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afonsonunes

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23 Ago, 2021

Bananas e batatas

No nosso querido torrão continental é consensual que temos muitos bananas nas mais diversificadas atividades da sociedade, o que já não acontece com a região autónoma da Madeira pois, além de ter os mesmos bananas, tem a espécie frutícola característica da banana, pequena, mas mais doce, e constitui uma das riquezas mais relevantes da produção agrícola madeirense.

Portanto, no continente só há os tais bananas que são os outros que não nós, e na Madeira há desses como aqui, mais as outras que são mesmo deliciosas. Mas há mais. No continente há batatas do Minho ao Algarve, apesar de não se verem batatais nos campos de futebol. Na Madeira, desde a semana passada, que foi descoberto um enorme batatal, no Funchal, mais concretamente no Estádio do Marítimo.

Mais uma vez a Madeira supera o continente, pois além de duas espécies de bananas também tem um grande batatal, coisa que nós, continentais, ainda não descortinámos nos campos de futebol. Obviamente que a nossa agricultura bem precisa de se diversificar. Assim, a batata-doce, a batata vermelha e a batata branca, têm de se mostrar nas suas reais dimensões.

A batata-doce, mais ou menos cor de burro a fugir, não conta para os batatais futebolísticos, precisamente por ser doce de mais para entrar neste negócio da batatada. A batata vermelha, por ser como é, não tem voz na matéria, pois nesta só a batata branca (as riscas, claro) através do azul implícito, pode criar batatais, colher batatas e distribuir batatada em todas as direções. Pois, cada ponto que fica para trás, representa sempre a constatação de que não sabem mesmo lidar com exímios semeadores de batatais.

Está provado que os leões estão à margem de todas as batatadas, pois vencem e convencem os mais exigentes batateiros. As águias, lá vão conseguindo com muito sangue, suor e lágrimas, arrancar umas batatitas aqui e acolá, sem levantar batatices, de cansados e ‘inconvincentes’ amadores de batatais que desconhecem por completo.

O batateiro mor desta semana, muito calmo e sereno, contra os seus hábitos de arranca-batatais à enxada, lá conseguiu justificar os seus méritos (invisíveis) através da ideia (genial) que lançou aos seus batatolas de todas as semanas. Assim, não se falou de outra coisa: o Batatal do Funchal. Rima e tudo.

Hoje não há assuntos que não sejam considerados polémicos. Qualquer ‘assuntinho‘ de trazer por casa ou de encher cabecinhas ocas, logo que assome à janela de qualquer mente iluminada, vem aureolado pelo toque da sensação, isto é, dourado pelo perfume rasca do sensacionalismo.

Alguém dirá que o assunto que vou abordar hoje não passa de uma tentativa de suscitar controvérsia, dada a quantidade de gente que não vai gostar de ver tratar os seus queridos e estimados complementos ‘familiares’ com menos carinho que aquele com que normalmente os mimam.  

São os vulgarmente designados por 4 patas, uns com patas grandes, que impõem a sua conversa com voz grossa e dentes arreganhados. Outros com patas pequenas, algumas mesmo pequeninas, que são tratados como ‘bébés’ e mimados com colinho, com beijinhos nas suas ‘boquinhas’ e abracinhos de corpo inteiro.

Fui criado numa aldeia onde sempre lidei com 4 patas e ainda não havia esta proliferação de ‘minis’ que hoje são a boa companhia, saudável e útil companhia, de muita gente que não tem outra. Nesse tempo havia muito menos depressão, quase não havia solidão, e a noção de família tinha outra amplitude. Daí que os 4 patas tinham a sua vida restringida a outras valências na servidão aos seus donos.  

Hoje, e já lá vão muitos anos, vivo numa cidade em que, como em tantas outras, está proporcionalmente mais desenvolvida a possibilidade de os 4 patas terem melhor qualidade de vida que uma parte significativa dos humanos que sobrevivem, quantas vezes, em condições deploráveis.

Hoje, os 4 patas são levados à rua para fazer o que não os deixam fazer em casa, percorrem diariamente ruas denominadas de haga-hão, onde deixam presentes abandonados, que outros hães irão cheirar com os narizes que alguém irá beijar com toda a meiguice do mundo.

Os 4 patas citadinos, muitos deles vivem e ladram ruidosamente, durante o dia e a noite, em quintais, pátios, varandas, no interior das casas onde vivem os seus ‘parentes’, perturbando vizinhos com sono mais leve, pessoas idosas, doentes, além de pessoas que acabam por ficar afetadas nas suas vidas pessoais e profissionais por não descansarem normalmente, por via do ruído que suportam, vindo dos vizinhos que provavelmente só conseguem dormir ao som dos seus queridos 4 patas.

Enquanto isso, há pessoas que têm muita dificuldade em ouvir as suas televisões, quando alguém que passeia o seu ‘parente’ vai suscitando as reações em cadeia de todos os ‘colegas’ que se encontram no percurso num concerto infindável de ‘ladrados’ entre os isolados e os passeados.

Mas, mais interessante, muito mais interessante, são aquelas pessoas que não querendo acompanhar os seus à rua, lhes abrem a porta e os deixam ir sozinhos, sem saquinho de recolha, sem trela, sem nada, ficando por lá o concerto e o conteúdo que devia ficar no saquinho e fica à espera de sapatos que os pisem e levem restos para casa pegados às solas.

Eu sei que há legislação para controlar todos esses inconvenientes. Sim, há. Mas não há nas autarquias quem, sendo pago para o fazer, não o faz como lhe compete.