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afonsonunes

afonsonunes

27 Jun, 2020

Parrachitagem

Decorreu há pouco, nesta tarde, um daqueles desfiles de gente espalhada (pouco) pela Avenida da Liberdade abaixo, palco frequente de manifestações contra ou a favor de qualquer coisa. Lá decorreu mais uma versão de democracia participativa ao ar livre. Também livre, porque fora das normas estabelecidas para a defesa da saúde, coisa que devia ser igual para todas as pessoas. Mas há pessoas que podem abdicar dessa defesa e pessoas que podem marimbar-se para essas coisas.
Obviamente que é sabido que as pessoas não são todas iguais, tão pouco os direitos e as obrigações não atingem igualmente pessoas importantes que estão acima de esquisitices dessa natureza porque são determinadas por pessoas de baixa qualidade e de baixo nível na sociedade que comandam. É por isso que há pessoas que podem passear-se em manifs de milhares de cabeças e há pessoas que estão proibidas de estar em grupos de mais de cinco.
As autoridades repreendem e dispersam sempre com bons modos grupos muito diversos de jovens que até são capazes de obedecer ou se atiram aos amáveis agentes da autoridade mandando-os para o hospital sem poderem proteger-se e defender-se do mesmo modo como são atacados. Fala-se tanto em procedimentos proporcionais e em justiça cega que nos leva a pensar que estas são palavras que estão a mais nos dicionários de português.
Porém, nesta descida da avenida de hoje, nada disto aconteceu. Em Lisboa, cheia de restrições de toda a ordem, onde tantas preocupações se levantam em todo o país e até no estrangeiro, mais de mil pessoas dizem, puderam fazer inveja aos jovens que não podem sair de casa, ou se podem, não lhes é permitido fazer o que se fez na avenida hoje, ou em outros locais em outros dias. Depois, houve ainda duas personalidades (almas gémeas?) que deram nas vistas.
Mas que par: um Parrachito e uma Parrachita!!!!!!!!!! Haverá coisa mais bonita??????? No entanto, mesmo em tempo de pandemia, qualquer um mia... E em Portugal, miar, ladrar, zurrar, balir, investir, marrar, pegar e escoicear, tudo é legal, democrático e apenas eventualmente sujeito a ações pedagógicas de sensibilização. Mas o povo continua a não ligar muito à 'parrachitagem' que já se julga uma multidão!!!
Hoje, também eu resolvi usar a minha liberdade de expressão especial. Aquela liberdade que outros usam e está tudo bem. Logo, espero que ninguém me critique ou chateie, por esta licenciosidade repentina que me atacou de surpresa. Espero, porém, que tenha sido um ato irrepetível, sobretudo, com a intervenção nas ações de parrachitagem.


Está muito difícil conviver com tanta irresponsabilidade de quem, nesta pandemia, fornece tantas oportunidades de ataque a uma sociedade medrosa, assustada, frágil e em muitos casos com gente, famílias inteiras, sem o mínimo de sustentabilidade, para lá da caridade pessoal ou de várias instituições.

Sem qualquer espécie de dúvidas essa irresponsabilidade vem de pessoas que vivem permanentemente num estado de ódio contra todos os organismos públicos, contra todos os responsáveis políticos no poder ou na área próxima dele, deslizando mesmo para a marginalidade e o crime, por atentados às leis que regulam o país.

Esse ódio, em muitos casos, é mesmo evidente em cidadãos conhecidos pelos seus atos criminosos repetidos, pelos seus discursos rancorosos pejados de mentiras e pelos seus comportamentos ilegais, sem que haja a correspondente actuação das entidades a quem compete zelar pela segurança dos cidadãos e pelo cumprimento das leis vigentes.

Começando pela pandemia, é fácil e simpático da parte de quem diz que os portugueses são cumpridores, acatam bem o cumprimento dos seus deveres e respeitam os direitos dos seus concidadãos. De um modo geral sim. Mas há responsáveis que parecem ignorar que há os outros, os que tudo fazem para que tudo corra mal.

Até certa altura, as pessoas que tinham mesmo de andar na rua, usavam máscara e evitavam entrar em contacto com os outros. Agora, principalmente os jovens, não ligam nenhuma a isso, desdenham de quem liga e uma boa parte de quem anda na rua, mesmo gente de risco evidente, usa a máscara apenas pendurada bem abaixo do queixo.

