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afonsonunes

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Parece que toda a gente devia estar feliz se a saúde e o forno funcionassem na perfeição. Mas, na verdade não é assim, até porque há sempre gente que nunca está feliz de maneira alguma. Bem sabemos que é muito difícil nos tempos que correm haver alguém que se considere completamente feliz. Ou simplesmente feliz.
Porém, a felicidade é um bem muito escasso e tem múltiplas maneiras de ser medida. Ter saúde e ter comida em cima da mesa todos os dias, é já um factor de satisfação para muitas famílias, especialmente as menos favorecidas e as mais vulneráveis. No lado oposto, quem não tem preocupações dessas, tem outras, nem sempre menos preocupantes.
Quando o dinheiro não abunda, mesmo mal distribuído, as rotinas lá se vão encaixando nos diversos extractos sociais, dado que cada um deles sabe com o que conta: muito pouco, pouco ou nada, bem como entre os que sobrevivem, os que apenas vivem e os que esbanjam escandalosamente. Mesmo estes, lá têm as suas complicações.
Apesar das terríveis consequências da pandemia que assusta e até mata, anda no ar um cheiro a montes de dinheiro que perturba até aqueles que mais têm. Porque os assusta que a fatia que lhes vá caber seja desproporcional ao seu egoísmo. Que uma parte desse dinheiro destinado a suprir desemprego e miséria, lhes fuja do controlo.
Trata-se do dinheiro da UE que está prometido aos países que a compõem para compensar as consequências da pandemia. Pelo seu elevado e invulgar montante, agitam-se governantes, agitam-se partidos, agitam-se confederações patronais, agitam-se sindicatos e agita-se toda a espécie de corporações e organizações.
Todos desconfiam, ou não confiam mesmo, na competência de quem vai ter a difícil missão de distribuir esse balúrdio. Daí que já tenha começado a guerra do bota abaixo ao governo, manifestado nas críticas à saúde, agora em foco, como meio de influenciar quem seja vítima de situações decorrentes de circunstâncias absolutamente anormais.
Sim, os milhares de milhões cegam os ambiciosos, os gananciosos, os mentirosos, os poderosos, os criminosos, os raivosos. Até os estúpidos, os ignorantes, os revoltados, que nada sabem, mas que para tudo têm uma solução: correr com o governo e todas as ramificações que detêm o poder. Para quê? Não sabem, mas diriam o mesmo do próximo.
Como se alguém fosse capaz de tomar melhores medidas sanitárias, mas este é o argumento mais a jeito de tentar encostar o governo à parede, forçando, através de chantagem política, influenciar a aprovação do orçamento que vai ditar o destino do balúrdio previsto. Tudo e todos querem entrar nessa guerra da benesse que aí vem.
No entanto, há outra guerra camuflada no meio desta pandemia. Também já anda no ar o colorido do folclore das próximas presidenciais. E o presidente Marcelo, com a preocupação de mostrar a sua independência, vai mostrando o seu pendor para agradar a gregos e a troianos. Por vezes com farpas a quem menos as merece.
Haja saúde e coza o forno. A saúde tem aspectos incontroláveis e há deuses e demónios que dificilmente se conciliam. Como em tudo, há um céu e um inferno que acolhe indiscriminadamente os bons e os maus da Terra. Mas cá nesta Terra, há infernos que nem o calor dos fornos do pão minimizam o sofrimento da fome que ainda leva ao outro inferno.

