Desequilibrista
Se equilibrista fosse quem cria equilíbrios, desequilibrista seria quem cria desequilíbrios. Esta novidade surgiu-me na noite de ontem ao assistir ao programa ‘Prós e contras’ da RTP1.
Programa que é comandado por Fátima Campos Ferreira, que diz ter de criar equilíbrios entre os tempos utilizados pelos seus convidados nas lutas quase sempre desequilibradas pela própria dona do programa.
Digo dona, com toda a propriedade, porque a própria, toma partido pelos prós, ou pelos contra, ao seu bel-prazer, intervindo para meter buchas a despropósito, interrompendo intervenções, não intervindo quando não lhe convém, mesmo para combater o mau hábito de não deixar falar quem, sobrepõe a sua voz, à de quem está no uso da palavra.
Ontem, o assunto era a eutanásia e a morte assistida. O seu lado favorito foi, desde o início, o grupo dos três do contra, com destaque especial para a participante do meio, que não se calava mesmo quando intervinham os prós.
Para calar os prós, a desequilibrista argumentava que era ela que dirigia o debate e, nesse sentido, tinha de equilibrar as intervenções. Por outro lado, os contra nunca foram interrompidos ou avisados de que deviam falar no seu tempo de intervenção.
Foi assim que a moderadora desequilibrada se tornou visivelmente a desequilibrista do debate do qual acabou por perder o controlo. No fim, deu a palavra ao líder dos prós, dizendo que era para encerrar o debate. A líder dos contra, desatou a falar não permitindo que a ordem fosse cumprida.
A moderadora, não conseguindo impor a ordem dada, acabou por ser ela a fazer o encerramento, com um elogio à beligerante, dizendo que gostava que o bom trabalho dela no privado viesse a beneficiar o serviço público, ou seja, sem dores insuportáveis, que no seu local de trabalho não existiam, nem nunca tinham existido. Calculo o que sentiram os prós no seu orgulho de profissionais.
Um dos do trio dos prós, chegou a dizer que estava no lugar errado pois era melhor ir para a plateia onde seria ouvido com mais atenção.
A líder dos contras disse que abanava tudo o que quisessem, ao ser-lhe perguntado porque abanava constantemente a cabeça em sinal de reprovação do que ouvia. Ao menos um ar de seriedade no espetáculo.
Os médicos dominavam as presenças entre os intervenientes mas não se entendiam e muitas vezes discutiam entre si acaloradamente.
Distinguiu-se também entre os convidados, a presença do selecionador de futebol que fez mais uma vez a apologia da sua fé, ao defender a igreja com vigor, citada por outros intervenientes. Na sua longa intervenção meteu a descrição da sua vida particular, na assistência ao pai, já falecido. Um momento de muita compaixão.
Quanto ao aspeto do esperado esclarecimento dos assuntos em causa, foi uma espécie de ‘tourada’ por entre pegas de caras, de cernelha e estocadas sem bandarilhas e sem olés de aficionados por vezes desesperados, além de assomos de ‘superioridade da superiora dona do programa’ nessa aflição de conseguir acabá-lo com equilíbrio e o sucesso do costume.