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afonsonunes

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01 Ago, 2012

O papão da imagem

 

Como é sabido, o país está cercado de problemas por todos os lados, embora estejam identificados desde há muito, os principais e os acessórios. Os principais são aqueles que já sabemos que vão perdurar por muitos mais anos, enquanto os acessórios dizem respeito àqueles que se resolvem de língua.

Uns e outros já fazem parte da nossa família. E as nossas famílias já fazem parte da sua continuidade no tempo. Dos principais porque, à vontade coletiva, não interessa a sua abolição. Quanto aos acessórios, gostamos tanto de dar à língua, como de ver os nossos responsáveis políticos a dar à deles.

Tão depressa dizemos que está tudo mal, como logo a seguir entendemos que já está tudo bem. Porque tão depressa acreditamos nos responsáveis pelo país, como viramos o bico ao prego da nossa avaliação e os consideramos os maiores aldrabões do mundo.  

Quando a opinião pública é sacudida por uma daquelas notícias que deixam as pessoas com os cabelos em pé, logo aparece um desses responsáveis a tranquilizar-nos, dizendo que não há problema nenhum. Mas, o pior é que depois começam mesmo a levantar-se problemas de todos os lados.

Depois, como por encanto, os problemas desapareceram e a opinião pública esqueceu completamente as suas preocupações. E assim, com uma regularidade impressionante, os problemas vão surgindo e vão passando, sem que nada de concreto tenha sido feito para a sua resolução.

Agora, o maior problema, aquele que mais preocupa os nossos responsáveis é, sem dúvida, o problema da imagem que passa lá para fora, sobre o país que eles governam. Ou, a imagem que eles temem que passe lá para fora, sobre as suas próprias pessoas, sobretudo, em relação ao modo como são vistos cá dentro. 

Não estão muito, ou nada, preocupados com o que as pessoas pensam ou dizem internamente. Isso, para eles, são descontentamentos naturais, devidos às dificuldades, para eles naturais, próprios da conjuntura difícil, mas de fácil combate, feito na base da única maneira possível: a sua.

A imagem, sim, essa é fundamental para mostrar lá fora que têm a grande maioria dos portugueses com eles. E lá fora devem acreditar, visto que não se cansam de tecer elogios aos governantes, pelo sucesso alcançado, graças a essa união de esforços e compreensão dos sacrifícios feitos, por quem os faz.

Mas, ao que parece, os senhores lá de fora, nunca perguntaram, pelo menos que eu saiba, quem é que faz e quem é que nunca fez sacrifício algum. Ou melhor, quem é que merece boa imagem e quem é que tem tão má imagem que já nem pode sair à rua sem estragar mais um pouco a sua má imagem.

Não basta distorcer as imagens das cenas tristes que por vezes fazem em público tentando, com palavras que soam a desespero, esconder problemas, logo catalogados de não problemas, ou como imagens de um filme que, no dizer deles, nunca foi rodado. Mas, a verdade é que já foi visto por muita gente.

Os portugueses imaginam o que não conhecem bem. E, julgo eu, imaginar é criar imagens. Imagens que ficam gravadas por muito tempo na memória, quem sabe, para toda a vida. São essas imagens que bem podiam, e deviam, ser enviadas para esses senhores que tanto apreciam a imagem que lhes dão de nós.

Já agora, pergunto a mim próprio se será verdade que a segurança no Algarve foi largamente reforçada naquela região, devido às férias do nosso presidente e do nosso primeiro-ministro. Mas, já não preciso de perguntar nada quanto à imagem que sai lá para fora, desta realidade que vai sendo tão vulgar.

Como eu gostava de poder imaginar um país onde todas as imagens fossem sérias, reais e de uma nitidez que não deixasse dúvidas quanto à sua transparência. Nos bons e nos maus momentos do país. Do esforço dos maiores aos mais pequenos responsáveis. Assim, sim, a nossa imagem lá fora seria mesmo boa.    

 

 

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