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afonsonunes

afonsonunes

15 Set, 2012

O castigo do poder

 

 

Todos os políticos, naturalmente, anseiam pelo dia em que alcancem o almejado poder, esse cheirinho a primavera que os perfumará, no seu estreito entendimento, para o resto das suas vidas. Para eles, nunca existirá o mais simples dos castigos, por estarem seguros de que o poder os protege.

Ao longo dos tempos a realidade vai revelando que não é bem assim. O poder vai ficando cada vez mais perigoso, até porque os poderosos vão ficando cada vez expostos às consequências da cegueira voluntária ou involuntária que os ataca, pois as resistências que sempre os protegeram vão diminuindo drasticamente.

E vão diminuindo, na medida em que vai aumentando o sentido de libertação dos atacados, cada vez mais capazes de lutar contra a opressão e cada vez mais ajudados por forças organizadas em todo o mundo, para que os fracos sejam cada vez menos fracos e os fortes cada vez menos fortes.

Portanto, bem vistas as coisas, o poder devia estar cada vez menos apetecível. À primeira mirada tudo indica que não. Os insaciáveis continuam a olhar para o pote do poder, como uma vasilha cheia e inesgotável. Mas, em todas as latitudes, os potes estão cada vez menos cheios, ou cada vez mais vazios. 

O pote continua a ser uma miragem no deserto. Há sempre quem veja o que não existe e quem deseje a felicidade invisível, mesmo que arrisque trocar a vida pela morte. A menos que se pretenda que a morte também pode ser uma forma de atingir a felicidade. Hipótese que os políticos rejeitam completamente.

No momento presente, os políticos que lutam para se manterem no poder, deviam lembrar-se da luta que travaram para o conquistar. É verdade que foi difícil conquistá-lo. É verdade que estão a ver já como é difícil mantê-lo. É verdade que até podia ser uma verdadeira libertação, deixarem-no fugir agora.

Também é verdade que seria uma traiçoeira injustiça libertá-los do poder neste momento. Quem tanto quis o poder, deve aguentá-lo até ao fim. Quem tanto salivou para lhe comer a carne, deve agora roer no osso até ficar com a boca seca, dependente das sopas de todos aqueles que tanto ajudou a engordar.   

Quanto àqueles que, aparentemente, estão já a afiar o dente para restos de carne que ainda haja no poder, fujam enquanto é tempo. Não liguem aos que dizem que já vos cheira a pote pronto a esvaziar de novo. Tolices de anjinhos, ignorantes ou de má-fé. Não desejem os ossos dos famintos para que se arrepelem até à calvície.

Mas, o maior castigo do poder, é sujeitar os seus detentores aos arranhões dos seus próprios dependentes, dos seus próprios amigos, dos seus supostamente incondicionais apoiantes. Pois é. Tudo depende do pote estar vazio ou do pote estar cheio, tal como da míngua de carne ou da fartura de ossos rapados.