Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

afonsonunes

afonsonunes

30 Jul, 2020

A minha playlist

Desta minha lista constam nomes famosos que ajudaram a a pendurar o país com uma grossa corda ao pescoço numa árvore de grande porte de um jardim com frondosas sombras que acolheram muitos acalorados cidadãos a transpirar batota e vigarice por todos os poros.
Notável contraste entre a imagem de um país enforcado e a imagem de cidadãos que se refrescaram sob a sombra da árvore que vitimou o país. País que não tem meios para dar caça a muitos que constam da minha playlist mas teve e tem meios para sustentar os seus palpites.
Sim, há suspeitas ou indícios que perduram após investigações de muitos anos, convicções de crimes que levam à prisão, tudo movendo meios humanos e dinheiro, muitos milhões em muitos anos de infrutíferas acções que impedem investigações sérias a potenciais criminosos.
À cabeça da minha imaginária playlist aparece um justiceiro e um procuradeiro logo seguidos por uma joaninha de asas brancas que já foi esvoaçar e poisar fora da floreira onde nunca devia ter pousado. Com outros protagonistas neste insólito jardim o país estaria muito mais justo.
Seguem-se um coelho malinado, um feirante comentador e uma luíz albu-quer, que como trio demoníaco criaram um cerco atroz ao povo português que vai levar muito tempo a esquecer. A estes nada de mal aconteceu depois do tudo de mau ter ficado no injusto esquecimento.
Entra agora na minha playlist a banda dos opinioneiros onde se destaca o contrabaixo, muito baixinho. Sentado, irradia ondas curtas, frente à poderosa interlocutora musculada. Toca com as mãos, os pés e a língua alimentada pelos chocalheiros que vão do dó, passam pelo fá, até ao sol.
Também não posso prescindir, mas de todo, da avó manela de leite, que foi perita em 3P (parceira, pública-privé) como também não ignoro o duro burroso e o são do tanas, todos ótimos companheiros de cordas que ainda hoje atacam os seus instrumentos criando músicas para cegos.
Mais recente, riu roi, artista de concertos tão desconcertantes que nunca merecem umas palmadinhas sequer, pois os seus e os outros, estão sempre de pé atrás às notas desafinadas. Até parece o concerto dos pós e contas, onde todos são contra e o dooutrolado, da ferreira e do faria.
A minha playlist podia ser muito maior mas a verdade é que nem nesta encontro o mais pequeno prazer em ouvir os seus discos riscados. Cada vez mais adoro o silêncio dos instrumentos arrumados num cantinho onde não cheguem as mãos que os adulteram e me ferem os ouvidos.

Espichialistas em contas
Já cheira a dinheiro mesmo a uma distância tal que a vista ainda o não alcança. Porém, o cheiro dele é já inconfundível. Cheiro a mofo, apesar de se saber que vem em notas novinhas em folhas acabadas de sair das rotativas do banco que se diz do centro europeu.
A intensidade do cheiro espicha os pescoços na direção do além na tentativa de que os olhos esbugalhados permitam intensificar a sensação de que os braços estendidos e as mãos ao alto bem abertas possam tocar nos retângulosinhos inconfundíveis de felicidade.
São os sonhados fundos de solução de todos os problemas infiltrados nas vidas dos cidadãos de toda a Europa em que aqueles que pagam mais, vêem um vírus diferente nos que recebem menos do que acham que os outros deviam pagar. Sempre as diferenças entre ricos e pobres.
Ainda que essas diferenças sejam acima de tudo de natureza complexada da superioridade que os infeta, contra a fraqueza dos que, segundo eles, não sabem controlar os seus erros e vícios na governança das suas vidas. No fundo, os fundos são apenas um desperdício.
Por cá um autêntico desperdício são as discussões acaloradas de uns, e raivosas de outros, na certeza de que os fundos devem ser distribuídos pelo método de cada um desses espichialistas, já que não há no país quem, entre corruptos e incompetentes, o possa fazer seriamente.
Sim, temos espichialistas a mais e gente séria e competente a menos. Os verdadeiros especialistas e responsáveis por essa tarefa difícil e complicada, apressam-se a fazê-la o melhor que sabem e podem, para contrariar que essa tendência negativista passe lá para fora.
Quando vemos tantos responsáveis de outrora pelo triste estado do país, a falar de cátedra sobre esses erros e a forma como devem agora ser evitados, dá vontade de lhes exigir que se calem para bem do país e dos portugueses. Alguns surgem agora após longa quarentena política.
Aliás, as televisões ressuscitam a toda a hora esses videntes para os seus espaços de comentários, como verdadeiros espichialistas de tudo o que constitui matéria da governação do país. E lá vão inventando previsões sempre negras como breu, para gáudio dos seus clientes.
Argumentam que o país tem má fama no exterior, que tem corruptos a mais, que é governado por incompetentes, que não sai do ciclo vicioso que dura há muitos anos. Bem mais valia que cada um contribuísse com o seu esforço e ajudasse a corrigir os erros do seu próprio passado.

