PODRIDÃO
Este palavrão foi agora trazido à ribalta por um senhor que estava calado há trinta anos, depois de muito ter sido fustigado com todos aqueles mimos que indiciam o estado de um corpo contrário a uma alma em paz.
Precisamente agora que já ninguém se lembrava dele e dos seus propalados indícios de podridão, eis que aparece num lugar que devia ser o exemplo de tudo o que é são e transparente, a reviver o seu passado.
O senhor da podridão quis, provavelmente, transferir alguma dela de dentro de si próprio para alguém, ou alguns, que não identificou, bem ao estilo daqueles a quem acaba de se juntar e dos seus antigos parceiros.
Dentro das instalações da mais alta magistratura da república não podia e não devia acontecer tamanha desfaçatez. A podridão não devia entrar ali, sobretudo, numa cerimónia em que as palavras sujas deviam ficar à porta.
Bem basta que elas sejam o pão nosso de cada dia, cá fora e dentro de tudo o que é ocupado por quem manda, por quem domina quem manda e por quem passa a vida a tentar meter-se nesse meio fedorento.
Tratando-se da posse de um governo, de um governante novo agora, mas velho de outros tempos, bem podia ter poupado o lugar de onde ia sair, para se comportar à altura de representante do país, dentro e fora dele.
Tanta falta de contenção, depois de tanta alegria e de tantos gracejos que tornaram a cerimónia numa das mais animadas e risonhas de todos os tempos. Toda a gente se beijou e abraçou de olhos e dentinhos a brilhar.
Sabendo-se que a podridão é geral, compete a quem governa combatê-la com todos os meios e em todas as circunstâncias. Tirá-la de si próprio, lançando-a para outros, é sintoma de que bem se conhece o que se tem.
PS: O que temos e vamos ter por muito tempo é a sociedade, Portas, Passos & Luís, Limitada.