21 Jun, 2009
Oh lua que vais tão alta!...
Podia começar assim um belo poema sobre diversos temas, incluindo o tão sublimado amor de que o nosso querido satélite tantas vezes é inspirador.
Mas essa evocação não é inédita, pois a sabedoria popular até lhe acrescentou o gracioso complemento – redonda que nem um tamanco... É caso para dizer que a lua anda muito mal calçada, ou então, os olhos daqueles que a vêem, andam mais obtusos que um triângulo tão chato como os comentadores políticos.
Pois, eu sei, não são todos iguais, mas também há quem diga que sim. Adiante, que isso já nem merece discussão e a lua, que nem sempre é redonda, põe muitas cabeças à roda, mesmo sem lhes acenar com o tamanco.
Aliás, bem sabemos como a lua é serena e pacífica, em contraste com a violência crescente que ela observa lá do alto caminho em que se movimenta. Dada a sua posição estratégica, bem podia ser nomeada coordenadora geral da luta contra as vítimas dos malfeitores que vivem cá em baixo, em perfeita paz de espírito com quem devia dar-lhes perseguição.
Não tenho dúvidas que o termo ‘coordenadora’ desencadeia desde logo um monte de suspeições, por causa da concentração de poderes. A lua seria desde logo acusada de poder favorecer os que nascem com uma determinada parte do corpo virada para ela.
Ora isso não passaria de uma aberração, pois é sabido que a lua não tem inclinações dessas e, mesmo que as tivesse, não podia vir lá de cima aos trambolhões, sabendo que depois teria muita dificuldade em voltar ao seu percurso celeste, correndo o risco de ficar por cá e passar definitivamente a andar na lua.
Sim, porque descer é fácil, mas subir no meio de tanta algazarra, de tantos desconfiados, não levanta o moral, nem o nível de ascensão. Os desconfiados são autênticas lapas que se agarram ao que podem para sobreviver.
Pobre lua, se eles lhe deitassem a mão, com aquela obsessão de lhe tirarem o brilho a qualquer preço, querendo ser eles, os desconfiados, a fazer o papel do sol, tentando que ela retransmitisse apenas os raios e os coriscos que eles lançariam sobre ela. Seria uma guerra permanente entre o romantismo do luar e o ciúme da conquista do poder da luz, supremo desejo de qualquer desconfiado da própria sombra, tão escura como as noites de lua nova, em que apenas as estrelas lá de cima parecem ganhar mais brilho.
Sim, porque entre as estrelas do céu e a lua, há um pacto de colaboração extremamente importante para todos nós. Enquanto a lua nos ilumina, as estrelas descansam e recarregam baterias. Quando a lua passa a sua luminosidade para mínimos, ou se apaga periodicamente, as suas vizinhas estrelas abrem os olhos e enchem a noite de uma luz amena e difusa semelhante à média luz de um enorme salão de baile.
Daí que cá em baixo, haja sempre salões cheios de estrelas, normalmente sem brilho, mas extremamente sorridentes, tentando irradiar simpatias que nunca tiveram o condão de possuir, ou lançando chispas de pretensa graça, que não disfarçam ódios e raivas que julgam encobertas, quando já estão fartas de roer as unhas de inveja, por não serem capazes de seduzir uma lua que lhes cerca o pensamento com a luz do êxito que eles tanto ambicionam roubar.
É caso para dizer: oh lua que vais tão alta!... Pois, tão alta e com tanto poder... E eles, os desconfiados, desconfiam de tudo e de todos, mas não desconfiam que o poder raramente vai para quem o não merece. E, quando vai, quantas são as vezes em que acaba mal, embora com alguma demora, é certo.
Esquecem os desconfiados que não há poder ilimitado. Bem podem berrar por uma parte do poder dos outros, por causa das temíveis, para eles, concentrações, querendo fazer crer que tudo e todos são perigosos, se eles, os desconfiados, não estiverem nos processos de decisão.
Esquecem que são estrelas cadentes num universo muito complexo, onde nem a lua nem as estrelas, se podem vangloriar de dar luz ao mundo. As estrelas têm a sua própria luz, mas é parcialmente abafada pela luz da lua, quando na plenitude das suas capacidades.
Por sua vez, estrelas e lua estão debaixo da alçada do sol, aquelas porque não vencem a luta com o dia, esta porque nunca se deixaria ver sem a ajuda do sol que a alimenta durante o dia e a noite.
Cá em baixo passa-se o mesmo, por muito que os desconfiados inventem receios sobre a concentração de poderes. Quem usar mal o poder que obteve, estará sempre sujeito às regras que lhe são impostas por quem lho entregou, sejam os outros que estão acima, seja o outro que está ainda mais acima.
Em última instância, ainda há a outra, a consciência, antes do julgamento definitivo.