Tribunal SOS
Elevam-se nos ares cada vez mais sonantes as vozes que entendem que se deve rever a Constituição, pois ela constitui uma inversão na voz que deve comandar quem tem por missão conduzir os destinos do país.
O mesmo é dizer que o governo é que manda, sejam quais forem os atropelos à lei fundamental, à qual se devem submeter todas as leis e todos os intérpretes dos interesses do país. Mas, o próprio governo atual não pensa assim.
Daí que me apresse a dar-lhe umas sugestões que o ajudarão a resolver esse imbróglio dentro da mais estrita legalidade. Como tem maioria na assembleia só tem que lhe apresentar uma proposta que altere o nome que tanto lhe dói.
Esse nome é Tribunal Constitucional, que tem a presunção de querer obrigar o governo a tomar as decisões que ele não quer tomar. Portanto, muda-se-lhe o nome para Tribunal SOS, órgão condenatório de quem critique o governo.
Tratando-se de um tribunal de condenações, o governo tem que estabelecer a tabela das penas a que os infratores ficam sujeitos, se o ofenderem nos termos de uma tabela de críticas concretas também elaborada pelo governo.
Por exemplo: o líder de um partido da oposição chama incompetente ao governo, o tribunal SOS aplica-lhe a pena de um mês de boca calada. Se chamar gatuno ao primeiro-ministro, aplica-lhe a pena de desterro para a Chipre.
E assim sucessivamente, conforme consta das tabelas. Só assim o governo terá condições para governar e o tribunal SOS servirá para alguma coisa, sem atrapalhar o governo e, consequentemente, o sossego do governo e do país.
Portugal sempre soube viver com quem se limitou sempre a complicar a vida do país e dos governos. E sempre se saiu na perfeição dessas situações. Mesmo quando Portugal soube reinventar-se para correr com os complicativos.
Mas, mais teve de se reinventar, quando teve de se governar por si próprio, sem ninguém por perto que pudesse mostrar-lhe o que é isso de ter de se reinventar. O povo está habituado a inventar maneiras de sobreviver sozinho.
Só ainda não conseguiu inventar, ou reinventar, uma maneira de criar um tribunal SOS que o livre destas emergências em que nem a Constituição o salva. O tribunal SOS já está em exclusivo ao serviço daqueles que atropelam o povo.
É evidente que já nada há a mudar, pois já temos aquilo que merecemos e aquilo que o governo nos quer dar. E também, mais aquilo que nos vai cortar, além do que já cortou. Só falta cortar a sério nos seus amigos apoiantes. Vá lá!