Isto cheira-me a desculpa de alguém que sabe que não manda. Mas deixa-me uma dúvida e a pergunta: e se mandasse? Obviamente que quem assim se manifestou, no mínimo quis dizer que não lhe atribuíssem culpas pelo facto de a polícia não ter permitido transgressões a determinações superiores.
Isto depois de pouco antes ter feito um apelo aos seus fiéis seguidores para que respeitassem escrupulosamente essas mesmas determinações oriundas das entidades que superintendem na saúde. Acrescentou depois que terá muito gosto em ver que os seus procedimentos e desejos antigos voltassem a ser o que eram.
É óbvio que ninguém manda na polícia ainda que haja quem julgue ter o direito de a ter sempre do seu lado, mesmo quando a legalidade é atropelada. E quando a polícia não deixa mesmo que mandem nela, lá vem a lamuria de sempre das vítimas de um poder usurpador. E o seu ego não tolera que, seja quem for, lhes trave o orgulho ferido.
Infelizmente o país só tem duas regiões autónomas. Mas tem aspirantes a serem presidentes da sua região continental. E então não aceitam, por exemplo, que a capital do país, tenha o governo desse país, que tenha órgãos de soberania instalados no seu seio, que tenha infra-estruturas cuja dimensão e importância tenham âmbito nacional.
É a ciumeira tradicional de quem quer ter todos os direitos do mundo mas não tolera que lhe exijam obrigações. Porque há, por exemplo, presidentes de câmaras municipais que se julgam reis nos seus domínios, quando se trata de poleiro, de decisão de interesses nacionais ou da distribuição de recursos para o país todo.
Há pois uns senhores que não mandam na justiça, mas recorrem a todos os meios para a controlar. Não mandam no desporto, mas têm as suas máfias organizadas para o subverter. Que não mandam na comunicação social mas conseguem infiltrar nela uma quantidade de equipados que lhes garantem uma total subserviência.
O poderio de tal sistema atingiu uma dimensão tal que o próprio poder do estado está cativo de cidadãos eleitos que sabem que no dia em que quiserem ser independentes verão a sua popularidade ser cilindrada por um vendaval de notícias que lhe abrirão caminho para a renúncia ou verão fechar-se-lhe todas as possibilidades de reeleição.
Tornam-se assim agentes condicionados no exercício das sua funções por uma espécie de medo de cair a todo o momento no abismo da opinião pública, de tropeçar no pé que lhes arma a rasteira, vendo o cartão amarelo ou vermelho neste rolar de uma bola quadrada. Onde até o árbitro e os seus auxiliares se vêem obrigados a engolir apitos e a baixar bandeirinhas.

