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afonsonunes

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12 Mai, 2009

Arrota pelintra

 
Embora não possa garantir nada, acredito que toda a gente dá o seu arrotito, ou arrotozito, ainda que seja apenas de vez em quando, por exemplo, quando o rei faz anos, em que a barriguinha se enche um pouco mais que o normal no dia-a-dia.
Já quanto a pelintras, posso meter as mãos no lume, como garantia de que os há e alguns, seleccionados com grande rigor. Aliás, ser pelintra não tem mal nenhum, desde que se não ande por aí a arrotar postas de pescada todos os dias e, até, várias vezes ao dia. Deixo de lado a pelintrice mais desprezível, fazendo de conta que não existe.    
Vem isto a propósito de estarmos num período em que tem inteiro cabimento aquele dito popular que incita certos indivíduos, de barriga mais ou menos vazia, a arrotar como se a tivessem a deitar por fora, parecendo assim pertencerem a uma classe que, efectivamente, não é aquela em que estão integrados.
Arrota pelintra, faz-te lorde. Que é como quem diz, deixa a tua pequenez e faz de conta que és gente crescida, falando em fazer milagres, que toda a gente sabe que nunca poderás vir a fazer.
Realmente, por vezes penso que estamos num país de pelintras que arrotam mesmo como lordes, onde quer que se apanhem a falar das suas capacidades e dos ilimitados recursos que dizem disponibilizar, a troco de uma ajudinha de quem quiser acreditar neles. Porém, correm o risco de, mais cedo ou mais tarde, ficarem a arrotar com a mão em frente da boca, para não se notar muito.
Verifico com alguma tristeza que quase sempre o tamanho dos arrotadores é inversamente proporcional à intensidade dos seus arrotos, o que quer dizer que a dimensão do estômago não tem nada a ver com a quantidade de ar que se expele inútil e ruidosamente.
Por vezes sinto uma enorme tentação, que chega a ser uma irresistível vontade, de trocar isto por miúdos mas, no momento de o fazer, só me vêm à lembrança uns tantos graúdos que me bloqueiam completamente o pensamento.
Fica-me aquela imagem de que esses graúdos não deviam ser pelintras, logo, não deviam arrotar para que os considerem lordes, pois sabem que pertencem a uma nobreza desacreditada e cheia de calotes, que reclamam o direito a que seja a gente miúda a pagar os seus desvarios de encher a barriga até ficar inchada.
Toda a gente sabe que, quando as barrigas incham demais, anda por ali muito ar, às vezes condicionado, outras vezes muito mal acondicionado, com origens digestivas muito diversificadas, caso da política, caso do dinheiro, ou casos gerados por uma coisa e pela outra, que acabam por provocar derivações com muitos gases.
Aos lordes sugeria que tentassem arrotar, se forem capaz, para que desinchem ao menos um pouco, como alívio indispensável, para que não corram o risco de vir aquele inesperado ar que lhes deu. Neste caso, que pode vir a dar-lhes.
Aos pelintras que se julgam lordes, nem sequer sugiro nada, porque ninguém vai dar importância aos seus arrotos. Com licença. Desculpem lá.