Rouba-me que eu gosto
Quando uma vítima de ter sido roubada fala do ladrão que lhe levou aquilo que julgava ser só seu, é natural que sinta convictamente os termos em que classificou o assaltante aos seus domínios. Parece-me óbvio que assim seja pois, ladrão, que eu saiba, não é uma profissão que mereça elogios seja de quem for.
É de estranhar que qualquer ladrão tenha o desplante de querer convencer quem é roubado de que lhe prestou serviços relevantes próprios e também para o país e, já agora, para o mundo inteiro. Há quem diga, e o povo confirma-o, ladrão que rouba ladrão tem cem anos de perdão. Mas aqui o ladrão e o roubado estão do mesmo lado.
Mais ainda. O ladrão foi louvado, distinguido com honras de herói por gente que só olha para um lado da questão, esquecendo os outros problemas que estão em causa. Porém, é lamentável que a justiça, onde o ladrão entrou e roubou, o venha aceitar como seu colaborador. E os inúmeros roubados vejam os seus direitos espoliados por tal decisão.
Na justiça, a PGR, viu os seus processos e ficheiros invadidos e usados. Escritórios de advogados viram processos importantes passados para a comunicação social. Clubes de futebol, principalmente um deles, foi alvo de todas as televisões que deram origem a programas diários de ódios e especulações de toda a ordem, com prejuízos que ninguém vai cobrir.
E assim se chegou a esta promiscuidade em torno da qual uma data de Pintos se infiltraram num mundo redondo como bolas, em que a justiça mergulhou de cabeça e não se vê jeito de vir a poder sair com ela no seu devido lugar. E assim se chegou a esta promiscuidade onde o mundo de dragões, leões e águias disputam favores daquela que devia ser cega.
Quem não compactuou com cegueiras evidentes ou mal disfarçadas foi um conhecido advogado roubado, ao contrário de uma justiça que pela voz de um dos seus representantes deu a sensação de que fez jus à graça que parece ficar na história. Rouba-me que eu gosto. O problema é que quem fica roubado é o país, se a cegueira da justiça se concretizar.