Três não são demais mas a verdade é que a nossa política interna anda um bocada bloqueada, sem que se veja uma maneira de provocar um desbloqueamento razoável para a governabilidade do país. É evidente que temos um partido chamado Bloco de Esquerda.
Temos um segundo bloco constituido pelos partidos de esquerda que tem dado o seu apoio ao governo do Partido Socialista desde que este substituiu o governo do PSD e do CDS, os mais destacados partidos de direita. Destacados, sobretudo, pelo bloqueio que impuseram ao país.
E vamos ao terceiro bloco, o mais polémico, para além de ser o mais desejado por muitos portugueses de vários quadrantes, mas também o mais odiado pelos atuais líderes do PSD e do PS. É o chamado Bloco Central que já governou o país. Bem para uns, muito mal para outros.
O Bloco de Esquerda conquistou a terceira posição do espectro partidário português e tem assumido uma postura negocial com alguma relevância junto do PS. Obviamente que por vezes exagera no que exige, esquecendo que nunca ganhou as eleições para governar.
O PS e o PSD são desde sempre os dois grandes responsáveis pela governação do país em democracia. Ambos entendem agora que têm projetos muito diferentes pelo que devem lutar pelas suas alternativas e não procurarem meras misturas de projetos de poder pelo poder.
Marcelo Rebelo de Sousa foi um grande defensor do Bloco Central e foi evidente que desde que assumiu a Presidência da República teve o sonho de concretizar essa aspiração. Costa e Rio, mais próximos do que aparentam, rapidamente esfumaram esse desejo presidencial.
Costa é hoje o político mais clarividente do país, pois tem sabido conciliar interesses tão divergentes como são os que Rio por vezes, no desejo de ser diferente, manifesta claramente à margem do povo e do país. Além da picardia ciumenta dos relacionamentos do PS.
Costa tem tido um papel importantíssimo nos contactos que permanentemente mantem com os seus pares europeus. E tem sabido conviver sabiamente com Marcelo Rebelo de Sousa. Tarefa que nem sempre parece fácil. Mas é inegável que ambos ganham com isso.
Marcelo cometeu, no meu entender, a maior distração do seu mandato quando há dias elogiou a justiça na sua atuação no caso BES/Ricardo Salgado. A justiça já deu vários sinais de que anda em contramão com o país. E o país merecia que o Presidente fosse mais claro e conciso.

15 Jul, 2020

Quase completamente

Confesso que vou caminhando para aquela fase da vida em que tudo é quase completamente. A cada dia que passa mais se ouvem frases que me deixam quase completamente varrido. Ou seja, não me deixam completamente varrido por causa daquela palavrinha 'quase' que, no caso, serve de travão ao meu estado de parvoíce total.
Vamos lá supor que eu penso que o nosso presidente Marcelo é 'quase completamente' um estorvo à separação de poderes dos órgãos de soberania do Estado. Presumo que Marcelo só não é estorvo porque quase o não é. É este o pomo da discórdia que me afasta de certos frequentadores especiais de espaços de comentadores das TV's.
Partindo deste princípio o nosso PM António Costa é quase um ignorante comparado com outros Antónios Costa que estão ditribuidos por lugares estratégicos dos nossos meios de comunicação social. Por que o PM faz quase tudo completamente errado e quem o critica faz e diz tudo quase completamente às cegas, mas completamente certo.
Ontem, os três presidentes do Porto, (Câmara, Clube e Conselho) num tom quase completamente anacrónico, foram acalmando o pagode, no sentido de se conterem (depois estimulando) na iminência de uma conquista que estava quase no papo, a aparecer via derrota de um adversário que tinha de perder quase completamente esse joguito.
Hoje o cenário é quase completamente o mesmo com outra vítima. Que não pode ganhar mas que até pode empatar para que o tal pontito que não surgiu ontem por fora, apareça hoje por dentro. Se não foi ontem será hoje quase completamente de certeza. Certo é que este quase completamente tem de se transformar em simples completamente.
Quase delirei ao constatar que uma baleia azul de ontem num ecrã azul, excitada e risonha ao falar do pontito do outro, que acabou por ter os três, fazendo que a baleia aparecesse vestida de vermelho, mas igualmente excitada e risonha com o pontito que tem de vir hoje, ainda que a vítima tenha de acabar o jogo quase completamente frustrada.
É um facto que o quase e o completamente não jogam um com o outro. Ou é quase ou é completamente. Ou talvez seja um vírus gramatical. Vírus que já infetou completamente a vida política do país. Pois os ecrãs e os papagaios são capazes de tudo por um qualquer pontito que lhes dê a sublime sensação de que vão trepar as escadas da fama.