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afonsonunes

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28 Mar, 2020

Os meus heróis

Nestas alturas de crise como a que o mundo vive atualmente é muito fácil encontrar heróis, pois uma boa parte da população tem mesmo por dever trabalhar denodadamente para que o seu sacrifício resulte no bem -estar possível para os seus concidadãos.

A começar por salvar vidas ainda que se corra o risco de pôr em causa a própria vida. Quer seja através de ações de inexcedível coragem ou de rotineiras tarefas em que a profissão exija esforços suplementares para além das suas obrigações normais.

Nestes tempos que vivemos debaixo desta crise causada por um vírus que está a abalar o mundo e ameaça trazer consequências de níveis ainda completamente desconhecidas, só os loucos se permitem menosprezar a situação, como se estivessem a leste dos perigos que todos corremos. E loucos ilustres, é o que não falta neste mundo global.

 Esses são os anti heróis que desdenham da coragem alheia por verem que o seu poder ou o seu egoísmo pode vir a ser beliscado pela enorme vaga de heroísmo que se cria na sociedade, manifestando todo o seu reconhecimento e exteriorizando-o das mais variadas maneiras.

Manifestações mais que justas. Porém, essas manifestações atingem apenas uma parte dos heróis. Diria mesmo que atingem uma pequena parte deles, se tivermos em conta que quase todos os portugueses se têm comportado como um bloco de heróis, cada um no seu lugar.

Nos serviços de saúde, porque a sua obrigação é salvar vidas, e salvam-nas em condições muito difíceis, pois ninguém no mundo estava preparado para tal calamidade. Daí que, os médicos, desta vez, fossem os primeiros a receber honras de heróis. Mas há muitos mais heróis.

Desde logo, e começando por cima, governantes que não têm dia nem noite para coordenar medidas, tomar decisões difíceis e muito rápidas, quase sem tempo para pensar. Seguem-se as autarquias, os bombeiros, as instituições de segurança, com a PSP e a GNR à frente em todo o país.

Depois, todo o mundo empresarial de mãos atadas para não deixar fechar os seus negócios, os trabalhadores sem trabalho e sem dinheiro para sustentar as famílias, o povo em geral, constituído por idosos indefesos e por jovens dependentes dos pais e dos avós.

Mas, para exemplo, os milhares de cantoneiros que recolhem os lixos, ao longo das noites de anos a fio, sujeitos a fontes de infeções sem fim, sem que ninguém lho reconheça, também eles são verdadeiros heróis. Enfim, os portugueses em geral, vivendo mal, dão tudo o que podem pelo país.

Os anti heróis, que pouco ou nada dão a quem tudo lhes dá, não se cansam de exigir, agora e sempre, tudo o que o país não tem sequer para melhorar a vida de quem o serve através do milagre da solidariedade, da vontade e disponibilidade para que outros tempos venham para todos.

 

26 Mar, 2020

Coitaditos!...

É um lugar-comum dizer que vivemos tempos que nunca foram vividos por ninguém. Tempos presentes muito difíceis e que vão trazer, nos tempos vindouros ainda imprevisíveis, dificuldades que vão infernizar pessoas e famílias, sempre as mesmas, cujas vidas até correrão muitos riscos de sobrevivência.

Levantam-se já as vozes do costume que tanto pretendem mostrar que estão do lado de quem defende toda a gente, principalmente daquela gente que é o suporte de boas vidas a que se chega com hipocrisias e simpatias que só se conseguem à custa de muitas habilidades para saber parecer aquilo que nunca foram.

E aí estão eles, à custa de tempos de antena conseguidos por outros tantos coitaditos que alienam as responsabilidades de seriedade e isenção que os seus cargos requerem no papel, mas que por valores mais altos, impostos ou de sua iniciativa, aproveitam as amplas liberdades para conspurcarem o meio em que se movimentam.

Neste cerco sanitário em que a generalidade das pessoas se sentem, os coitaditos injetam veneno por onde podem, procurando por onde furam, encontrar deficiências, criar suspeitas, denegrir pessoas que tudo têm dado do melhor que têm dentro de si, para que os males alheios sejam minorados e o país se mantenha no melhor plano possível.

