CORTOU, POUPOU!...
Há quase três anos que ando a ouvir pomposos anúncios do governo, de que se faz eco a comunicação social, segundo os quais, de cada vez que os contribuintes levam uma tesourada no bolso, poupam-se muitos milhões.
Isso quer dizer exatamente que, a cada corte, corresponde uma poupança. Por exemplo, com o corte nas pensões, o governo poupa setecentos milhões. Pois, desde que tomou conta do pote, vazio, já o deve ter cheio.
Não entendo a lógica do corta/poupa, uma vez que a realidade tem demonstrado à evidência que era muito mais correto dizer-se que há a obsessão do corta/gasta. E o pior é que se corta mal e gasta-se ainda pior.
Quer dizer que a tesoura dos cortes está a precisar de ser levada ao amola tesouras. Mas que ele seja bom, senão os cortes serão ainda piores, se a tesoura, em lugar de bem afiada, acabar por ficar ainda mais romba.
Mas, não há dúvida de que o segredo dos gastos está na tesourada que eles podiam levar. Aí sim, os cortes podiam realmente significar poupanças de vulto. Sem roubar ninguém. Apenas moralizando o estado.
Chamar poupança ao esbulho de pessoas que são atiradas para a miséria, apenas contribui para que o estado fique cada vez mais fraco. Um país de cidadãos que não têm dinheiro para gastar, é um país falido a curto prazo.
O nosso país, presentemente, aposta tudo num estado de gente que, no alto, vive a nadar em dinheiro. Gente que só consegue olhar para a sua barriga a crescer. Com a obsessão de que, a do povo, tem de diminuir.
A mim, custa-me muito entender esta noção de poupar com o que se tira do bolso dos outros. Tenho muita dificuldade em ver o meu país livre, em todos os aspetos, se as pessoas tiverem de mendigar o que têm de comer.