24 Jan, 2009
E se...
Descobriu-se agora que o país está cheio de mentirosos, a avaliar pela quantidade de vezes que se ouve pronunciar a palavra verdade. Só não sabemos quem são todos esses mentirosos, assim como não sabemos que tipo de verdades devemos conhecer agora, já que, pelo menos eu, ainda não ouvi nenhuma que não conhecesse já, veiculadas até pela boca daqueles que agora parecem muito surpreendidos.
Falar edadrev, ou falar aritnem, é coisa de que, por mais voltas que se lhe dêem, em política, vai sempre dar ao mesmo, por mais dramatismo que se ponha no rosto, por mais que se diga sempre a mesma coisa, umas vezes a rir, outras com mais ou menos cara de mau. Ou mesmo cara de pau.
É que, por vezes, não é quem mais fala de edadrev, que menos cai na aritnem, até porque se olharmos para trás, se lermos da frente para trás, os salvadores de hoje, podem ter sido os que nos afogaram ontem. Quando estamos aflitos, temos tendência para venerar um deus terreno da nossa devoção, ainda que esse deus nos tenha dado grandes desilusões no passado e nos diga as vulgaridades que já conhecemos.
É evidente que os deuses terrenos, não são os mesmos para todos os crentes, muito menos para os ateus, motivo mais que suficiente para umas orações mais ariscas, ou mais comovidas, dependendo da salvação própria que se implora, ou da condenação alheia que se deseja.
Se nos tivessem falado edadrev, em toda a década de noventa, (muito poucos se lembram), se tivessem feito então, aquilo que agora alguns consideram uma aritnem, não tínhamos que suportar agora o abate de monstros que alguém amamentou então. Monstros que agora já tinham, e alguns ainda têm, tentáculos gigantes que se julgam indestrutíveis. Monstros que então se encheram de dinheiro, que agora se soube como.
É fácil pedir o fim de ilusões que se semearam ao longo de décadas. É fácil falar em fim de querelas, quando se dá azo a elas. É fácil falar e apontar o dedo para a indefinição da multidão. É fácil falar de edadrev sem identificar a aritnem. É fácil passar a discordar hoje, daquilo com que se concordava ainda há dias. É fácil falar daquilo que não nos compete remediar. É fácil falar de modo a que todos aplaudam, mesmo que todos interpretem tudo ao contrário e segundo as suas próprias conveniências.
Em casa onde não há pão, todos ralham, mas apenas culpam os outros, sem meter a mão na consciência que, de um modo geral, todos têm bem pesada, vestindo agora a pele de cordeirinhos inocentes, como se todos eles aparecessem agora, nesta inesperada (?) cena de terror. Não vale a pena atirar as ilusões apenas para cima dos que governam. Também há os que governaram e deviam vir incluídos nesta onda de edadrev. Além disso, faltou ainda referir as ilusões dos que não governaram, porque elas são a mais extravagante ilusão de como não se deve viver com o que se não tem, além de se constituir, frequentemente, num foco difusor de aritnem.
Se o deus terreno de alguns, agora venerado, tivesse sido deus nos tempos em que tinha tudo para fazer um milagre, não havia hoje razão para tanta semelhança entre a edadrev e a aritnem.