31 Jan, 2009
Mais ou menos
A melhor maneira de despachar perguntas indiscretas, ou que nos causam uma ‘comichãozinha’ no nariz, é atirarmos com um, ‘mais ou menos’, que não diz nada mas, ao fim e ao cabo, acaba por dizer tudo o que não nos apetece dizer. Principalmente, quando entramos no raio de acção daquelas pessoas que querem saber tudo sobre nós.
Já me têm perguntado se gosto de andar à chuva, esquecendo-se de acrescentar se é com guarda-chuva, ou de cabecinha descoberta, em jeito de parvo que gosta de se molhar. Eu, sujeito perguntado, tinha uma boa maneira de satisfazer tão íntima curiosidade mas, para fugir ao trivial, ‘mais ou menos’, respondo sempre que depende da chuva, pois é óbvio que ela não é toda igual e há muita gente que chama chuva a muitas outras coisas.
Por exemplo, os jornalistas utilizam muito as expressões, chuva de ovos, chuva de pedras, chuva de insultos, e por aí adiante, quando descrevem situações mais ou menos interessantes, ou mais ou menos chocantes. Principalmente, quando se trata de alvos mais ou menos apetecidos, para não dizer mais ou menos desejados.
Depois, lá apanham um comentário que os deixa mais ou menos desiludidos, por ouvirem apenas um modesto desabafo: Deixem-me ir à vida. Realmente, a vida é complicada demais, para quem tem mesmo de andar à chuva, ainda que mais ou menos protegido por mini sombrinha, ou guarda-chuva de aba larga, que nenhum deles protege de todas as chuvas, algumas delas, mais ou menos ácidas.
Sinceramente, prefiro não ouvir demais, nem de menos, atendendo a que quem anda à chuva molha-se e, por comparação, quem muito ouve, acaba por sentir os ouvidos mais ou menos entupidos, com a lógica consequência de que não ouvirá o essencial, que o mesmo é dizer que se ouve de menos. Ora, nesse caso, podemos ficar mais ou menos a leste, do norte que nos orienta.
Por vezes sinto-me mais ou menos desnorteado com este tempo, do tipo de chuva de molha parvos, que não há sombrinha que tape, pois tanto vem de cima, como vem de baixo, desafiando as leis da física, por culpa de um vento rebelde, mais ou menos fura tripas que, tal como muitas pessoas, já se habituou a infiltrar-se, mais ou menos à socapa, sem o mínimo pudor, nem pingo de pouca vergonha.
Há chuvas e ventos que nos trazem benefícios, mesmo quando, mais ou menos, nos incomodam, porque as chuvas limpam o chão que pisamos, enquanto os ventos trazem as novas que vêm de longe e levam a poluição que nos cerca, para as florestas que irão reciclá-los. Muita gente dirá que é pouco, que tanto a chuva como o vento, podiam fazer muito mais por nós, tão carentes de novas forças e novos horizontes.
É verdade que são excelentes agentes de limpeza mas, podiam contribuir para serem muito mais que isso, principalmente, para além da limitação da sua actuação ao meio ambiente embora, por via catastrófica, também ceifem vidas mais ou menos inocentes. Sim, podiam arejar as mentes mais duras e menos humanas, para que houvesse menos fome e miséria neste mundo mais ou menos louco.
Por cá, vem a chuva, vem o vento, mais ou menos fortes, mas só o frio que faz o gelo, se mete com quem não tem forma de se aquecer.