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afonsonunes

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É muito difícil a gente entender certas coisas que nos vão massajando o juízo por mais pacientes, e até benevolentes, que tentemos ser. Sim, porque os pacientes e os benevolentes são cada vez mais raros nestes tempos de aflições e nervosismos à flor da pele que consomem energias e provocam males e maleitas que acabam por ceifar muitas vidas precocemente.

Por causa das coisas, só e apenas por isso, aborrecemos e somos aborrecidos como se não pudéssemos pedir desculpa ou receber desculpas, em tantas situações em que ninguém perdia nem ganhava nada, para além de uma tranquilizante troca de sorrisos. Será que o mundo vai acabar sem que os humanos se reconheçam como seres que, tendo nascido a chorar, sabe–se lá porquê, não são capazes de morrer a sorrir, com a consciência tranquila por, nem um bocadinho, se terem preocupado durante a vida toda, em não querer saber porque distribuíram tanto ódio e desprezo entre os seus semelhantes.

Até parece que estou a ouvir alguém dizer - toma lá, isto é por causa das coisas. Pois é. Por causa das coisas que alguém disse ou fez. É o troco de um recebimento devido ou indevido. São coisas que se pagam sem se dever, ou são dívidas que nunca serão pagas. Contas de maus pagadores a muito piores devedores.

Por causa das coisas, estou eu aqui a escrever coisas e loisas que ninguém me encomendou. Também não esperava mais que alguma tolerância, já que isto que estou a fazer é hoje similar ao que faz muita gente que, como eu, reage assim: fazendo qualquer coisa para que não perca de todo a capacidade de pensar pois, efetivamente, estou a fazer qualquer coisa, só para não ficar choné. É por causa de coisas como estas que estão a acontecer no mundo, que os humanos se vão revoltando cada vez mais, muitas vezes sem razões para fazer tais coisas, mas fazem-nas simplesmente por causa das coisas. Porque as coisas não podiam acontecer-lhes com tanta injustiça, por vezes com tanta malvadez, ou não podiam acontecer-lhes só a eles. Podiam acontecer também aos que mais as mereciam, mas a esses acontecem outras coisas bem mais gostosas e bem mais saudáveis.

A fome, a sede, o frio o calor, as doenças, os silêncios e tantas outras coisas, são o prémio para tanta gente que sofre só porque são coisas de gente azarada, pois a sorte grande saiu sempre aos outros.    

Não. Não vai haver nenhuma revolução no país, nem no futebol nem na política. Não vai cair o governo, nem o presidente vai deixar que isso aconteça, aconteça o que acontecer.

Mas vai acontecer qualquer coisa de extraordinário. O grande Sérgio vai estar num banco do estádio da Luz. E isso é muito mais importante que o Jorge vá estar lá sentado numa cadeira.

Sim, numa cadeira entre as ‘multimuitas’ que vão estar vazias. Pois, o Jorge, terá certamente direito a estar bem acompanhado, por quem vigie o Sérgio e depois do jogo, irem lá fora cumprimentar um operador de câmara de TV, todos a fazer visitas de cordialidade.

Mas o Sérgio fica lá dentro tratando da cordialidade dentro do relvado, enquanto o Jorge está lá fora com os amigos, deixando o Sérgio à vontade. Diria mesmo que á vontadinha, pois o Jorge não gosta de ver o Sérgio nesses momentos, nem o Sérgio gosta de ser incomodado pelo Jorge.

Mas, a coisa mais extraordinária é o Sérgio estar num banco amanhã na Luz. Até podia estar num banco às escuras, mas a sua importância mediática requer mesmo muita luz, para que a sua imagem não fique distorcida, tirando o devido brilho à sua inconfundível personalidade e habitual postura.

Como fervoroso amante do bom futebol, do futebol a sério, do verdadeiro desporto rei, do futebol de papas e bispos, mesmo de cardeais sem aqueles compridos barretes, fico muito satisfeito por haver quem consiga milagres de não me privar de um espetáculo completo, com Sérgio no melhor das suas faculdades e o Jorge garantindo o seu rendimento mínimo.

No extraordinário dia de amanhã, gostaria eu, sonhador, que toda a gente do futebol, como se quer para todos os políticos, fosse obrigada a apresentar declaração de riqueza ou pobreza, para que uns doassem aos outros o que lhes sobra e faz imensa falta aos que mal sobrevivem.

Que fique bem claro que eu, fervoroso de futebol televisivo, com chutos e pontapés, a torto e a direito, ficaria extremamente chocado se me tirassem o Sérgio dum banco da Luz, num dia tão esplendoroso como o dia de amanhã.

Para terminar, nada mais justo, que alertar para que as entidades maiores e as autoridades menores não deixem que ninguém estrague aquilo que vai acontecer. Logo, permito-me pedir, não exigir obviamente, que haja todo o cuidado, não pretendendo interromper o ciclo virtuoso que o nosso futebol nos tem dado e que tanto nos diverte e conforta.