A CARTA SEM SELO
Dizem os Correios que todas as cartas são entregues aos seus destinatários, mesmo que os remetentes se tenham esquecido de pôr cuspo no selo. Multada e rejeitada, a carta acaba no refugo.
Muitos portugueses já gastaram muita tinta a escrever cartas aos políticos que nos desgovernam com simpatia, e aos que se esforçam, com toda a antipatia, por que nos desgovernem cada vez mais.
Nenhuns são pressionáveis, por mais que se ponha na carta, nem são impressionáveis, por mais selos que se percam. Ao menos, podiam ficar um pouquinho impressionados com o entusiasmo que suscitam.
Ninguém os demove de não se deixarem pressionar. Mas também ninguém os demove da permanente subserviência que praticam de bom grado. Dirão orgulhosos que não vale a pena gastar mais cuspo.
Até porque hoje em dia basta ter sensibilidade na ponta dos dedos para enviar mensagens. Sai muito mais barato que as cartas e os selos, além de não irem para o refugo. Mesmo que não sejam lidas.
Também começo a pensar que não vale a pena pôr mais na carta. Não consigo pressionar, nem tão pouco impressionar, aqueles que estão imunes ao meu esforço. Mas, serei tão teimoso quanto eles.