Os ajuntamentos, as reuniões, os convívios, as festas, são escandalosamente atentados à saúde própria e alheia, para além dos custos que contribuem para que o país fique cada vez mais vazio de recursos. Urge que se fiscalize, que se faça cumprir as normas sanitárias, punindo e responsabilizando os transgressores. Sem contemplações.

De igual modo, os criminosos incendiários já começaram a mostrar que o verão é o seu ambiente preferido para tentar mostrar que tudo está mal no combate aos incêndios. E logo as matracas do costume se atiram aos governantes, acusando-os de não terem aprendido nada com o passado. Quem não aprendeu nada foram essas diabólicas matracas.

Diz-se que tem de se acabar com esses trágicos acontecimentos. Mas não dizem que tem de se acabar com os criminosos que não dão tréguas dia e noite, em complicar as tarefas de quem não dorme para os evitar. Alguns são presos, mas não são notícia. Se chegam à justiça, logo voltam àquilo que sabem fazer bem, talvez bem pagos por alguém.

E volto a um tema que já tenho abordado várias vezes. O futebol e a justiça, duas coisas diferentes mas que aparecem juntas como se não pudessem viver uma sem a outra. Também agora nesta pandemia é surreal como se permite tanta conversa virulenta, tanto silêncio pela falta de processos a uns e pela estranha insistência deles a outros.

O futebol e a justiça mais parecem um manancial de pandemias, onde há muita hipocrisia a espalhar cortinas de fumo, muitos grandes e pequenos gangs  que vivem da impunidade dos mais fortes no jogo das influências e de falsas denúncias para se manterem resguardados nos seus redutos nunca atingidos por quem tanto entra nos dos outros.

Pepe jogou muitos anos em Espanha, mais concretamente no Real Madrid. Daí que os espanhóis o conheçam perfeitamente e um periódico do país vizinho publicou agora um artigo em que o coloca pelas ruas da amargura.

Os portugueses atentos a este fenómeno desportivo que é o pontapé na redondinha, como o classificam alguns doutores da modalidade, não desconhecem as tristes figuras que este ainda jogador da seleção nacional e do Futebol Clube do Porto, costuma mostrar em campo.

Virulento, violento, truculento, são definições do seu feitio que tantas vezes marca as suas atuações, tantas vezes com  consequências lamentáveis para os seus adversários. E não faltam  exemplos dentro da área de influência de quem lhe aceita essa faceta indomável. 

Há quem veja nele um jogador de raça, um corajoso, um jogador à Porto, um exemplo para todos os seus companheiros, que desde há muitos anos tem levado a equipa portista a beneficiar de uma complacência ímpar em relação ao nível disciplinar praticado no país.

Aquilo que se lhe louva é aquilo que frequentemente se verifica nos procedimentos de muitos adeptos, especialmente a sua claque, mas também os seus dirigentes todos ou quase todos tocados por essa tosca virtude de clubismo que contaminou decisivamente o futebol nacional.

É óbvio que sendo um vírus, transmite-se com muita facilidade e a propagação torna-se imparável, refletindo-se negativamente na vida do país, pois muitos setores dessa vida e até órgãos decisivos e a própria justiça, ficam amarrados a influências altamennte perniciosas.

O nosso futebol tem três equipas chamadas grandes, mas não é difícil reconhecer que, presentemente, são três grandes pequenos. E se nos voltarmos para o dirigismo clubístico, a pequenez é igualmente assinalável, bem como a arbitragem interna, que até faz melhor lá fora.

Depois, talvez pelo clima em que desenvolve a sua atividade, a imprensa desportiva, as televisões com os seus desbragados comentadores, criaram uma sociedade de quezilentos discutidores de futebol capazes de venderem a alma ao diabo em permuta de dislates.

As coisas estão de tal modo enraizadas no país que parece não haver já quem tenha a lucidez de ver que isto tem de parar algum dia. Tal como já houve avanços em alguns países. Quem não sabe ou não pode viver sem isto, deve ter mesmo a coragem de sair de cena. A bem do país.