18 Out, 2009
Toda a gente confia
Bom, devo confessar que já estou habituado a ouvir muita prosápia em determinada comunicação social, coisa que já não me impressiona minimamente. Contudo, não deixo de sorrir interiormente, quando a coisa toca as raias do ridículo.
Quando digo prosápia, podia dizer basófia, que lá vai dar a isso que me faz sentir num país onde ninguém se ofende com determinadas alarvidades que apenas sensibilizam aqueles que já não sabem o que é sensibilidade. E, já agora, a talhe de foice, também já não sabem o que é bom senso.
Mas, vamos lá à tal prosápia que apenas serve de exemplo a uma prática comum a outros sítios e a outras gentes. Hoje mesmo, no programa televisivo ‘Cinco décadas de rostos que apresentaram o telejornal’, ouvi o actual director de programas afirmar que a informação ali divulgada merece a confiança das pessoas.
Não posso já precisar bem as palavras ditas, mas o sentido não fugia muito de que toda a gente confiava naquilo que ali se dizia em termos informativos. Seja lá como for, tive vontade de levantar o braço e dizer: alto lá… Eu não confio. Como não ganhava nada com isso, fiquei quietinho e caladinho, como se não fosse nada comigo.
Depois, pensei que é assim que anda uma boa parte do país, quietinho e caladinho, perante outra boa parte do país que parte tudo em que toca, ou faz uma algazarra dos diabos, só para não nos deixar ouvir o que não lhes interessa a eles.
No entanto, confesso que sempre aprendi alguma coisa ao espreitar uma parte desse programa, ou não tivesse ele antiguidades para todos os gostos e feitios. Muitas caras de outros tempos que me trouxeram à memória muitas recordações, umas boas, outras más, outras ainda que não deram para rir nem para chorar’.
Manuel Caetano, recordou a maneira como teve de dar uma notícia relativa a um encontro entre o Presidente da República e o Primeiro-Ministro, no tempo do estado novo. Uma mosca pousou-lhe numa pálpebra, o que o obrigou a piscar o olho durante essa leitura frente às câmaras. Calcula-se o embaraço do homem, temendo as consequências do incidente.
Quando nos mostraram a maneira como alguns desses profissionais fechavam o telejornal, inevitavelmente, apareceu o actual pivot, José Rodrigues dos Santos, mostrando como faz as despedidas, um homem do pisca-pisca, nos tempos de hoje. Diz boa-noite e pisca o olho. Para mim, não é, com certeza.
Mas, o que eu não sabia, e fiquei a saber hoje, é que o José, tal como Manuel de outrora, deve estar com a mosca. Assim, compreendo que toda a gente goste de um homem em dificuldades, mas que as supera com um olho divertido. É por isso que toda a gente confia nesta informação.