O berbicacho
Marcelo falou há tempos em berbicacho, caso a situação política descambasse se houvesse problemas com a aprovação do Orçamento de Estado que agora acabou de ser chumbado.
Para já, o Presidente começou a ouvir críticas a que não estava habituado. E isso já é, em boa verdade, um grande berbicacho. Quem tudo fez para concretizar o bota abaixo orçamental, está agora a pretender que não haja eleições, logicamente porque com elas, ou em resultado delas, as bancadas da AR podem ver mudanças significativas na ocupação das cadeiras. O mesmo se passa com detentores de outras atividades públicas ou privadas que estão habituados a viver pendurados no Estado.
Parece muito estranho que esses, não tenham pensado em todas as consequências antes de tomarem a decisão de chumbarem o Orçamento, até porque o Presidente bem avisou, e com tempo, qual a sua intenção de decidir o caminho a seguir. E é este caminho que está agora a suscitar críticas de várias origens.
Por outro lado, a situação instável de duas cúpulas partidárias, precisamente as que mais festejaram o chumbo, com tal vivacidade e entusiasmo que até cheirava a vitória na conquista do poder. Agora querem forçar o Presidente a colocar o interesse do país, marcando eleições rapidamente, contra os interesses de candidatos que pretendem que elas sejam o mais tarde possível.
Eis outro berbicacho em perspetiva já que alguém vai ficar dececionado com a decisão do Presidente, que terá de arcar com as críticas e as acusações de favorecimento de uns em detrimento dos interesses de outros.
Para não falar da posição do governo e do partido que o apoia, em querer resolver a situação o mais depressa possível, em benefício da resolução dos problemas relacionados com a crise económica e social do país. Para além da posição incómoda de governantes que, sabendo que vão sair, não podem pensar em restabelecer as suas vidas pessoais.
Estamos perante uma realidade que, tudo o indica, vai continuar mesmo após eleições. Os pequenos partidos têm a tendência para querer governar segundo as suas agendas, como se os grandes partidos tivessem de se submeter aos seus desejos e delírios. Isto passa-se tanto à esquerda como à direita. E, ainda mais perigoso para a democracia, é tais delírios pretenderem condicionar as decisões presidenciais
São berbicachos dentro de um berbicacho maior que é o fato de o Presidente ainda não ter sido confrontado com críticas deste teor e que podem ser o princípio de mais uma crise a juntar às outras, que podem por em causa a estabilidade social através de contestações e greves que já começam a mostrar vontades e intenções, apesar de ainda agora apenas se vislumbre o começo de uma vontade indómita de saciar desejos e acirrar ódios que um país débil e demasiado exposto dificilmente suportará.