sacrifícios vários, tem ali lugar.

E é assim que decisores desses, apanhados por catástrofes imprevistas, são atirados para a lama da justiça popular, para a condenação na praça pública, para o mar de veneno onde os pasquins pescam grandes parangonas, inventadas ou sugeridas pela pior espécie de desinformação.

Depois fala-se muito de corrupção. Como se os corruptos estivessem logo, desde o início, predestinados a esse anátema sem que os factos fossem apurados, confirmados e julgados. Como se entre os que acusam, divulgam e condenam previamente, não pudesse haver corruptos.

Mas, no meio de tanta confusão justicialista a que se tem assistido ao longo dos anos, instalou-se a convicção quase generalizada de que a pior corrupção é aquela que anda escondida na perseguição aos alvos que incomodam ou incomodaram grandes interesses bem instalados.

Que não haja dúvidas de que vivemos num país pejado de criminosos que se passeiam por todos os setores de atividade. Provam-no os casos que diariamente são detetados e provados. Mas dos quais, muitos ficam pelo caminho, por artes mágicas de bons defensores e de bons amigos.

E os bons defensores e os bons amigos têm várias origens e ocupações. Algumas bem elevadas, geralmente vocacionadas para essas latitudes. E nesse vasto campo não entra a corrupção, nem tão pouco a ganância e a acutilância dos pasquins que, a esse nível, não ‘chaticiam’ nadinha.

07 Jul, 2019

Intelectualmente

Sempre a questão de quem ganha muito e quem ganha pouco. Ou de quem já ganha muito mas quer ganhar sempre muito mais. Não olhando a meios para conseguir passar por cima de toda a lógica social.

Até porque são esses funcionários ricos de argumentos que se mostram muito pobres na compreensão de que não pode haver chantagens de qualquer espécie para a obtenção de privilégios, benesses ou regalias que ofendem quem não pode usar os mesmos argumentos para os acompanhar.

De um modo geral, os funcionários públicos são acusados de ganhar muito e fazer pouco em relação aos privados. Porém, tal como nos privados, há os que ganham principescamente e os que não passam do salário mínimo. Há funcionários que ganham mais que o primeiro-ministro e até que o presidente da república.

Somos quase diariamente surpreendidos com notícias de discrepâncias aberrantes. Por exemplo, um gestor que apresente resultados escandalosamente negativos tem de ganhar bem porque é altamente qualificado. Um magistrado tem de ganhar muito para não ser corrompido, mesmo que as suas decisões na justiça deixem muito a desejar. Um militar tem de ganhar acima da média, por ter profissão de risco elevado, mesmo que não saia do seu gabinete no quartel.

Seria natural que, com tais pressupostos, não podia haver má gestão, nem más decisões judiciais, nem guerras perdidas. Mas há. E sem grandes surpresas, até por aí passa muita da corrupção de que tanto se fala agora. Nem sempre sem visões distorcidas do problema.

Mas, entre eles, qual deles tem de ter mais competência no desempenho das suas funções. Qual deles corre mais riscos ou desgaste na sua saúde e na sua vida. Qual deles tem de despender mais sacrifícios ao longo da sua carreira. E qual deles é mais penalizado quando fica muito aquém do seu desempenho esperado.

Quanto a responsabilidades, há muita gente que ganha bem, que tem muito menos responsabilidades que muitos modestos funcionários que, ao contrário daqueles, se cometerem um erro qualquer, são prontamente julgados e condenados.

Há ainda uma coisa muito importante que distingue os pobres dos ricos. Até podem ser intelectualmente semelhantes em termos de dotes genéricos. No entanto, há os intelectualmente honestos e os intelectualmente desonestos.

Obviamente que quem faz estas avaliações são os que toda a gente conhece como intelectualmente hipócritas, quando não hipocritamente mentirosos. Para não falar daqueles que nem sequer têm qualquer vestígio de intelectualidade.

Não sei se sonhei com qualquer coisa relacionada com gente intelectualmente desonesta. Se não sonhei, não faço a menor ideia de como acabo de escrever sobre coisas destas.