Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]

afonsonunes

afonsonunes

24 Set, 2012

O próximo assalto

 

 

Sinceramente, gostava que o próximo assalto tivesse como vítimas os bolsos de todos aqueles que os encheram ao esvaziar os cofres do BPN. Que mais não fosse, porque estou convencido, pelo que tenho lido e ouvido, que esse ato de justiça evitaria os chamados roubos coletivos a trabalhadores e, principalmente, aos reformados.

Nem precisaria de pôr mais na carta, pois tudo isto é sobejamente conhecido. Mas, ao que parece, o que não é muito conhecido, porque é mais ou menos escondido, são os milhares de milhões que o estado lá pôs e está agora a ir buscá-los aos bolsos dos eternos sacrificados, sem pedir um chavo a quem se amanhou. E foram muitos.

Portanto, neste país é extraordinariamente compensador ser assaltante de bancos, desde que não se tape a cara, não se usem luvas, nem pistolas a sério ou a fingir. Até podem levar o nome bem visível na lapela, ou um emblema qualquer no seu lugar. Aliás, não precisam levar nada. Levem apenas a cara, que a gente sabe logo quem é.

Iniciou-se hoje, 24/9/12, logo pela manhã, a discussão e tentativa de aprovação de mais um assalto ao contribuinte, na chamada reunião da concertação social. O governo tem todas as razões para sentir que vai para ela com as calças na mão. Aposto que vão ser aprovadas todas as propostas dos parceiros. No final, o governo sairá em ombros.

Há pelo menos a indicação de que o chefe do governo se encheu de coragem e, antecipando-se aos seus malévolos críticos, demonstrou que é capaz de entrar por esses estranhos campos da equidade na aplicação da austeridade. Será só mais um bocadinho daquela que não aplicara. No entanto, ainda anda muita iniquidade na conversa.

Agora, o próximo assalto, que já está bem planeado e em fase experimental de execução, visa a cadeira do PGR. Bem tentaram, mas não conseguiram fazer sentar nela quem lhes interessava, por ocupação antes de tempo, porque o seu titular não se deixou amedrontar por vagas sucessivas de ataques à vista desarmada.

Vou arriscar um daqueles prognósticos que pouca gente se atreveria a fazer, dada a complexidade do momento que se atravessa, e as motivações que determinam as movimentações em curso. Seja quem for o, ou a, substituta do Doutor Pinto Monteiro, não será mais sério, ou séria, que ele. Até poderia ser igual, mas não o creio. 

É evidente que falo em seriedade política que é como quem diz, ser capaz de resistir às pressões que este suportou, principalmente, e como é recorrente no país, as pressões de cariz partidário para que a justiça ande, como muitas vezes andou, comandada de fora. E é isso que neste momento se pressente nos corredores do poder.

Pelos nomes que já andam de boca em boca, e pelas evidentes campanhas de charme que se detetaram, o caminho parece estar aberto, paradoxalmente, a quem menos charme teria para lá chegar. Mas, quer o destino que o charme que conta, não é o que se tem, mas aquele que melhor retorno de simpatia garante.

Depois, é essencial que se garanta que nada de importante vai mudar. O círculo esteve, e é necessário que continue a estar bem fechado, graças aos influentes e poderosos pilares que sustentam o tal corredor do poder. E isso, neste momento, penso eu, deve estar já suficientemente garantido. Faltam apenas as pomposas declarações da posse.   

É uma pena que as pessoas sérias deste país, mesmo em lugares de extrema responsabilidade e investidos de poderes que, à primeira vista pareciam caminhar para decisões importantes, tenham de sair pela porta dos fundos. Porque o corredor do poder, se não está, parece estar bem minado. Para quem sai, como para quem entra.   

Seja como for, talvez até haja quem diga hipocritamente que o PGR prestou um bom serviço ao país. Só se for no sentido de que convinha não falar muito, ouvir e não responder e, óbvio, fazer o menos possível. Mas, certamente que se dirá que quem venha a substituí-lo vai, agora sim, fazer tudo o que até agora não foi feito.