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afonsonunes

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07 Out, 2009

Telhudos

 

Sinceramente pensava que esta palavra já não tinha cabimento neste século de progresso e ideias globalizantes. Porque um telhudo no meio de gente conversadora e aberta, como é a desta geração, só pode manter-se de boca fechada para não descarrilar, e mostrar toda a sua tendência para a telha mental.
Realmente, é mais fácil encontrar ainda um ou outro telhudo, que encontrar esta palavra na variada escrita, ou sonante oralidade, que se nos depara diariamente. Isto parece-me querer dizer que quem escreve ou fala, pensa que já não existem espécimes destes. A verdade é que há e, imagine-se, também vai aparecendo uma ou outra telhuda.
Agora, imagine-se ainda que, por circunstâncias que nem o destino prevê, se junta um telhudo e uma telhuda a falar a mesma linguagem, a mostrar a mesma telha, a empurrar-nos para o canto da casa que já está destelhado, por obra dos vendavais passados, e onde chove como na rua.
Digo redondamente que não quero viver numa casa sem telhado e, ainda por cima, sujeito a encontrar nela, alguém que tenha telha na cabeça e, por isso, pensa que dispensa as telhas cerâmicas lá de cima.  
O grande problema do telhudo não é propriamente o seu estado de espírito, normalmente a tender para o sorumbático, logo, mais ou menos inofensivo. O pior é quando lhe dá para soltar a língua, vendo um inimigo em cada fantasma que a sua ‘telhice’ inventa.
E então lá vem a sua paternal ambição de ensinar aquilo que, notoriamente, não sabe. Ao pedir transparência na vida política, o telhudo esquece que deve começar por dar o exemplo, tanto no que diz, como no que deve exigir para que os seus co-habitantes não borrem a pintura interior e exterior, bem como não escavaquem os telhados de vidro da sua habitação.
Qualquer telhudo ou qualquer telhuda que se preze, na minha modesta opinião, não devia estar sempre a recomendar aos outros que tenha aquilo que ele ou ela não consegue ter, ou mandar ter, nos seus domínios. Essa regra é muito importante, para que não contagiem os desprevenidos com as suas moléstias.
Como eu gosto de ouvir falar de ética na política. É como se ouvisse falar de música fúnebre no Carnaval de Torres, ou de sardinha assada nos fornos da Bairrada. É como se ouvisse falar de desportivismo a uma claque de um clube que eu cá sei. Mas, tudo isto é segredo, porque ainda ninguém mais sabe.  
Mas, a D. Ética, coitada, não tem outro remédio senão ser assediada a todo o momento, ao mais alto nível, quando se trata de telhudos ou telhudas que olham para a populaça e só vêem uma espécie de fantasmas de si próprios, sorumbáticos e mal encarados, como se a vida tivesse que ser como eles a vivem.
Francamente, a minha esperança é que eu próprio não fique telhudo. Penso que não, porque ainda sou capaz de soltar uma boa gargalhada, depois de uma boa conversa.