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afonsonunes

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Quando uma vítima de ter sido roubada fala do ladrão que lhe levou aquilo que julgava ser só seu, é natural que sinta convictamente os termos em que classificou o assaltante aos seus domínios. Parece-me óbvio que assim seja pois, ladrão, que eu saiba, não é uma profissão que mereça elogios seja de quem for.
É de estranhar que qualquer ladrão tenha o desplante de querer convencer quem é roubado de que lhe prestou serviços relevantes próprios e também para o país e, já agora, para o mundo inteiro. Há quem diga, e o povo confirma-o, ladrão que rouba ladrão tem cem anos de perdão. Mas aqui o ladrão e o roubado estão do mesmo lado.
Mais ainda. O ladrão foi louvado, distinguido com honras de herói por gente que só olha para um lado da questão, esquecendo os outros problemas que estão em causa. Porém, é lamentável que a justiça, onde o ladrão entrou e roubou, o venha aceitar como seu colaborador. E os inúmeros roubados vejam os seus direitos espoliados por tal decisão.
Na justiça, a PGR, viu os seus processos e ficheiros invadidos e usados. Escritórios de advogados viram processos importantes passados para a comunicação social. Clubes de futebol, principalmente um deles, foi alvo de todas as televisões que deram origem a programas diários de ódios e especulações de toda a ordem, com prejuízos que ninguém vai cobrir.
E assim se chegou a esta promiscuidade em torno da qual uma data de Pintos se infiltraram num mundo redondo como bolas, em que a justiça mergulhou de cabeça e não se vê jeito de vir a poder sair com ela no seu devido lugar. E assim se chegou a esta promiscuidade onde o mundo de dragões, leões e águias disputam favores daquela que devia ser cega.
Quem não compactuou com cegueiras evidentes ou mal disfarçadas foi um conhecido advogado roubado, ao contrário de uma justiça que pela voz de um dos seus representantes deu a sensação de que fez jus à graça que parece ficar na história. Rouba-me que eu gosto. O problema é que quem fica roubado é o país, se a cegueira da justiça se concretizar.

A pergunta parece inocente, mas não é preciso ir ao dicionário à procura de resposta. Porque é mais fácil a gente pôr a cabeça a funcionar. Basta pensar nos bandidos que nunca são incomodados, nunca são investigados, logo, nunca são julgados, nem condenados, obviamente.
Nem é preciso estar pensar num qualquer Frederico nem num qualquer Jorge. Se pensasse, logo chegaria à conclusão que há um Frederico que está fora de questão e um Jorge que tem tudo a ver com a questão. Até porque esse Frederico resolveu inovar quando enfrentou o Jorge.
Estou até em crer que o Frederico mostrou que finalmente era preciso haver alguém que não amouchasse às constantes investidas contra quem não lhe satisfaça a sua sede de domínio em todos os sentidos, desde os mais ou menos aceitáveis no seu meio, até aos mais sujos e aviltantes.
Desse ponto de vista, Frederico mostrou finalmente alguma coragem, coisa que não se tem visto na denúncia reparadora por parte de órgãos que deviam ter tudo para intervir, tal como toda a comunicação social, onde o azul se manifesta escandalosamente, até em fanfarronices.
Porém, confesso que, com muita surpresa minha, hoje mesmo ouvi comentadeiros e arregimentados desde há muitos anos, a zurzirem a sua indignação contra os modos do Jorge, agora relembrados, e também agora erguendo as suas vozes de apoio à reação do Frederico.
É que me apetece dizer que tão bandido é o que se atira odiosamente a quem não tem o seu passado de sujeiras, como bandidos são todos aqueles que protegem, e sempre protegeram, quem devia pagar normalmente por todos os atos de banditismo de que tanto se orgulha.
O Jorge, finalmente, tem alguém que o enfrentou nos exatos termos em que atingiu o Frederico. Parece que está na hora, mais uma vez, de alguém dar o murro na mesa capaz de fazer tremer quem mostre vestígios maiores ou menores de grandes ou pequenos bandidos.

20 Out, 2020

Felizmente!...


