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afonsonunes

afonsonunes

17 Fev, 2009

Os três escalões

Tenho a sensação de que não ouvi bem uma notícia qualquer, relativa ao pagamento de um imposto por parte dos cidadãos, que seriam divididos em três escalões de pobreza, visto que é o que temos no país, na avaliação que podemos fazer por declarações de gente sábia e competente.

Pois, como de costume, não devo ter ouvido bem, aliás, como sempre acontece quando as notícias não me agradam, ou têm a descarada tendência para me levar a colocar um pé no ar, por causa do equilíbrio. Mas, comecei logo a pensar nessa história dos três escalões. Ora os escalões podem ser degraus. E os degraus, em princípio, servem para ter acesso a portas. Portas, pois claro!
Mas essa treta dos degraus não me convenceu e voltei aos escalões. Escalões esses que se destinam a compartimentar os contribuintes, segundo o seu grau de riqueza. Aqui, para não me desequilibrar, tive de pôr no chão, o pé que estava no ar, pois não tem sentido nenhum criar escalões de riqueza. Para pagar, o país só tem pobres. E os pobres não pagam. Recebem.
Portanto, assentei ideias desde logo. Os três escalões de que ouvi falar, só podiam ser para classificar a pobreza. Pobre de mim, se não discernisse o suficiente para imaginar esses escalões, de forma a não deixar ninguém zangado. É bem evidente que não tenho o mínimo interesse em estar a indispor os contribuintes, colocando-os contra mim e contra as minhas ideias avançadas demais, em relação aos atrasos dos escalões.
Assim, no primeiro escalão, vão cair todos os cidadãos que não têm mesmo nada. Nem têm sequer uma ideia, de quando deixarão de cair nessa situação, nem pensam mesmo em passar ao escalão seguinte, que sempre é um pouco mais favorável. Mas, no primeiro escalão, têm o azar de não pagar imposto, o que os impede de receber, seja o que for, porque não pagaram nada.
No segundo escalão, vão cair os cidadãos que não têm quase nada. Esclareço desde já que não há dificuldade nenhuma em medir o quase. Basta que digam que quase não comem, que quase não bebem e quase não fumam. Se acrescentarem outros, quase, poderão vir a ter deduções específicas especiais. Se, por exemplo, declararem que quase não têm carro, podem deduzir as facturas de combustível que quase não compraram. Estes cidadãos, ficam com direito a pagar anualmente o imposto fixo de cinquenta euros, para receberem sessenta, quando da devolução do imposto.
Finalmente, no terceiro escalão, vão cair os cidadãos que têm pouco. Como se trata do escalão mais elevado, não se podia marginá-los, nem prejudicá-los, em relação aos dos dois primeiros escalões. Assim, exige-se-lhes que declarem apenas um pouco, do pouco que têm, a fim de terem direito ao reembolso do dobro do que pagaram.
Esta proposta representa um avanço enorme e extraordinário, na modernização tributária do país. Significa ela que, nunca mais paga o justo pelo pecador, isto é, nunca mais o pobre paga, para o rico gastar. Basta atentar no inovador conceito de pobreza, que termina, de maneira radical, com o complexo dos pobres, e acaba de vez, com o choradinho dos que eram ricos.
Agora, já tenho os dois pés bem assentes no chão e as ideias a descer degraus.