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afonsonunes

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Espero que ninguém se sinta ofendido por pensar que venho aqui sugerir que toda a gente deve ter uma gamela como meio de se sustentar, até porque sei perfeitamente quem é que come da gamela e quem é que come com um pouco mais de dignidade, ou seja, da malguinha da sopa e do prato do segundo.
A nossa língua tem perigos que nos obrigam a constantes explicações sobre o que queremos dizer com determinadas palavras. Por isso, quando falo em gamela, sei que é uma vasilha redonda ou rectangular, onde se dá de comer a porcos e a outros animais. Como se depreende, há quem coma da gamela e há quem ponha a comida na gamela para outros encherem a malvada.
Esta história da gamela veio recentemente à baila, logo aproveitada por quem gosta muito de distorcer as coisas, mudando-as para a gamela que mais lhes convém. Aliás, estou mesmo convencido que quem distorce com propósitos menos limpos, ou tem, ou espera vir a ter à disposição, uma gamela bem recheada de acepipes muito mais apetitosos, que o vulgar conteúdo tradicional das gamelas mais simplórias.
Portanto, não é muito difícil concluir que, além dos devoradores de gamelas cheias, há os enchedores de gamelas que não têm dúvidas de que, pondo os porcos a comer delas, esperam, também eles, vir a receber uma boa gamelada de outros porcos maiores, aos quais a chicha de porco lhes dá uma vida que até parece limpa. 
O estado nunca encheu tantas gamelas como actualmente. Como é evidente, porque também nunca houve tanto porco a viver à custa do estado. Poderá parecer cruel este modo de encarar a situação actual, mas eu explico o que quero dizer, excluindo desde já, deste pensamento, todos aqueles que não têm mais nada que aquilo que o estado lhes dá.
A toda a hora se ouve falar de empresas, grandes, médias e pequenas, que não encontram, entre os mais de quinhentos mil desempregados, quem lhes vá viabilizar a laboração ou aumentar a respectiva produção. Bastante estranha esta situação, quando tanta gente se queixa do desemprego e se reclamam mais gamelas, sem olhar às que nunca deviam ter existido.
Quando vejo o dinheiro que anda ao redor da música de concertos de celebridades, em que não há nada que não esgote lotações atrás de lotações, não posso deixar de pensar no dinheiro que, inevitavelmente, vem de gamelas que o estado dá a porcos que não querem trabalhar e, ainda por cima, têm raiva a quem trabalha. Não é só o estado que tem culpa desta situação, pois a culpa não é menor daqueles que não se calam para que o estado dê tudo a todos.
Depois, insurgem-se contra a presença de estrangeiros porque tiram o trabalho aos nacionais que não querem trabalhar. Imagine-se o país sem estrangeiros, neste momento. Pobres dos portugueses que, por motivos sérios e reais, não podem mesmo trabalhar. Ou será que haverá alguém que pense que era capaz de obrigar os porcos saudáveis a trabalhar?
Mas, há outras gamelas que não permitem que muita coisa funcione minimamente. Sejam elas de origem patronal ou sindical, onde os egoísmos gananciosos determinam que a sofreguidão no ataque às gamelas individuais, ocasionem que muita comida transborde delas e se perca no meio das pocilgas imundas. 
Finalmente, ainda que houvesse muitas mais gamelas a transbordar para o caos da vigarice, há duas que não podem continuar assim, sob pena de nos afundarmos no mar da nossa desgraça, por muitos e muitos anos. Uma justiça sem porcos e sem gamelas, tal como gente que, à sombra disso, ponha a língua à deriva, e não só, em busca das melhores gamelas, por troca com as piores porcarias.