Assim, desde os mais altos cargos às pessoas que trabalham dia e noite, correndo riscos de vida ou sacrificando-se até à exaustão, muitos são os que só veem neles incompetentes e corruptos, pois tudo o que fazem, espalham eles malevolamente, é mal feito e em proveito próprio ou com fins de prejudicar aqueles a quem os salvam abnegadamente.

Há coitaditos, grandes e pequenos, até dentro do próprio sistema de saúde, agora tão fustigado. Gente que se queixa porque se julga a única que passa dificuldades, quando esquece que toda a gente sofre e muita gente morre porque não há meios nem remédios que permitam salvar toda a gente. Esses coitaditos deviam trabalhar. Mas onde fazem falta.

Algumas corporações e alguns sindicatos não hesitam em aproveitar esta onda de desgraças para reclamar tudo o que desejam, mesmo o que sabem de há muito que não é possível obterem, quanto mais agora que o país não consegue manter os portugueses no mínimo dos mínimos em relação às condições de que os coitaditos recalcitrantes beneficiam.

Os portugueses em geral, sabem o que é possível dar e o que é escandalosamente pedido nestas circunstâncias. O mundo dos pobres já dá sinais de ruir, mas o mundo dos ricos também já abana perigosamente, até porque sem os pobres, todos os ricos sem exceção, correm o risco de ver ruir todo o esplendor das suas extravagâncias.

O mundo já mudou e as mudanças maiores estão para vir. No futuro, não vai mais ser possível haver grandes e pequenos ditadores. Grandes e pequenos vigaristas à vista desarmada e em todos os setores de todas as atividades. O mundo é a natureza e a natureza tem de ser a base da vida. Quem ainda pensa que tudo vai voltar ao que era, que fuja agora. E já.  

14 Mar, 2020

O dono de casa

Na casa de quase todos os portugueses há uma dona de casa que é, nem mais nem menos, que aquela gestora de quase tudo o que acontece dentro do lar.

A partir de agora esta realidade pode ter mudado radicalmente, pois os acontecimentos determinados por um tal de Coronavírus, trouxe para o interior das casas, durante o dia inteiro, uma quantidade enorme de portugueses, o que implica uma nova necessidade de gestão doméstica.

Assim, além de uma dona de casa, passamos a ter também um dono de casa, que pode ou não, ser um ajudante da dona, ou esta passar a ser uma ajudante do dono. Tudo, da casa, obviamente, pois ninguém é dono de ninguém.

Chega a ser comovente como certos machões que nunca fizeram mais que sentar-se à mesa e comer, passam agora horas e horas a tratar da comidinha e a fazer as arrumações e limpezas de tudo aquilo que eles só sabiam desarrumar e mastigar.

Para estes novos donos de casa, este vírus foi uma bênção divina que finalmente concedeu às mulheres, mais um alvará que estipula um regime de igualdade caseira a todos aqueles que se julgavam os únicos a ter direito ao lar, doce lar, depois de um dia de trabalho que hoje, mais que nunca, ambos têm fora de casa.

Obviamente que este despertar de consciências entre donos e donas do lar, não compensa todas as contrariedades que vão arrasar procedimentos e sacrifícios, alguns pagos com a própria vida, de muitos milhões de pessoas.

Que vão destruir vidas que os estados não vão ter capacidades de evitar nem compensar, que os vários setores de atividade não vão poder colmatar por falta de meios de toda a ordem, que as pessoas serão sempre impotentes perante calamidades que as superam e vencem, por mais voluntariosas e solidárias que se empenhem nas suas missões profissionais.

Por tudo isso, se espera que todos os perfecionistas que sempre descobrem as suas perfeições apenas depois das calamidades acontecerem, não venham agora badalar tudo o que eles dizem, agora, ter sido previsível e evitaria todas as calamidades. Estes bruxos de ocasião já começam a inundar a comunicação social com aquilo de que ela gosta e lhe alimenta o sensacionalismo por mais desastroso que ele venha a ser depois.