Estes difíceis tempos que atravessamos fazem-me lembrar cenas do romance de Eça de Queiroz, os Maias, principalmente no contraste das vidas luxuosas e desregradas dos cortesãos e da opulenta nobreza, em comparação com a plebe miserável e quase a roçar a escravidão.
Dizia-se então que este miserável país não tinha ideias nem pessoas com categoria mental para o tirar deste lodaçal e fazer com que deixássemos de copiar tudo o que no estrangeiro se fazia, ainda que do pior que nos podia acontecer como povo livre e independente.
E bem me parece que há boas razões para algumas comparações. É verdade que temos alguns Carlos Maia e um ou outro João da Ega. Mas isso não chega, como não chegou então, para que se regenerasse o país, cortando rente as raízes das ervas daninhas que o atabafavam.
Paris era então, juntamente com Londres e Roma, o sonho e a felicidade dos portugueses abastados ou falidos, mas ávidos de prazer e vaidades. Hoje, por cá, qualquer labrego se dá ares de importante reclamando libertinagem de asneirar no seu emprego ou desemprego.
Felizmente, porém, que não somos governados agora, como já fomos durante vários períodos de penosos e dolorosos quatro anos, pois, apesar de outro tipo de catástrofes inéditas que suportamos, resta-nos a consolação de que, agora, quem mais nos atormentou não governa.
Sim, porque felizmente, não estamos a ser governados por nenhuma ordem, nem por alguns dos seus desordeiros barulhentos e amigos do quanto pior melhor, para tentar ganhar pelo medo e ameaças de infernos, que sabem não contar com o apoio do povo pela via do voto.
Ordens e desordeiros são o que não falta nestas alturas decisivas e irrepetíveis em que o país, ou aproveita a oportunidade de mudança séria, ou continuará nas mãos dos oportunistas de sempre e vergado às ordens de vigaristas que são e serão, os responsáveis inatacáveis.
Nestas ordens e desordens estão irredutíveis defensores de tudo o que é privado, de tudo o que querem ver fora do domínio público, seja pela privatização quer através da passagem do poder para a esfera dos órgãos de classe fechados, impenetráveis e incontroláveis.
Curiosamente querem o privado, porque o privado lhes paga melhor. Mas querem sempre que seja o público a mama salvadora em todas as situações difíceis, quando não, mantendo as duas mamas ativas, nem que o público seja apenas a mama que chupam enquanto dormem.
Não suportam, não aceitam, nem toleram que um qualquer governo ou governante, fale mais alto que eles, tome decisões que não lhes agradem, possa responder aos seus insultos ou sequer sugerir medidas para aprovação, sem que isso seja apelidado de polémica inaceitável.
O tempo dos Maias e do Eça já lá vai. Mas por cá, ainda temos um Cavaco que escreve coisas com o considerar-se o fenómeno que inventou a melhor democracia, a melhor democracia moderna, que o país já teve. Diria eu: artistas assim, toquim bem mas caguim-se muito.

06 Out, 2020

Cavacando

Cavacando
Vêm aí não sei quantos milhões por dia, nem quando chegará essa bandeja dourada a transbordar de notinhas novas para distribuir não sei por quem, nem tão pouco sei quando tudo isso vai acontecer. Mas que vai acontecer, vai de certezinha absoluta e o alvoroço entre corruptinhos e corruptões é indescritível.
Imagine-se o medo, o pânico, em que toda essa pleiade de amigos de Portugal e dos portugueses mergulhou, só de pensar que tanto dinheiro não vai chegar aos bolsos deles mesmos, ao contrário do tempo em que outros bodos vindos da mesma origem, os encheram de prendas do tipo de carros topo de gama e mansões de lucho lá para os algarves.
Quase como agora, mas em menor escala, era suposto modernizar Portugal e melhorar a vida dos portugueses. Estavamos então em pleno reino do cavacando. Cavacava-se a propósito de tostões e de milhões. Obviamente tostôes para a maralha, milhões para a canalha. Canalha graúda obviamente, a qual desbaratou a vida da maralha dos tostões.
É a mesma canalha de então que agora se escavaca para não deixar que a maralha respire um pouco. Nesse sentido, aqui estou eu para pôr ordem nesta desordem que me põe a cabeça à roda. Para evitar tanto medo, tanto pânico, resolvi antecipar-me a tudo e a todos no sentido de garantir uma distribuição séria, justa e independente.
Para que tal aconteça e para evitar que se lancem suspeições sobre quem está na ordem natural para o fazer, lembrei-me que nada melhor, que seja a canalha a supervisionar essa tarefa monstruosa de impor que a corrupção seja afastada de vez e ninguém mais tenha o descaramento de duvidar, definitivamente, de que tudo será sério.
Vamos lá então a isto. Para ocupar o lugar de Supervisor Geral de Controle, deve ser nomeado o representante-mor do movimento Cavacando. Para Vice Supervisor Geral, deve ser nomeado o globalmente irrevogável de feiras e submarinos. Para vogal da Supervisão, que venha o 1º encavacado na fuga de impostos.
Obviamente que estas personalidades serão sempre e acima de tudo, uma Comissão de Honra, pois quem estará no terreno serão os seus antigos aliados, amigos, defensores e continuadores. Estes sim, serão os dignos cavacandos, cavacadores e autênticos cavacos retirados de uma fogueira, de onde já saíram brasas para muitas lareiras, agora de cinzas.
É convicção de muitos portugueses que estes resquícios de cinzas de cavacos, múmias de tempos quase imemoriais, já não contam, tal como não conta já o modelo de democracia que praticaram. Porém, surgiram novos fenómenos de outras espécies que estão nitidamente preocupados em escavacar o país, para ver se sobra algo que lhes sirva.