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afonsonunes

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Gatinhar é uma fase muito importante da vida de qualquer ser humano, pois representa o início do levantar o rabinho do chão e experimentar aquela sensação de começar a querer andar a quatro membros. Tudo o que se faça naquela idade é bonito de se ver.
Já na idade madura, as coisas passam-se de maneira muito diferente. Se acaso damos connosco a gatinhar, é triste prenúncio de que não estamos a andar, como era nossa obrigação. Há quem diga que, pior que gatinhar, só marcar passo, embora de pouco nos sirva a consolação do movimento de qualquer dessas modalidades.
Desde o fim da campanha eleitoral que anda muita gente a gatinhar em frente de quatro maduros que resolveram chamar-se gatos. Podiam ser gatinhos ou gatões, por analogia com as gatinhas brasileiras, que já passaram o testemunho às portuguesas, que miam menos, mas não lhes ficam atrás no gatinhar.
Os nossos gatos televisivos começaram por entusiasmar uma fase pós eleitoral chata, com a inovação de introduzirem num canal, um tipo de humor baseado numa certa diversidade de visados, distribuindo a piadética de um modo mais ou menos harmonioso, dando a ideia de um certo equilíbrio de imparcialidade política, equidistante de personagens e de partidos.
A coisa durou enquanto os convidados tiveram algo de novo que valesse a pena explorar mas, como tudo na vida, não demorou a cair-se na vulgaridade, com o aparecimento de convidados que já pouco ou nada tinham a ver com a problemática das eleições. Daí a cair-se na vulgaridade do humor a martelo, recorrendo sempre ao mesmo tema e às mesmas pessoas, como alimentação desse tipo de humor, que tanto pode ser fedorento como bafiento.
Se é verdade que houve algum sucesso com a presença dos líderes partidários imediatamente após as eleições, também é verdade que outras figuras de pouco relevo, algumas apagadas até no presente, foram contribuindo para que o gato mor tivesse que meter-se por caminhos já demasiado explorados, logo, a tender logicamente para o humor chato para caramba.
Esta deriva verificou-se, principalmente, nas primeiras partes de cada programa, antes das entrevistas, onde o governo e os governantes foram a fonte que deu a água que os entrevistados não podiam dar, mesmo que bem espremidos. Mas, as graças mil vezes repetidas acabam por não ter graça nenhuma.
Por mais que os humoristas se esforcem, é natural que não encontrem fora do poder, tanto material com a receptividade de quem o consome, como aquele que o poder lhes fornece. No entanto, o sucesso só se conserva, se houver renovação adequada desse material. Ora aí é que esteve o busílis da questão.
Outra condição essencial diz respeito à imparcialidade de quem quer fazer humor, perante os convidados e satirizados em geral, ainda que essa imparcialidade apenas exista na aparência, mas que deve ser tida em consideração, sob pena de dar a ideia de que se trata de um prolongamento da campanha eleitoral, onde a sardinha continua a ser puxada até ficar com as tripas de fora.
Finalmente, fica-me aquela sensação de que alguns dos políticos aceitam ir ali, numa atitude ‘desportiva’, recheada de muita vontade de ser popular, como se achassem muito bem, e até gostassem, de muitas bicadinhas que, ao fim e ao cabo, lhes doem que se farta. Mas, lá no fundo, não são capazes de dizer não, ao frete que se sujeitam a suportar.  
O Ricardo tem razão. O programa vai acabar porque já se viu que o assunto está esgotado.