17 Ago, 2020

Ruis

Os Ruis
A atualidade portuguesa em termos de personalidades de quem se fala diariamente nas notícias, parece revelar uma certa predominância dos Ruis, em matérias dominantes como é o caso do futebol, da política, da justiça e outras de menor relevância mas igualmente interessantes.
E quando os casos assumem algumas susceptibilidades recorre-se a um Rui virtual para sacudir as moscas do casaco.
Não podia deixar de começar pelo insigne Rui Pinto de Costas dada a sua influência em todos os processos encravados na justiça, mais concretamente, nos domínios do dominante Rui Carlos Alex. De Costas tem, ou pensa-se que tem uma enorme relação de proximidade com o Rui Jorge Nuno.
Até podia pensar-se que se trata da mesma pessoa, Rui Jorge Pinto Nuno da Costa. Mas não. São apenas e só dois importantes ativistas do tal canal de televisão onde se falou muito e de há muito tempo, em toupeiras e outras espécies subterrâneas.
O Rui Carlos Alex aparece muito ligado a meios dessa espécie de justiça, tipo correio matinal, onde se fabricam grandes jogatanas combinadas entre canais e os Ruis Jorge Nuno e Pinto de Costas. Depois as coisas rolam e enrolam anos e anos nos mentideros à espera do salvador que tudo o indica, acaba de ser descoberto: o grande Rui Pinto de Costas.
Isto até parece uma grande derrota do mistério público que neste tipo de processos de grande complexidade se tem revelado um verdadeiro mistério altamente privatizado e indecentemente controlado. Como agora está na moda haver muito medo de represálias e receios de uma justiça de cegueiras, ninguém denunciava nada nem ninguém.
Ninguém denunciava nada nem ninguém mas eis que apareceu o Rui Pinto de Costas que pôs tudo e todos em alvoroço. E logo despertou o também denunciante corajoso e não medroso Rui Santos e Santos que demonstra saber tanto ou mais que o Pinto de Costas. E não precisa de ser contratado nem arrecadado por causa dos perigos de 'quem anda à chuva' molha-se.
Eu também sou Rui mas não sei da missa a metade. No entanto, já me constou que há quem julgue que eu sei mais de política que o Rui do Rio do Porto, agora do Tejo, perdão da Lapa, o tal que não sabe mesmo nada do nadar no mar da politiquice. Embora dê umas braçadas na piscina, desde que ela não tenha muitas ondas e não sejam muito compridas. Mas indubitavelmente sabe um pouco mais que o Rui do Largo do Caldas, que esse, coitado, só sabe pedir demissões de quem não conhece de lado nenhum e não lhe liga nenhuma.
Como estou no país em que a justiça não é cega, trago à luz do dia o juiz Rui Águia Rangel, ou Rui Águia Real que, comparado com todos os Ruis Pintos já referidos, mais todos os Ruis azuis e brancos do passado e do presente, é mesmo o único representante de uma justiça realmente cega na verdadeira acessão da palavra e do conceito.
Uma referência ao Rui Miguel Guimarões para lhe pedir que não se canse demais no Alentejo a estimular que colegas seus se dediquem à caça de socialistas, pois a caça é muito mais abundante entre os lares do norte, até porque aí pode escolher centenas de locais para fazer centenas de relatórios mais comoventes e mais despidos de trajes da cor que tanto lhe fere a vista.
Para terminar só duas palavrinhas aos dois grandes Ruis da atualidade nacional. Ao Rui Marcelo Rebelo uma saudação muito especial pela sua 'incansabilidade' diária e noturna e pelo fluxo informativo que arrepia muita gente: especialmente jornalistas e governantes. Ao Rui António de Costas a minha gratidão pelo seu jeito especial de contenção verbal em favor do seu superior Rui Rebelo. Apesar do nome ele é mesmo anti de Costas, contendo muitíssimo do que lhe vai na alma.

A propósito de falar bem e falar mal, verifico que não entendo como é que há gente que fala tão bem, na rua, nos salões, nas reuniões, nas televisões e em todas as ocasiões, mas até parece que essa gente leva isso tudo como se estivesse permanentemente em diversões.
E então vem-me à ideia aquela coisa que o povo diz, mas por palavras minhas, que é, vozes de um animal muito simpático não chegam ao céu.
Obviamente que não estou a insinuar que toda essa gente se comporta como esse simples e modesto animal. Não, é apenas uma imagem de quem não consegue dar boas palavras, pelo menos iguais àquelas que houve por esse país fora. E dentro desse país, obviamente.
Porque a ciência do falar é como a sapiência do ouvir. Há quem só oiça o que lhe convém, tal como há quem só diga o que lhe interessa. E então, quando os microfones aparecem de todo o lado e as perguntas brotam de bocas que albergam línguas pouco limpas, o circo está montado mas as palhaçadas florais não mudam nada de nada.
De boas intenções está o inferno cheio. Mas as boas intenções, se existem, estão muito escondidas e eu não as entendo, melhor, não consigo descortiná-las. Sobretudo, quando vindas de quem tem tudo para fazer-se entender, mesmo por quem, como eu, que entende muito pouco de quase tudo.
Talvez porque já tenha as orelhas entupidas com tantas patacoadas estúpidas em jeito de conselhos filosóficos que não entram num ouvido e saem por outro, porque o circuito auditivo está interrompido e o senso cognitivo já não consegue absorver, por razões igualmente não entendíveis. As palavras são como o vento que as leva e nunca mais as trás de volta. Ao menos para certificar se serviram ou não, para alguma coisa.
Já pedi ao Senhor que me informe se os animais que não zurram também vão para o Céu. Ainda estou à espera de resposta.

