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afonsonunes

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20 Jun, 2021

Medo, sim!

Há quem tenha medo de ter medo e quem não tenha medo de mostrar o medo que tem. O medo é uma coisa muito esquisita, pois quanto mais medo tem alguém muito medroso, mais se preocupa em gritar bem alto que não tem medo. Por vezes são bem evidentes os sinais de que algo já está mais húmido que o normal debaixo das calças.

Ter medo é muitas vezes sinal de cobardia, mas também é sinal de coragem quando se enfrentam situações difíceis com a noção plena do perigo que se corre, sem alardear falsas forças, antes mostrando que o medo pode ser substituído pela vontade indómita de o afastar com a noção de vencê-lo, sem pretender escondê-lo.

Ontem, sobretudo ontem durante todo o dia, antes do jogo de futebol Alemanha/Portugal em Munique, foi uma festa, uma daquelas festas que só podia antecipar desilusão, foi a manifestação de apoios à nossa seleção, bem sintetizada naquela canção do Herman, ‘…vamos lá cambada… todos à molhada…’ depois, foi uma chatice, porque a festa acabou molhada, mas por muitas lágrimas.

O treinador bem avisou que não tinha medo dos alemães, mas bem podia ter dito que tinha medo que acontecesse o que realmente aconteceu. E o que aconteceu foi que o seu colega alemão nunca disse que tinha medo dos portugueses, mas também nunca disse que não tinha medo deles. Foi sempre sóbrio, tanto quando a nossa equipa começou a ganhar, como quando a nossa derrocada se concretizou.

O nosso treinador e a equipa ‘dele’, andaram oitenta minutos a ver a bola pelo ar na Hungria e nos últimos quinze, a bola aterrou no relvado, graças a um momento de lucidez nas substituições. E aquilo que estava a correr mal, passou a correr lindamente, tanto que até provocou loucuras incríveis no resto do dia, como nos dias seguintes, com o futebol, a política, ( o nosso PR até derrotou o PR húngaro numa aposta especialmente festejada) a comunicação social, o povo, sacrificando desde logo os ‘pobres’  alemães a um esmagamento, no sábado seguinte.

O sábado seguinte foi ontem. O nosso treinador tratou de encarar os alemães como húngaros. Utilizou os mesmos jogadores, fez as mesmas substituições, quase às mesmas horas, entregou o jogo ao mesmo herói, enquanto o treinador alemão trazia na memória os franceses, mudou o sistema todo e quem pagou a conta foram os portugueses. E o nosso PM não ganhou aposta nenhuma, nem gozou à brava em Munique como o PR tinha gozado em Budapeste. Até apetecia dizer que já nem aí há solidariedade institucional. No gozo, obviamente.

Agora, murchos como uma flor ao fim de oito dias colhida, lá vamos nós, chorando, depois de tanto rir, a caminho de Paris. Ainda podemos voltar a rir, ou pelo menos sorrir, se um pouquinho de modéstia, sem medos, nem excessos de vedetismos, otimismos e outros porreirismos que só servem para estragar festas que só deviam ser feitas nos dias de calendário efetivo.

10 Jun, 2021

Errores e Horrores

A política nacional nunca esteve tão horrorizada como atualmente, embora se esteja nos preliminares de mais uma campanha eleitoral, mais ardente e errática que a permanente campanha eleitoral que já nem se sabe quando começa nem quando termina, isto é, estamos sempre em campanha eleitoral.

Agora, todos os ‘errores’, de erros, pequenos ou grandes, são motivo para se pedir a demissão de alguém, como se já não se tolerasse que os erros são humanos e admissíveis, exceto quando se trate de traições evidentes e conscientes a deveres e obrigações constantes da profissão ou cargo em que está investido o profissional em causa.

O curioso é que essas tentativas de ‘abater’ pessoas, normalmente só aparecem uma de cada vez, ou seja, basta um caso de cada vez, que é quanto baste para consolar a gula por sangue fresco das oposições, dos candidatos a lugares de relevo, dos profissionais de notícias surpreendentes, dos excelsos conhecedores de tudo e de mais alguma coisa. Portanto, logo que um novo caso surja, o que estava em execução acabou. Morreu como nasceu.

Foi assim com o ministro Eduardo Cabrita, vítima de muitos horrores, com o caso do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras em que foi muito mais preocupante a atuação do ministro, que a dos inspetores que mataram um cidadão estrangeiro no aeroporto de Lisboa. Não houve gato-pingado que não exigisse a demissão do governante. Que ainda lá está.

Foi assim com o caso dos futebóis e de Pinto da Costa que, inconformado com a falta de receitas do clube que lhe paga, exigiu a demissão da titular da DGS e do próprio PM António Costa, caso o não fizesse. Podia ter ido mais longe, exigindo que seguissem o mesmo caminho, muitos especialistas e técnicos, além da própria OMS cujas orientações a DGS e o Governo seguiram. Porém, ninguém se demitiu nem foi demitido, até agora.

Está a ser assim, agora mesmo, com Fernando Medina, que corrigiu em abril um erro de procedimentos burocráticos para com a organização e autorização de manifestações, trazendo os seus adversários num frenesim a pedir a sua cabeça para ficarem mais à vontade na corrida à sua substituição. É assim o medo do insucesso. Com tanto medo talvez devessem ter considerado se fariam bem ou mal em correrem o risco de derrota. Mas até ao dia da decisão final Medina lá continuará.

Outros casos poderiam ser referidos. Como o caso de João Galamba que classificou o programa Sexta às Nove da RTP como uma estrumeira. Uma chuva de protestos e pedidos de demissão caíram no esquecimento. Também o ministro da Defesa já ouviu vozes, sobretudo de velhos ‘sargentos lateiros’ que querem permanecer ainda agora, os novos decisores.

Para haver equilíbrio nestas e noutras coisas, os alvos de pedidos de demissão, deviam também usufruir da legitimidade de poderem pedir a demissão daqueles que os queriam ver pelas costas.