12 Ago, 2020

Artolas

O país e o mundo atravessam uma fase de difícil decisão sobre múltiplos aspetos das vidas individuais e coletivas dos cidadãos atacados no cerne das suas atividades normais entre existências mais pacíficas ou mais atribuladas.
Agora todas essas atividades se tornaram um pesadelo pelas limitações que um tal 'de bichinho' provocou ao infiltrar-se silenciosamente dentro de cada um dos surpreendidos, provocando tanto mais pânico quanto mais exposto se estivesse aos agora perniciosos afetos.
Houve uma fase em que esse pânico foi silencioso, como que unindo uma espécie de solidariedade penosa baseada no desconhecimento das verdadeiras consequências dos resultados futuros, bem como das origens e das causas que não davam a ninguém argumentos de críticas.
Com o passar do tempo foram surgindo os habituais artolas que sabem de tudo e logo encontraram maneiras e artes de se atirarem aos seus inimigos de estimação apontando culpas pelos insucessos que um monstro desconhecido inevitavelmente sempre provoca.
Como não podia deixar de ser, a saúde passou a ser o centro das atenções, dos receios e da admiração dos cidadãos, ganhando uma simpatia sem limites nos profissionais inexcedíveis no trabalho e na dedicação ao longo de dias e noites intermináveis.
Mas foi também na saúde que um tal de Guimarolas desde um palco onde a oratória facilmente se sobrepôs ao esforço dos profissionais para lhes incutir desejos de se servirem dessa plataforma para atingir fins que em tais circunstâncias catastróficas se tornaram odiosas.
O mesmo aconteceu com a irritante Anarritolas que com o decorrer do tempo e tristes procedimentos lhe foram retirando vigor à garganta, embora episodicamente a veia alaranjada lhe atiçasse a partidarite em lugar da que seria a atitude natural e profissional no momento vivido.
Hoje, aparecem já artolas nos mais diversos setores, da economia ao ensino, do sindicalismo e confederações patronais ao jornalismo, das artes aos desportos, dos humoristas aos comentadores, das TVs aos espetáculos.
Os artolas revoltados e os artolas gananciosos tudo contestam, tudo reclamam como se fossem os únicos atingidos, como se o país apenas existisse para os saciar e insuflar na sua sede de protagonismo.

O Rio é aquele fio de frescura que vem do alto da Serra da Estrela, Mondego de seu nome, qual ribeirinho que brota de rochas quase inacessíveis e vai crescendo à medida que vai descendo. O político Rio nasceu em meio urbano, teve várias fazes do seu percurso, umas melhores outras piores, tornou-se mediático junto à foz do Douro, onde nadou contra a corrente nos domínios do dragão, mas obteve louros no edifício do cimo da praça onde morou e criou simpatizantes pela forma como soube separar a loucura da rua da lucidez de uma casa de respeito.
O político Rio continuou a sua viagem de norte para sul, deixando para trás a cidade do Porto, com semelhanças de cidade condal, ou capital do norte, para fazer uma paragem turística junto ao Choupal, em Coimbra, para refletir sobre o Rio Mondego que ali se espraia calmo e sereno nos quentes dias de verão, onde as águas não são tão azuis e turbulentas como as do Douro na agitada aproximação à sua foz. Foi nessa mudança de estilo político que Rio começou a crescer à medida que foi descendo.
E foi assim que chegou a Lisboa terra de mouros, cheio de boas intenções e percursor de mudanças no sentido de 'suavizar' os azedos celtiberos que ali já existiam, demasiado azuis que pretendiam 'agitar' os sonsos mouros, tornando-os mais virados para uma nortada que lhes refrescasse a face e fizesse do país um paraíso unicolor, mas com tons de meio azul, meio verde e vermelho. Esta matemática interesseira até chegou a ter algum sucesso dada a paciência sulista e a sua tradicional vontade de estar de bem com todos.
Porém, o político Rio começou a levar longe demais os seus ousados conceitos reformadores e eis que se viu no Terreiro do Paço, no mar da Palha, mistura de terreiro e de rio, onde os dragões são poucos e não sabem nadar, mas são muitas as feras, as aves de rapina, os papagaios e os abutres, todos formando uma mistura explosiva que só um verdadeiro domador e tratador de zoológicos poderia acalmar. O político Rio sentiu-se estranho neste palheiro inflamável e começou a ter medo do fogo e a ter muitas dificuldades em sobreviver.
Palheiro inflamável, medo do fogo, aves e feras a mais, tudo isto fez com que chegasse a este estado de espírito instável, contrastando com a azulada fumarada dragoniana das suas origens. Foi assim que nos apareceu agora um político Rio, com correntes de vertigens incoerentes e perigosas, contrastando com lagos reduzidos de calmarias curtas, por vezes aparentemente tranquilizadoras. Mas as instabilidades, os deslizes, os perigos, as incoerências e algumas frequentes semelhanças com espécies incivilizadas fazem dele uma perigosa incógnita.